SBPC Afro e Indígena: representatividade de pessoas negras na ciência brasileira é debatida

A mesa-redonda “O negro na ciência brasileira”, realizada na SBPC Afro e Indígena, discutiu a baixa presença de pessoas negras nas universidades do país, as consequências deste fato e as dificuldades para aumentar o número de pesquisadores negros.

“Essa é uma questão candente na sociedade brasileira, essa falta de representatividade dos negros numa atividade que é tão importante para o desenvolvimento científico e tecnológico do país”, afirma o coordenador da mesa, Oswaldo Luiz Alves, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vice-presidente regional da Academia Brasileira de Ciências.

O pesquisador Henrique Antunes Cunha Júnior, da Universidade Federal do Ceará (UFC), apresentou uma lista de negros e negras que obtiveram sucesso e atuações importantes na ciência brasileira, e debateu a importância de se investir na formação de profissionais negros. “São 5 mil pesquisadores negros para um total de 192 mil pesquisadores no Brasil. O número hoje é muito pequeno, nossa representatividade é pequena e isso precisa ter uma política especifica no sentido de formações”.

Representando a UFMS, a pesquisadora Eugênia Portela de Siqueira Marques trouxe também, além do recorte racial, o recorte de gênero para a discussão. “Quando a gente pensa em cientistas, a imagem que temos na nossa mente e nos livros didáticos é de um homem branco, raramente de uma mulher e muito menos uma mulher negra”.

De acordo com Henrique, é das pesquisas realizadas nas universidades que saem estratégias e ideias para a concretização de políticas púbicas, logo, é necessário que haja mais negros nestes espaços, para que a população negra do país seja contemplada, pois a tendência é que brancos não pesquisem sobre temáticas raciais. “Quem não tem pesquisa no Brasil, não tem política pública. É uma questão de sobrevivência a formação de pesquisadores negros”, declara.

Segundo Oswaldo, a esperança é de que abrindo espaços para estes debates, seja possível reduzir estas disparidades. “Não dá mais para deixar de falar disso, essa mesa-redonda é uma oportunidade bastante interessante e esperamos que as pessoas que vieram para cá sejam capazes de perceber que juntos podemos mudar esse panorama que de certa forma nos oprime há muitos e muitos anos”.

Texto: Leticia Bueno