Pesquisadores da UFMS e Embrapa desenvolvem sistema de monitoramento remoto da temperatura de bovinos

Uma parceria entre pesquisadores da UFMS e da Embrapa Gado de Corte resultou no pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, com apoio da Agência de Inovação (Aginova) da UFMS, de um sistema embarcado com ultrabaixo consumo de energia para medição da temperatura de bovinos via LoRaWAN. O protocolo de comunicação é reconhecido como um padrão internacional para redes de longa distância de baixa potência.

“O depósito da patente de invenção é uma forma de garantir que resultados financeiros futuros retornem para as instituições que realizaram a pesquisa durante anos, no caso desse produto, a Faculdade de Computação (Facom) da UFMS e a Embrapa Gado de Corte. Sem a proteção da patente, o produto pode ser explorado financeiramente por alguém que não investiu nada na pesquisa, o que é injusto”, ressalta o professor da Facom Fábio Iaione.

“O sistema permitirá detectar remotamente a elevação da temperatura corporal (febre) dos bovinos, um sinal de infecções, como a febre aftosa, que pode causar prejuízos financeiros imensos. Com o sistema desenvolvido, as ações para conter a doença poderão ser tomadas antecipadamente, evitando epidemias. Isso é muito importante, principalmente quando o país se torna livre de febre aftosa sem vacinação”, explica Iaione. Segundo ele, o sistema foi fruto do trabalho de pesquisa de mestrado em Computação Aplicada pela UFMS desenvolvido pelo engenheiro de computação Arthur Lemos Nogueira Filho.

Participaram da pesquisa, ainda, o pesquisador da Embrapa Pedro Paulo Pires, considerado um dos pioneiros na pecuária de precisão no Brasil, e o analista em Tecnologia da Informação da Embrapa Quintino Izidio, que também coorientou o estudo de mestrado desenvolvido por Lemos.

Funcionamento

O sistema integra conhecimentos em zootecnia, pecuária, medicina veterinária, engenharia e computação. Ele é composto de uma unidade principal, um sensor de temperatura e uma base transceptora instalada com até 25 quilômetros de distância do local onde está o rebanho monitorado, cobrindo toda a área onde os animais circulam.

De acordo com Arthur, o sensor de temperatura é fixado no canal auditivo dos bois, por meio de um brinco. Ele explica que assim há uma fixação boa e não machuca o animal, o que privilegia o bem-estar e o manejo dos animais, contribuindo também para ampliar a rastreabilidade da carne e diminuir as chances de perdas durante o manejo.

“A temperatura do animal é medida periodicamente pelo sensor no brinco. Em seguida, os dados de geolocalização do animal e a temperatura são transmitidos via wireless, para o receptor localizado à distância, que está conectado à internet e reenvia os dados para um computador-servidor”, detalha Iaione.

Com as informações disponíveis, o produtor terá um sistema de alerta quando um animal apresentar febre, inflamações, estresse térmico e outras condições perigosas. “É uma ferramenta de monitoramento com potencial de impacto, pois a medição manual da temperatura corporal central de um mamífero de casco pode apresentar uma série de problemas, entre eles custo elevado e estresse animal”, reforça Pires. “Doenças como a febre aftosa se disseminam rapidamente entre os animais, principalmente, em regiões livres da doença, sem vacinação. Em outras situações, como o estresse térmico, há diminuição na produção de carne e leite, queda na qualidade dos alimentos produzidos e maior incidência de doenças nos animais”, lembra.

Parceria e expectativas

Segundo o pesquisador da Embrapa, se fossem empregados transponders de identificação por radiofrequência (RFID) dotada de sensores de temperatura, haveria a exigência de leitoras RFID espalhadas pela fazenda, o que oneraria os custos do monitoramento. Outra possibilidade, que são as câmeras termográficas, também não é eficiente pela influência do ambiente na medição. “Encontrar um instrumento ideal é um desafio, mas essa inovação tem gerado resultados bastante promissores”, complementa.

Apenas no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada, a parceria da Facom com a Embrapa já resultou em quase 50 dissertações concluídas no período de 15 anos e os trabalhos desenvolvidos são focados em soluções tecnológicas para a pecuária. “A parceria Universidade – instituições e empresas é essencial para alavancar a pesquisa e a inovação no país, e o Mestrado Profissional em Computação Aplicada da Facom é um meio para induzir essas parcerias. O sistema patenteado agora é mais um, dentre outros, em parceria com a Embrapa e com outras instituições e empresas. Cabe ressaltar também a importância da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul, cujos recursos permitirão montar um lote piloto do sistema”, finaliza Fabio.

Processo para pedido de patentes

Saiba mais sobre o processo de comunicação de invenções e pedidos de patentes acessando a página da Aginova da UFMS, na aba Inovação.

Texto: Vanessa Amin, com informações de Dalízia Aguiar/Embrapa Gado de Corte

Fotos: Acervo dos pesquisadores