O projeto de extensão Solo na Escola: popularização do conhecimento sobre a ciência do solo, coordenado pela professora Meire Cordeiro, recebeu o Selo ODS Educação, que reconhece ações que ajudam a melhorar a educação e atingir metas globais das Organizações das Nações Unidas. Desenvolvido deste 2016 pelo Câmpus da UFMS Chapadão do Sul (CPCS), a ação realizada em escolas da Educação Básica e no Centro de Idosos do município já beneficiou mais de mil pessoas, em sua maioria crianças e adolescentes.
“Nos últimos anos, o projeto vem sendo conduzido pelo grupo PET Agroflorestal e ele mostra como o solo é essencial para a vida e incentiva estudantes a aprenderem mais sobre ele. Além disso, ajuda a divulgar os cursos do Câmpus da UFMS de Chapadão do Sul junto à comunidade”, explica Meire, que também é tutora do PET. De acordo com a professora, são trabalhados os seguintes temas: como o solo se forma, quais suas cores e texturas, como a água infiltra no solo, proteção e erosão do solo e microrganismos e decomposição. “Além de ensinar sobre o solo, o projeto também incentiva universitários a se envolverem com a sociedade e colocarem seus conhecimentos em prática”, destaca.
A professora considera que o projeto preenche uma lacuna no aprendizado dos alunos da Educação Básica referente à temática solos, tendo em vista que os conteúdos que envolvem a importância do mesmo para a vida e sua preservação ainda são apresentados de uma forma superficial na grade curricular. “As ações também são voltadas para o público em geral, como forma de divulgação do conhecimento e conscientização para o uso racional do solo e de recursos naturais. Busca-se trabalhar conceitos básicos sobre o solo e seus componentes, de forma simples e didática, atingindo também os professores das escolas que participam das ações”, explica. Ela acrescenta ainda que, em contrapartida, a participação de estudantes dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal na execução do projeto tem sido uma oportunidade de despertar o interesse pela comunidade e pelo curso que estudam, colocando em prática e em discussão assuntos trabalhados nas disciplinas da graduação.
Meire explica que o projeto surgiu da ideia de dar maior visibilidade para a temática. “Além de tratar da importância do solo para vida no planeta Terra e da conscientização para uso e manejo racional desse recurso natural, o projeto envolve os estudantes de Agronomia e Engenharia [Florestal], que o torna mais importante ainda. Os estudantes se preparam, participam, se envolvem nas atividades, o que torna sua formação mais completa”, destaca.
A professora detalha ainda que o projeto é realizado em dois momentos. “O primeiro é mais teórico, onde apresentamos a parte mais conceitual sobre a importância do solo e de sua preservação. No segundo, temos algumas práticas relacionadas com os conceitos de solos (formação, cores, tintas e artesanato, textura, infiltração, cobertura vegetal e organismos do solo). São práticas simples para que os professores das escolas possam replicar para outras turmas e ser de fácil entendimento, além de poderem tocar, sentir, discutir sobre os assuntos. Essas práticas são realizadas pelos estudantes dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal do CPCS que participam do projeto. É um momento muito interessante, onde há muitas trocas”, avalia.
Para Meire, a conquista do Selo ODS Educação representa o reconhecimento do seu trabalho e a motiva a dar continuidade nas atividades desenvolvidas. “Ao receber a notícia, comuniquei aos estudantes envolvidos, especialmente os petianos, que comemoraram bastante. Quando postamos a conquista nas redes sociais, foram dezenas de mensagens de egressos que foram participantes, mensagens que me emocionaram, por perceber o quanto esse projeto foi importante na formação dos mesmos. Já temos ações planejadas para esse ano, apresentação em evento científico e artigo científico sendo finalizado. O selo veio para trazer ainda mais compromisso e reconhecimento do valor do projeto Solo na Escola”, fala a professora.
Experiências
A estudante do sétimo semestre do Curso de Agronomia Evelyn Gabrielly Boff participa do projeto desde 2022. “Eu lembro que a minha primeira ação foi na Escola Municipal Integral Semear, em Chapadão do Sul, com alunos entre 5 e 8 anos, no máximo. Nessa primeira ação, a gente falava um pouquinho sobre o solo em si, qual o tipo, sobre como é montado um circuito do solo na escola. Também falávamos sobre como o solo é formado, o processo de intemperismo, o que ocorre ao longo de milhares de anos. Também falávamos um pouco sobre os diferentes tipos de solo, diferentes cores, sobre matéria orgânica, sobre o macro e o microrganismo que tem no solo, mostramos um pouco sobre como que acontece esse processo de decomposição para virar matéria orgânica e tudo mais, e tudo isso explicando para as crianças, levando esse conhecimento para elas”, destaca a estudante.
“Eu acho que é uma experiência muito única participar dessa ação, porque te coloca em contato com crianças, pré-adolescentes, adolescentes. Eles têm muitas dúvidas relevantes, interessantes. Eles se espelham muito no que a gente fala pra levar o conhecimento para os pais, para algum avô, alguma coisa, e isso é algo muito bonito”, fala Evelyn. “É reconfortante, é extremamente interessante ver o quanto que essa geração que está vindo, essa geração nova, é interessada em saber sobre sustentabilidade, saber sobre compostagem, como que monta uma hortinha, como que cuida do solo”, acrescenta.
Sobre a importância do projeto, ela avalia que o projeto gera conexões. “Ele conecta a gente a algo que às vezes nem pensamos ou reparamos durante o dia a dia, que é o solo. O solo onde a gente pisa é o lugar por onde a gente anda, é algo tão importante, mas às vezes a gente esquece, porque o nosso dia a dia é tão corrido”, fala Evelyn. “Passar esse conhecimento para as escolas, para as gerações que estão vindo agora, é muito importante porque em um solo há vida. Ele gera vida, nutre as plantas, é a base de tudo”, comenta.
“O tanto que a gente cresce quando conversa com criança, com adolescente, quando vemos suas opiniões e ideais. Teve uma situação que me marcou muito. Na primeira ação, uma menininha perguntou pra mim: ‘você é cientista?’. Como a gente faz pesquisa, eu falei: ‘sim!’ e ela falou: ‘nossa, meu sonho é ser cientista igual a você quando eu crescer’. Foi quando eu vi que aquilo que eu estava fazendo, estar em uma escola pra passar conhecimento era importante, era relevante”, lembra.
Necivero de Jesus Junior é estudante do curso de Engenharia Florestal no CPCS. Ele está no terceiro semestre e participa do projeto Solo na Escola desde o início. “Participamos da Feira de Profissões, que envolveu 430 alunos de escolas públicas e particulares. Após essa ação, tivemos outra com o Colégio Maper, sendo 43 alunos, 20 no período da manhã e 23 no período da tarde. Tivemos também a ação com os idosos do Centro de Convivência da Melhor Idade de Chapadão do Sul (Centro Conviver), envolvendo 30 pessoas. Em todas essas ações, apresentamos sete conceitos práticos sobre o solo: formação de solo; texturas do solo (areia, silte e argila); magnetismo (uso de imã); cores do solo e tinta do solo; cobertura do solo (solo nu, com palhada morta e com cobertura viva) pontuando-se a conservação do solo; ciclo da água; decomposição de material orgânico no solo e organismos do solo (macro e microrganismo)”, explica.
“É uma experiência espetacular a oportunidade de levar um pouco de conhecimento para pessoas de fora da Universidade, falar um pouco de como é o solo e algumas práticas de conservação é muito gratificante. O projeto é importante na medida que proporciona aprendizado para as pessoas e promove a divulgação do papel do solo e sua manutenção da vida”, diz. “Essa experiência vai contribuir muito para mim profissionalmente, pois além de aprender mais sobre o solo em cada ação que participo, espero futuramente, na minha atuação profissional, poder levar um pouco desse conhecimento e também compartilhar minha experiência”, conclui.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Arquivo do projeto Solo na Escola