Crianças de Escola das Águas participam de oficinas circenses promovidas pela UFMS

Ensinamentos que são passados por meio da arte, da ludicidade e do encantamento. Assim os participantes do projeto de extensão “O Circo vai a uma Escola das Águas” da UFMS têm contribuído com a formação de crianças do Pantanal Sul-Mato-Grossense, por meio de apresentações e oficinas de arte circense.

Até o momento foram duas visitas à Jatobazinho, uma das “Escolas das Águas”, instituições situadas em locais de difícil acesso no Pantanal, que reúnem crianças da comunidade ribeirinha e moradoras das fazendas da região.

Segundo o coordenador do projeto desenvolvido no câmpus do Pantanal (CPAN), professor Rogério Zaim de Melo, muitas vezes as escolas são o local onde ocorre o primeiro momento de socialização da criança fora do eixo familiar. “Elas vivem longe do meio urbano e da onipresença das mídias digitais, costumam ter pouco acesso aos bens culturais. Por isso o objetivo é oferecer pequenos números circenses, promovendo o conhecimento de uma importante parte do patrimônio cultural da humanidade, o circo”, explicou.

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Palhaçaria e malabares

Na primeira visita, nos dias 31 de maio e 1° de junho, parte da equipe do Los Pantaneiros apresentou às 39 crianças da escola o número Palhaçaria e Malabares e realizou a oficina de malabares com tule e bolinhas. O grupo foi formado pelos acadêmicos: Gabriel Halley Faria Jard, Luan Christian Munhões e Patrick Aparecido Ferreira de Souza.

A embarcação saiu do Porto Geral de Corumbá às 15h e subiu o Rio Paraguai por duas horas e meia. “Atracamos na frente da escola e, ao longe, já era possível escutar os gritos das crianças. O palhaço Quitripa saiu do barco e subiu no monociclo, tendo ao fundo como trilha sonora a música ‘o circo’, de Sidney Miller, na voz do Quarteto em Cy”, lembra o coordenador Rogério de Melo.

Ainda segundo o professor, ao se depararem com a cena as crianças começaram a seguir o palhaço, “assemelhando-se aos cortejos, que aconteciam nas pequenas cidades brasileiras, quando da chegada de um circo. O cenário estava armado. A partir daí foram 15 minutos de muito riso solto e da mais pura gargalhada”. O número foi composto com malabares de bolinhas, arcos e claves, com bastante interação com as crianças. Ao final, ninguém queria sair de perto dos palhaços e foi necessária intervenção dos monitores para o encerramento das atividades.

No dia seguinte as crianças foram divididas em dois grupos para a oficina de malabares. Antes de iniciar, em rodas de conversa, constatou-se que dos 39 alunos presentes, apenas um afirmou ter ido já a um espetáculo circense antes e cinco afirmaram terem visto malabares nos semáforos de Corumbá. “Para dar início à oficina propriamente dita, os acadêmicos pegaram a mala mágica dos palhaços e tiraram de lá de dentro todos os objetos. Os aros foram chamados de círculo e anéis olímpicos; para as claves os nomes foram garrafa, cone de trânsito, pino de boliche; e, para o tule, pano de mosquiteiro. No Pantanal existem muitos pernilongos e nas casas ainda é comum o uso de mosquiteiros”, explicou o professor.

Primeiramente os alunos puderam explorar os objetos livremente, depois, os monitores lhes passaram as “tarefas” de lançar o tule e observar a sua queda; lançar e pegar com a mesma mão; trocar de mãos, lança e bater palmas. Paulatinamente foram inseridos tules de outras cores e realizadas atividades com os outros objetos, aumentando a dificuldade.

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Trio Acrobático e acrobacia de solo

Nos dias 07 e 08 de junho, uma nova equipe do Los Pantaneiros foi à escola, agora para apresentar acrobacias a 37 alunos. O grupo foi formado pelos acadêmicos: Gabriella Maria Espinoza, Gabriel Halley Faria Jard e Jackeline Ossinaga, novamente acompanhados pelo professor Rogério Zaim de Melo.

“O atracar do barco foi cercado de expectativas, as crianças estavam esperando o circo, tentando adivinhar qual seria a nova atração, alguns perguntavam para as professoras se elas sabiam o que viria. O figurino colorido utilizado pelos artistas foi notado de longe, em um primeiro momento, ouviu-se as falas ‘são os palhaços!’, ao perceberem que não eram palhaços um dos meninos falou: ‘É o Coringa’”, relatou o coordenador.

Ao contrário do que aconteceu na semana anterior, na qual as gargalhadas fizeram parte do número dos palhaços, as acrobacias fizeram as crianças ficarem caladas, concentradas nos movimentos. “O som e o barulho, só voltaram a acontecer, efetivamente, na finalização da apresentação com os movimentos de estrela com uma mão e rodante, flic e mortal. Nesse momento escutaram-se muitos “vôtis” (expressão do vocábulo corumbaense que indica espanto/surpresa) e palmas”, contou Rogério, que revelou ainda que uma das crianças chegou às lágrimas pedindo mais acrobacias.

Na oficina do dia seguinte, novamente em uma roda de conversa inicial os participantes relembraram as atividades da semana anterior e obtiveram informações sobre a acrobacia. A oficina foi realizada no campo de futebol à beira do Rio Paraguai.

As atividades foram divididas em: consciência corporal; de força; bandeiras em duplas e de rolamentos. Para finalizar as crianças formaram uma pequena pirâmide e depois, a pedido, puderam assistir a mais uma apresentação acrobática do grupo. “Saímos da Escola Jatobazinho com a sensação de que estamos no caminho certo. No retorno a Corumbá, a cabeça volta cheia de caraminholas e dúvidas, de como podemos fazer cada vez mais e acima de tudo, com uma certeza, nossas crianças estão conhecendo e se apaixonando pelo circo”, finaliza o professor.

 

Ainda em 2019 o grupo deve realizar pelo menos mais cinco visitas à escola, com apresentações e oficinas diferentes. Para o encerramento das atividades o coordenador quer viabilizar um espetáculo com a participação de alunos de uma outra escola próxima, situada a cerca de duas horas e meia de barco da Jatobazinho.

 

 

Texto: Ariane Comineti – com informações dos relatórios de atividades do projeto, entrevista com o coordenador e fotos de Rogério Zaim de Melo.