Memorial Glauce Rocha e exposição Itinerâncias abrem as comemorações dos 46 anos de Federal

Com uma semana repleta de comemorações, a UFMS celebra 46 anos de Federal no dia 5 de julho. A programação do aniversário teve início na segunda-feira, 30, às 17h, com a abertura do Memorial Glauce Rocha e da exposição Itinerâncias, no Teatro Glauce Rocha.

Para a reitora Camila Ítavo, a abertura do memorial foi um momento muito especial em que a Universidade fez reverência à artista Glauce Rocha que empresta seu nome ao teatro. “Hoje a gente conhece mais de perto a força, a história, a vida, a garra dessa artista. Imagina para um mulher há 70 anos, sendo visionária e reconhecida pelo seu belíssimo trabalho. A gente se emociona porque é uma atriz da nossa terra e hoje a gente faz essa reverência, essa homenagem à ela”, enfatizou.

“É também esse momento de grande efervescência cultural na nossa Universidade para que a gente circule o acervo para todos os municípios em que a UFMS se faz presente. Aqui fica um grande convite para que todos participem, aproveitem essa oportunidade, para que a comunidade esteja conosco, para que a sociedade nos visite e aproveite cada recanto, cada espeço que a UFMS prepara com muito carinho para levar a arte e a cultura para todos os lugares”, complementou Camila.

“Como é lindo reconhecer essa atriz maravilhosa que foi a Glauce Rocha, nesse teatro que leva o seu nome, que é o melhor lugar para a gente poder se encontrar. Quantas coisas nós fazemos aqui, artísticas, mas também outras apresentações importantes da nossa capital, e por que não dizer do nosso Estado, acontecem aqui no teatro. Nada melhor do que ter um memorial à essa atriz tão importante que viveu aqui em nosso Estado”, acrescentou o vice-reitor Albert Schiaveto.

A pró-reitora de Extensão, Cultura e Esporte, Lia Brambilla, explicou que a exposição Itinerâncias recebe esse nome por percorrer todos os dez câmpus da Universidade, com intuito de atingir o maior número de pessoas. “Nós estamos pegando um grande acervo, que a maioria das pessoas não sabe que temos, um acervo dos primeiros pintores, dos primeiros artistas que ditaram a cultura de Mato Grosso do Sul, criaram o movimento Guaicuru. Nós temos aqui hoje o Jonir Figueiredo que está aqui presente; o Adilson Schieffer, que foi servidor dessa Universidade; nós temos aqui o professor Darwin; Humberto Espíndola e vários outros que fizeram parte, que criaram essa cultura em Mato Grosso do Sul”, afirmou.

Para a diretora de Cultura, Arte e Popularização da Ciência da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Rozana Valentim, o memorial Glauce Rocha representa uma conquista para a Instituição. “Ter um memorial é poder contar um pouco dessa história, dessa artista mulher que teve vários desafios e foi mostrando para a gente como viver de arte, como produzir arte e como ser também muito contestadora. É a função de todo artista, além de narrar as histórias, é também contestar, é criticar, é formular proposições, é chamar as pessoas para pensar no tempo em que vivem. A Glauce Rocha fez isso com muito impacto, pensou no tempo que viveu e deixou um legado para gente continuar pensando nessas representações tanto da mulher quanto da artista”, explicou.

Rozana também reforçou que a ideia da exposição é movimentar e dar visibilidade para o acervo da Universidade. “Ter essa movimentação cultural e artística na Universidade é fundamental para que os nossos jovens, para que a nossa comunidade se reconheça enquanto como pessoa, saiba os nossos valores, discuta isso, traz para a pauta tudo o que está acontecendo na nossa sociedade, tanto aquelas questões positivas que a gente encontra como aquelas outras que a gente precisam de uma atenção especial para a gente transformar. A função da cultura e da arte é pensar isso, é transformar todas as questões que a gente tem na nossa sociedade e sentir, viver, perceber que a gente tem um mundo sensível ao nosso redor”, esclareceu.

A exposição irá percorrer os câmpus até o fim de 2025. No dia 2 de agosto, chegará ao Câmpus da UFMS de Aquidauana e, no dia 13, ao Câmpus da UFMS do Pantanal. A partir de 24 de agosto, a comunidade universitária do Câmpus da UFMS de Coxim também poderá visitar a exposição. Em setembro, a mostra chega aos Câmpus da UFMS de Chapadão do Sul, no dia 4; Paranaíba, no dia 15; e Três Lagoas, no dia 26. Já em outubro, será a vez do Câmpus da UFMS de Nova Andradina, no dia 7, e de Naviraí, no dia 23. Encerrando a programação, o Câmpus da UFMS de Ponta Porã recebe a exposição no dia 3 de novembro.

Após a abertura do memorial e da exposição itinerante, a Orquestra Jovem Sesc MS apresentou uma homenagem aos 150 anos do compositor francês Maurice Ravel e ao compositor brasileiro Ernest Mahler, com regência do maestro Rafael Fontinele. Ainda no hall de entrada no teatro, os presentes puderam conferir a linha do tempo atualizada sobre a história da Universidade e tirar fotos em uma cabine digital dos 46 anos de Federal.

Memorial e exposição

Ainda como parte da Universidade Estadual de Mato Grosso, no ano de 1971, foi inaugurado o Teatro Glauce Rocha e seu nome é uma homenagem póstuma à atriz campo-grandense, que faleceu no mesmo ano. Ela destacou-se como uma das grandes atrizes do teatro e do cinema brasileiro, tendo atuado em filmes como Os Cafajestes (1962), 5x Favela (1962) e Terra em Transe (1967). Décadas depois, o memorial apresenta a vida e a carreira da atriz, com fotografias, livros, cartazes de peças, entre outros materiais. Um desses elementos é o curta-metragem Jardim de Pedra- Vida e Morte de Glauce Rocha, desenvolvido pela egressa do curso de Jornalismo da Faalc Daphyne Schiffer e por Rodrigo Rezende, com investimentos do Ministério da Cultura, por meio da Lei Paulo Gustavo, e da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Daphyne contou que é uma honra expor o curta-metragem. “Eu sou egressa do curso de Jornalismo da UFMS e o trabalho de fazer esse filme da Glauce começou como o meu trabalho de conclusão de curso do Jornalismo. Eu estava procurando um tema que me movesse, eu queria falar sobre uma mulher forte e eu olhei para o teatro Glauce Rocha. Comecei a perguntar para amigos meus quem era Glauce Rocha e ninguém soube me responder, isso está até no começo do filme”, pontuou. “Comecei a fazer a pesquisa e me apaixonei perdidamente pela Glauce. Ela não é só uma grande atriz, não foi só uma grande atriz, mas também uma grande mulher que lutava por causas, pelos Direitos Humanos, pelos artistas, pelas mulheres”, reforçou.

Já a exposição Itinerâncias reúne o acervo da Universidade de obras originais de artistas regionais. Entre eles estão Adilson Schieffer, Brum Bucker, Darwin Longo de Oliveira, Humberto Espíndola, Ilton Silva, Jonir Figueiredo, Lelo Oliveira, Richard Perassi e Conceição Freitas.

“A Universidade é uma coisa grata para o Estado, para a cidade, para a cultura, para a nossa cultura, porque a Universidade significa, vamos dizer, um selo que fecha tudo isso. É o local do ensino, da preservação da memória, dos ensinamentos […], de uma identidade, tudo isso parte da Universidade. Eu vejo que hoje, já 50 anos que eu conheço dessa trajetória, a Universidade está muito bem como núcleo de arte”, avaliou Humberto Espíndola. “Quando eu revejo um quadro, sempre tenho que rever a mim mesmo e a minha própria obra, fico satisfeito que tenha esse quadro aqui. […] Acho que os artistas que estudaram aqui, que se formaram na Universidade, deveriam fazer uma doação de suas próprias obras, porque muitos artistas bons já saíram dessa Universidade”, falou o artista que expôs a obra Fase Nelore, de 1997.

Com 54 anos de carreira, Jonir Figueiredo relembrou sua história com a Universidade. “Eu comecei na arte no teatro. Eu e um amigo criamos o grupo teatral campo-grandense em 1973. […] Eu tenho uma ligação com o Glauce, não só com a grande atriz, mas com o espaço, no campo do teatro”, contou. “Esse trabalho é dos anos 80, quando eu denunciava a depredação e a matança indiscriminada dos jacarés no Pantanal e que era exportada, saía via Bolívia ou Paraguai clandestinamente. Um dos maiores compradores das peles era o Japão e a Alemanha. Eu fiz toda uma pesquisa, um estudo”, revelou em relação à obra Colete de Jacaré – Export Brasil, de 1989.

Um dos visitantes da exposição foi o estudante do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faalc Elias Brandão de Aquino. “É importantíssimo para gente, enquanto estudantes de Artes Visuais, entender quem são aqueles que construíram antes da gente as bases da nossa cultura dentro do Estado. Esse teatro é um equipamento cultural público muito rico, muito maravilhoso, com uma estrutura muito importante, e receber um acervo de obras de artistas tão importantes do Estado, entender as diversas identidades que vivem aqui no Mato Grosso do Sul é bem significativo”, ressaltou.

Texto: Thalia Zortéa e Lúcia Santos

Fotos: Mylena Rocha, Alíria Aristides, Thalia Zortéa e Raul Delvízio