Plano de Atenção aos Migrantes Internacionais é entregue ao ministro Wellington Dias

Pesquisadores do Observatório Fronteiriço das Migrações Internacionais (Migrafon) do Câmpus da UFMS do Pantanal (CPan) participaram da cerimônia de assinatura de acordo de cooperação técnica entre a Prefeitura Municipal de Corumbá, a Defensoria Pública da União e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Durante o evento, foi entregue ao ministro Wellington Dias o Plano Emergencial de Atenção aos Migrantes Internacionais, elaborado pelos professores Marco Aurélio de Oliveira e Patrícia Tavano, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania.

O ministro Wellington Dias destacou a importância de todo o país preparado para os atendimentos aos migrantes e refugiados e para o exercício da diplomacia. “O Brasil é um país que sempre quer receber bem as pessoas. Precisamos garantir que, nesse processo de receber os migrantes e refugiados, exista um acolhimento humanitário, com assistentes sociais, psicólogos e as mais variadas áreas que precisamos para estes atendimentos”, defendeu.

O vice-governador de Mato Grosso do Sul, José Carlos Barbosa, falou sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que deixam sua pátria e vêm para um país desconhecido. “Não estamos discutindo construção de muros, estamos fazendo o contrário, o que representa a alma e a generosidade do acolhimento do povo brasileiro”, pontuou.

O prefeito de Corumbá, Gabriel de Oliveira, lembrou que a cidade conta com uma história complexa e desafiadora com a temática. “Há um fluxo migratório que apresenta questões altamente complexas. São muitas nacionalidades atendidas em nossos equipamentos, principalmente na área de assistência social”, explicou.

“A partir de 2017, Corumbá passou a receber haitianos, protagonistas dos principais fluxos migratórios recentes em direção ao Brasil. A assistência social foi impactada com a presença maciça dos migrantes internacionais e, em 2020, foi implantada a Casa do Migrante. Nesse mesmo ano, começaram a chegar os venezuelanos, que, desde então, se destacam pelo volume e pela presença de mulheres e crianças — embora a Casa tenha acolhido também migrantes de mais de 20 países. Desde então, a Casa do Migrante tem sido um ponto de apoio a migrantes que utilizam as fronteiras para entrar ou sair do território nacional”, enfatizou a vice-prefeita e secretária municipal de Assistência Social e Cidadania, Bia Cavassa.

Plano de ação

O professor do CPan, Marco Aurélio de Oliveira, esteve na cerimônia e comentou sobre os principais pontos abordados no Plano Emergencial de Atenção aos Migrantes Internacionais, como a realidade migratória de Corumbá e a condição fronteiriça do município. “Estes dois aspectos são centrais e orientam todas as ações previstas, como as formações dos servidores da Casa do Migrante”, destacou. O documento também propõe melhorias nos serviços essenciais, como a distribuição de recursos para higiene, alimentação e alojamento, de forma a atender a quantidade prevista de migrantes acolhidos na cidade.

O principal objetivo da iniciativa é proporcionar acolhimento adequado, que inclui alojamento provisório, alimentação, espaço lúdico para as crianças e apoio psicossocial. A meta da Casa do Migrante é atender até 2,4 mil pessoas em situação de vulnerabilidade, oferecendo também orientações e encaminhamentos para serviços e benefícios. “[O plano pretende atender às crianças migrantes] através de criação de espaço lúdico, onde as crianças desenvolverão atividades que lhes permitam interações entre si, e que permita seus responsáveis sentir segurança no trato dado a elas, inclusive deixando-as na Casa enquanto saem em busca recursos”, explicou o professor do CPan.

O plano ainda busca capacitar os servidores para oferecer uma escuta qualificada e promover bem-estar para os acolhidos, por meio de treinamentos sobre as especificidades das migrações internacionais e a realidade da fronteira. “A partir das formações dos servidores a respeito das tipificações legais das migrações internacionais, da compreensão da realidade fronteiriça, da história e percurso que cada um deles experimentou até chegar a Corumbá, é esperada sensível melhora no acolhimento prestado aos migrantes e na segurança no desempenho por parte dos servidores, inclusive no manejo dos dados coletados a partir dos registros efetivados na Casa”, pontuou Oliveira.

A professora Patrícia Tavano reforçou os benefícios da projeto idealizado pela UFMS. “Inicialmente, o Plano prevê um aporte financeiro, o que imediatamente se refletirá em melhorias na qualidade da oferta dos serviços de alojamento, incluindo alimentação, higiene e dormitórios. Também é esperada melhora no atendimento dos servidores e nos potenciais de acolhimento, especialmente no que diz respeito à escuta qualificada e no atendimento diferenciado às crianças ali acolhidas”, disse.

A execução das atividades previstas, o acompanhamento e a avaliação das etapas depende da aprovação do plano emergencial pelo MDS.

Migrafon

O Observatório surgiu em 2021 a partir da articulação do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços da UFMS com pesquisadores da Universidade Federal da Grande Dourados e da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de observar dinâmicas e especificidades referentes à migração internacional em fronteira, analisando dados e construindo propostas de atuações políticas e sociais junto às sociedades fronteiriças.

O grupo está realizando projetos atualmente em Corumbá e em Foz do Iguaçu, com possibilidade de expansão das atividades de ensino, pesquisa e extensão para outras cidades fronteiriças. “O objetivo principal deste observatório é conhecer e analisar as transformações nos processos migratórios internacionais em espaço fronteiriço, considerando as diversas tipificações migratórias. Buscando aprofundar o conhecimento teórico, metodológico e empírico a respeito das configurações e das especificidades que os processos migratórios internacionais produzem nos espaços fronteiriços, temos na junção das categorias fronteira e migração internacional nosso principal conteúdo conceitual, dada, principalmente, pelas singularidades que esse espaço possui e pelos diversos desdobramentos que esse fluxo produz”, destacou a professora Patrícia.

Texto: Lúcia Santos, com informações da Assessoria de Comunicação do MDS e da Prefeitura de Corumbá

Fotos: Arquivo dos pesquisadores