Pesquisadores analisam identidade nacional em obras de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda

Há aproximadamente um ano professores e alunos do curso de História do câmpus de Nova Andradina (CPNA) estudam as obras “Casa Grande & Senzala” e “Raízes do Brasil”. O objetivo é saber como os autores construíram uma determinada concepção de identidade nacional a partir dos povos formadores da sociedade brasileira, a saber, os indígenas, africanos e portugueses.

O projeto de pesquisa intitulado “Narrativas da Nação: uma análise sobre a identidade nacional na obra de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda” é coordenado pelo professor Ricardo Oliveira da Silva e tem previsão de conclusão para abril de 2017.

O projeto “Narrativas da Nação” foi um desdobramento de uma discussão realizada com os alunos na disciplina Historiografia Brasileira, ministrada no segundo semestre letivo de 2015. “Apresentei como proposta analisar as principais obras que marcaram a escrita da história no Brasil desde os textos produzidos pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado em 1838, passando pelas obras de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior dos anos de 1930/1940 e chegando até os livros de Nicolau Sevcenko e José Murilo de Carvalho no final do século XX. Obras que se tornaram seminais na maneira como compreendemos nosso processo de formação histórica e o que nos define e nos diferencia enquanto sociedade em relação a outros povos”, elucida o professor.

Equipe

A partir das discussões o projeto de pesquisa foi criado e desde abril de 2016 o grupo realiza encontros mensais para o aprofundamento do estudo dos livros. Além do coordenador, participam do projeto dois outros professores do curso: Fábio da Silva Sousa e Rejane Aparecida Rodrigues Candado; e dez acadêmicos de diversos semestres: Francielle Fernanda de Sá, Gemima Nunes Paulista, Geovana Alves de Andrade,Juliana Gomes Castelhano Marques, Lidiana Gonçalves Godoy Zanati, Lucieni de Souza Ruas, Maria de Fatima Lourenço Rodrigues, Mariana Gomes da Silva, Paula Renata Araújo Costa e Rafael Gomes Cartaxo.

Resultados

Como desfechos da pesquisa, o coordenador conta que os membros do projeto já constataram que “Casa Grande & Senzala” se tornou uma obra singular em relação às interpretações feitas sobre o País pela intelectualidade do início do século XX. Ele explica que até então, mediante as teorias raciais europeias, as elites brasileiras tinham uma visão muito negativa sobre o Brasil e o futuro da nação ao identificarem que os problemas existentes em nossa sociedade seriam frutos da histórica miscigenação dos portugueses com os povos indígenas e africanos, considerados inferiores.

“Em ‘Casa Grande & Senzala’ Gilberto Freyre priorizou os elementos culturais e não apenas étnicos na formação da sociedade brasileira. Nesse sentido a obra se destacou por trazer a tese de que a miscigenação entre diversos povos a partir da iniciativa dos portugueses foi um elemento fecundo que não apenas permitiu o sucesso da colonização portuguesa no Brasil, mas também criou uma sociedade rica do ponto de vista étnico e das tradições culturais. Uma sociedade híbrida onde a diferença (brancos, negros, indígenas e mestiços) conviveria lado a lado. Um dos desdobramentos dessa leitura de Gilberto Freyre foi a ideia da existência de uma ‘democracia racial’ no Brasil sem discriminação e preconceitos acentuados. Posteriormente essa ideia foi muito criticada por uma nova geração de intelectuais como Octavio Ianni, Florestan Fernandes e Carlos Guilherme Mota”, expõe Ricardo.

Já sobre a obra “Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda, que ainda está em fase de análise, o professor explica que já é possível perceber um olhar mais crítico em relação ao processo de formação histórica da sociedade brasileira e em particular um olhar mais crítico em relação ao português, isso mediante o uso de aportes do pensamento de Max Weber, como a ideia de tipos-ideais. “Nos primeiros capítulos é possível notar o entendimento de que o português é um povo que foi constituído pela cultura da personalidade, pela valorização do indivíduo e do espírito aventureiro, com descaso para formas de organização social e institucional mais sólidas e perenes. E isso seria uma marca muito forte herdada ao brasileiro e a chave para a compreensão de diversos problemas sociais, políticos e econômicos de nosso país”, afirma.

O professor lembra que o grupo de pesquisa ainda precisa finalizar a leitura dessa obra para ter uma noção mais completa sobre essa identidade do ser brasileiro em “Raízes do Brasil” e que um relatório final deve ser elaborado em breve com todas as conclusões dos debates e discussões acerca dos dois livros.