Catadores de MS são capacitados para transformar lixo eletrônico em fonte de renda

De 8 a 10 de abril, sete cooperativas de catadores e duas Organizações Não-Governamentais de Mato Grosso do Sul participaram de capacitação voltada à coleta, desmontagem e destinação correta de resíduos eletroeletrônicos. A formação foi realizada no Mercado Escola da UFMS, na Cidade Universitária, como parte do projeto ReciclaON – Educação para Descarte de Resíduos Eletroeletrônicos. 

Campo Grande foi a quarta capital a receber o projeto, com apoio da Universidade e da Prefeitura Municipal. “Foi uma troca brilhante, um aprendizado mútuo. Precisamos dessas pessoas para construirmos juntos um planeta mais sustentável, mais humano, com menos desperdício e mais felicidade”, destacou a pró-reitora de Cidadania e Sustentabilidade (Procids), Vivina Sol.

A parceria da UFMS com o Instituto Gea teve início em 2023. De acordo com o diretor de Sustentabilidade da Procids, Leonardo Chaves, a Universidade foi escolhida como sede do curso pela sua vocação para promover transformação social, gerando renda e qualidade de vida a partir do conhecimento adquirido. “A ideia era oferecer aos catadores uma vivência dentro da Universidade. Eles tiveram acesso ao Restaurante Universitário, ao Mercado Escola e a informações sobre como ingressar em cursos de graduação”, explicou.

A professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia e coordenadora do Mercado Escola, Aline Gomes, também enfatizou o impacto da ação. “Foi muito significativo recebê-los aqui. O projeto dialoga diretamente com os pilares do nosso espaço: sustentabilidade e geração de renda. Ver o encantamento deles com a Universidade e o sentimento de acolhimento mostra que estamos no caminho certo”, ressaltou.

Projeto

Além de realizar cursos de capacitação, o ReciclaON tem como objetivo a estruturação e o acompanhamento de duas cooperativas para o trabalho com os resíduos eletroeletrônicos, bem como promover parcerias com empresas, entidades gestoras e instituições públicas para apoio e fortalecimento dessas organizações. Para garantir a participação efetiva dos catadores, o projeto ofereceu apoio completo, com auxílio financeiro, transporte e alimentação.

O professor responsável pelo curso e integrante do Instituto Gea, Augusto Azevedo, explica que a formação completa está dividida em três módulos: desmontagem segura dos resíduos, com atenção especial à saúde dos catadores e ao cuidado com o meio ambiente; gestão financeira para melhor administração dos recursos gerados pelas cooperativas; e conhecimentos sobre remanufatura e reaproveitamento de equipamentos. “Campo Grande é a quarta capital que a gente está aplicando o curso e ele vai impactar positivamente, primeiro na geração de renda para as cooperativas, porque o resíduo eletrônico tem um valor agregado maior; segundo ponto, melhorar a condição de trabalho do catador em relação ao resíduo eletroeletrônico, porque eles têm metais pesados e outros contaminantes; e em terceiro, vai melhorar a questão ambiental do município, ou seja, a gente vai ter menos resíduos eletroeletrônicos descartados de forma errada”, elencou.

“A Universidade, além de ser uma parceira do curso, está de portas abertas para a comunidade. É uma oportunidade que esses catadores têm de estar no ambiente de ensino e, consequentemente, aprender sobre o curso. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul foi fundamental nesse processo, trazendo para dentro da sua estrutura toda essa população de catadores e a gente conseguindo compartilhar conhecimento com eles, mostrando que a Universidade é um espaço de compartilhar conhecimentos específicos, técnicos, científicos e, até mesmo, de práticas do dia a dia”, ressaltou Azevedo.

Gilda Macedo, integrante de cooperativa de Campo Grande, relata que a experiência mudou sua forma de enxergar o próprio trabalho. “Aprendemos como reaproveitar corretamente os componentes dos eletrônicos, sem riscos de contaminação por metais pesados. Isso é algo que vamos aplicar e repassar para os colegas que ainda fazem o manuseio de forma incorreta”, disse. Para ela, o conhecimento adquirido fortalece a cooperativa e abre novas possibilidades. “Estar na UFMS foi algo novo para muitos de nós. Muitos catadores nunca tinham entrado em uma Universidade. Essa parceria abriu portas, ampliou nossos horizontes e nos mostrou que há cursos e oportunidades que podemos acessar e também compartilhar com os mais jovens”, concluiu.

O curso será aplicado em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal e foi idealizado pelo Instituto Gea, com apoio financeiro do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal e cooperação técnica do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática e do Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo.

Texto: Lúcia Santos

Fotos: Reprodução TV UFMS e Dides/Procids