Realizados no mês de maio, o 3º Encontro Internacional e o 5º Encontro Nacional do Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade (ATRIVM) reuniu estudantes e pesquisadores brasileiros e de outros países, em especial da Universidade do Minho (UMinho), de Portugal. Os eventos promoveram conferências, minicursos, workshops, apresentações científicas e visitas técnicas no Museu de Arqueologia e na Agência de Internacionalização da UFMS, fortalecendo as parcerias internacionais da Universidade.
“Foi uma oportunidade excepcional para a área de Humanas e a nossa comunidade da UFMS e Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), pois tivemos a chance de dialogar com pesquisadores renomados do Brasil e do exterior, estreitando laços que certamente impactarão o ensino, a pesquisa, a extensão, a inovação e o empreendedorismo em nossa instituição”, ressaltou o professor da Faculdade de Ciências Humanas (Fach), coordenador do ATRIVM e responsável pelos eventos, Carlos Campos.
“Os estudantes puderam ter acesso a outras vivências, refletindo sobre suas próprias realidades patrimoniais, arqueológicas e museológicas. O evento recebeu, em média, 190 participantes, lotando o auditório, além de contar com forte adesão aos minicursos e com a participação de apresentadores de banners de Portugal e do Brasil. Os pesquisadores que aqui estiveram demonstraram interesse em estabelecer reciprocidades científicas com suas instituições. Dessa forma, o evento deixará um legado de ações que já estão sendo encaminhadas”, destaca Campos. Segundo o professor, os eventos foram resultado de uma parceria entre o ATRIVM, os cursos de História da UFMS e Uems e o Programa de Pós-Graduação em Ensino de História da Uems.
Para Campos, um dos resultados positivos do evento foi a participação dos professores da UMinho José Gabriel Andrade, Fernanda Magalhães e Maria do Carmo Ribeiro. “Os professores Vagner Porto (USP) e Cláudio Carlan (Unifal) também manifestaram interesse nas trocas de técnicas e métodos que estamos desenvolvendo em Mato Grosso do Sul. As contribuições da museóloga Marjori Pacheco para o nosso acervo e no minicurso de conservação e restauro foram fabulosas. Também destaco o trabalho de Juliane Cardoso sobre Inteligência Artificial que atraiu diversos estudantes de outras unidades da UFMS. Afinal, um tema atual e que precisa ser debatido por uma especialista”, avalia.
Missão em Mato Grosso do Sul
“A parceria com a UMinho tem sido uma experiência muito importante em nosso percurso profissional. Afinal, de forma igualitária, ambas as instituições estão se beneficiando com a troca de conhecimento científico sobre técnicas e métodos arqueológicos. Nossos estudantes são colocados diante de situações-problema relacionadas a contextos de escavação arqueológica, práticas laboratoriais e tecnologias aplicadas à pesquisa, contribuindo significativamente para sua formação e inserção no mercado de trabalho. De igual maneira, atuamos em laboratório com o acervo arqueológico da UMinho, especificamente no campo da numismática, contribuindo com a instituição parceira na análise do seu material”, detalha o professor da Fach.
De acordo com ele, desde o início da parceria há dois anos, já foram realizadas várias ações concretas. “A participação do egresso e atual apoio técnico Luis Miguel Pereira Lacerda nas escavações preventivas e no curso de aperfeiçoamento em técnicas e métodos arqueológicos promovidos pela UMinho; o estágio de pós-doutorado sobre técnicas e métodos arqueológicos que realizei lá; a coorientação e participação em bancas de trabalhos de conclusão de curso e a participação mútua em livros, coletâneas e eventos”, diz. Campos ressalta que, no próximo mês, pesquisadores da UFMS participarão de uma formação continuada na universidade portuguesa. “Vale mencionar que o acordo foi renovado e a perspectiva é de formulação do Erasmus Mundus para auxiliar nos custos entre as partes envolvidas. A vinda dos professores foi fundamental para isso”.
“Essa visita aprofundou o olhar deles sobre o Mato Grosso do Sul e seu patrimônio cultural, o que já resultou em inúmeras conversas sobre a aplicação e adaptação de projetos que desenvolvemos em Braga para a nossa realidade local, com potencial para gerar modelos de musealização de espaços e contribuir com a construção de elementos turísticos. De igual forma, a presença dos professores fortaleceu os acordos de cooperação já existente e possibilitou a cedência de fragmentos cerâmicos para o acervo do ATRIVM. Atualmente, nossa Universidade é a primeira instituição do Centro-Oeste a receber esses materiais da Unidade de Arqueologia da UMinho, para fins de ensino e pesquisa”, destaca.
O professor José Gabriel avalia a participação dele como enriquecedora. “A programação foi muito bem estruturada, promovendo um diálogo interdisciplinar essencial entre áreas como comunicação, história, arqueologia e divulgação científica. No meu caso, abordei as interseções entre comunicação de ciência e ciências da comunicação, refletindo sobre os desafios atuais da mediação do conhecimento científico, sobretudo em contextos históricos e patrimoniais. Foi uma oportunidade de apresentar projetos desenvolvidos na Universidade do Minho que têm apostado na internacionalização e na colaboração entre áreas, e de discutir como a comunicação pode atuar como ponte entre o passado (através da arqueologia e da história) e os públicos contemporâneos”, explica.
“Foi um excelente evento que possibilitou a partilha de experiências e conhecimento em torno de problemáticas relacionadas com o património cultural e do uso de recursos digitais para trabalhar estas materialidades. Houve diálogo com os colegas de outras universidades tanto de Alfenas como de São Paulo e de Braga, em Portugal. O saldo da participação neste evento foi bastante positivo, tanto para pesquisadores como para estudantes”, reforça a professora Fernanda.
A professora Maria do Carmo confessou que ficou impressionada com a UFMS e Campo Grande. “Fiquei verdadeiramente impressionada, não só pela diversidade e inovação, mas também pela simpatia e amabilidade no acolhimento. Na cidade visitamos locais muito interessantes e na UFMS fomos muito bem recebidos. Tivemos oportunidade de conhecer e conversar com a reitora Camila Ítavo e vice-reitor Albert Schiaveto, além de pró-reitores, diretores de unidades e professores da UFMS e, também da Uems. De modo muito particular, com o grupo do ATRIVM, que tem uma importante coleção de numismática, de primordial importância para a formação dos estudantes”, conta.
“A Universidade do Minho, por meio da Unidade de Arqueologia, tem uma colaboração ativa há alguns anos que envolve a participação em projetos comuns, mas também a mobilidade de estudantes e professores que têm feito algumas estâncias na Unidade de Arqueologia, para trabalhos laboratoriais (análise e tratamento de moedas, cerâmicas) e de escavação, estando previstas novas estâncias para 2025 e 2026, no âmbito dos trabalhos arqueológicos de campo. A nossa vinda à UFMS enquadra-se precisamente nesta colaboração, que muito nos honra e que esperamos poder continuar a fortalecer durantes os próximos anos”, acrescenta Maria.
Expedição ao Morro do Ernesto
Entre as atividades realizadas em Campo Grande pelo grupo de pesquisadores, o destaque foi para a visita ao Morro do Ernesto, localizado na zona rural de Campo Grande. “Duas professoras de geologia da UFMS nos contaram a história da formação geológica do Estado, colocando em evidência a topografia do monte e a sua relação com os recursos hídricos. Enquanto o professor Carlos destacava a importância patrimonial do monte. A chega ao cimo do morro e a vista que daí tivemos sobre a paisagem foi verdadeiramente imersiva”, diz a professora Maria do Carmo.
“Foi uma experiência incrível, foi uma aula em contato direto com o objeto de estudo, para finalizar os trabalhos com chave de ouro. É de valorizar incluir na programação esta ligação com o território, sendo indispensável a Universidade sair das suas portas físicas e mergulhar no conhecimento que se adquire no campo para depois partilhar na sala de aula. Esta é a missão da Universidade. Em Portugal, defendemos essa relação e trabalhamos com várias comunidades. a Unidade de Arqueologia da UMinho tem várias parcerias com diversos municípios, o que implica saídas de campo, projetos de escavações e divulgação de património”, fala Fernanda.
Para o professor José Gabriel, para além da beleza natural, o local oferece uma possibilidade única de refletir sobre a relação entre território, memória e comunicação. “Do ponto de vista da comunicação de ciência e do patrimônio, esse tipo de atividade reforça a importância de experiências imersivas e sensoriais na mediação do conhecimento arqueológico e histórico. O destaque vai para a integração entre natureza, saber científico e envolvimento da comunidade — uma tríade fundamental para pensar formas eficazes de comunicar ciência hoje”, diz.
Projetos e expectativas
“Atualmente, temos cinco projetos, entre extensão e pesquisa, com o apoio da Unidade de Arqueologia da UMinho, o que consolida nosso acordo de cooperação. Além disso, os professores José Gabriel Andrade, Fernanda Magalhães e Maria do Carmo Ribeiro, da UMinho, com os professores Vagner Porto, da USP, e Cláudio Carlan, da Unifal, colaboram com a classificação e análise do nosso acervo de numismática, que conta com 30 mil peças. O ATRIVM é o laboratório pioneiro na UFMS no uso das humanidades digitais aplicadas, além de ser referência na promoção dos estudos numismáticos, atuando em permanente colaboração com centros de pesquisa brasileiros e estrangeiros”, destaca o professor Campos.
Ele ressalta que o ATRIVM vem contribuindo significativamente para a formação de estudantes de graduação, mestrado e doutorado no cenário científico sul-mato-grossense, além de atrair pós-doutorandos para a Universidade. “O foco de pesquisa e a singularidade do acervo em Mato Grosso do Sul têm capacitado historiadores e arqueólogos na área da numismática, preparando-os para atuar na conservação e no restauro de materiais em nossos museus. Atualmente, o laboratório conta com 15 discentes, entre graduandos, mestrandos e doutorandos, incluindo bolsistas e voluntários, além de três docentes da Fach e um apoio técnico que colaboram conosco”.
“A visita abriu diversas perspectivas promissoras para a consolidação de parcerias institucionais e acadêmicas. Estamos já a delinear possibilidades de cooperação no âmbito da comunicação de ciência e da mediação do património, com intercâmbios de curta duração, projetos de coorientação de pós-graduação e, futuramente, candidaturas conjuntas a programas de financiamento internacionais. A sinergia entre a UMinho e a UFMS pode resultar em contribuições significativas para uma comunicação de ciência mais participativa, crítica e culturalmente enraizada”, avalia o professor José Gabriel.
“Nesta visita entregamos uma coleção com cerca de três dezenas de fragmentos de cerâmicas romanas, medievais e modernas resultantes das escavações da cidade de Braga para cedência por cinco anos para estudo dos pesquisadores do laboratório ATRIVM. Esta coleção irá criar novos campos de pesquisa e abrir novos horizontes, o que permitirá o desenvolvimento de novos projetos. Essa será a primeira de muitas missões na UFMS. Sem dúvida que a forma como nos receberam aqui faz com que Campo Grande fique no nosso coração e queremos voltar rapidamente”, finaliza Fernanda.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Arquivo dos pesquisadores e Alíria Aristides