Existem muitas formas de se contar uma história, um dos formatos bem populares é o da história em quadrinhos (HQ), comum em enredos de super-heróis e vilões, lidas por diversas faixas etárias. Mas não há uma restrição quanto ao tipo de narrativa que pode ser contada através dessas páginas, podendo ser até mesmo jornalística. Por isso, o Jornalismo em Quadrinhos (JHQ) foi tema de oficina oferecida durante o Festival Mais Cultura na última quinta-feira, dia 26.
Para o jornalista e ilustrador, Norberto Liberatôr, um fato ou narrativa jornalística podem ser contados por meio de quadrinhos, e foi dessa forma que o finalista do prêmio Vladimir Herzog resolveu relatar a realidade de imigrantes e refugiados que encontram no Brasil um possível destino de uma vida melhor. O ilustrador conta que foi a partir da graduação que pôde trabalhar melhor com o jornalismo em quadrinhos. “Comecei a trabalhar com esse formato durante o meu TCC, até então eu fazia quadrinhos com menos páginas, coisas mais curtas”, especifica.
O ganhador do Prêmio Expocom Centro-Oeste ministrou ao lado do ilustrador e estudante de Jornalismo, Fábio Faria, uma oficina que ensinou estudantes da UFMS os princípios do JHQ. “A recepção foi bem positiva, o pessoal se envolveu bastante, com muito interesse e participação. Fizemos uma atividade onde acadêmicos transformaram uma notícia que imprimimos para a linguagem dos quadrinhos e funcionou muito bem, conseguiram captar qual era nosso objetivo”, relata.
A estudante de Jornalismo da UFMS, Raquel Eschiletti, participou da oficina e relatou que foi útil para promover um pouco mais de conhecimento dos processos envolvidos. “Foi um choque de realidade, eu já tive contato com os produtos deles, mas nunca parei para refletir sobre o processo de produção. Não paramos para pensar no quão trabalhoso é”.
A acadêmica ainda ressalta que é importante que os mais diversos formatos sejam trabalhados, e que podem ser um diferencial no mercado de trabalho. “Tem gente que prefere ler livros, quadrinhos, assistir vídeos. É bom ter linguagens para todos os tipos de pessoas. Além disso, o mercado jornalístico está muito saturado, quando você traz algo inovador, talvez chame atenção do público”.

Raquel já trabalhou como ilustradora e diz não ter certeza se deseja produzir JHQ, mas enfatiza a importância da oficina. “Não é algo que eu desejo trabalhar agora, mas tenho um possível interesse em seguir no meu TCC. A oficina foi muito importante não só para quem quer a área, mas também para futuros jornalistas que estavam lá para conhecerem outros modelos, e repensar como eles escrevem. Fazer uma JHQ precisa ser muito descritivo, prestar atenção em outros detalhes que você não prestaria”, finaliza.
Egresso do curso, Norberto é co-fundador da Revista Badaró, veículo de mídia independente que nasceu pelas mãos do ilustrador Fábio Faria, da jornalista Mylena Fraiha, e do jornalista e pesquisador em comunicação Leopoldo Neto. “Desde a criação do veículo, pensamos em explorar formatos que fossem diferentes do convencional. A mídia mais tradicional não se explora com frequência o jornalismo em quadrinhos, o que costumamos dizer que é o nosso diferencial”, explica.
Duas reportagens em quadrinhos foram feitas pela Revista Badaró, e estão expostas próximas à Livraria UFMS. “Outras reportagens nossas dialogam com a linguagem dos quadrinhos, tanto com ilustrações ao longo do texto, ou recursos como ‘balões’ numa entrevista representando a fala dele”, explica. O artista finaliza comentando as principais influências de seu trabalho. “Minha principal referência é o Joe Sacco, ele foi quem cunhou o termo. A primeira obra com a qual eu tive contato foi a ‘Uma história de Sarajevo’, e li outros trabalhos dele como ‘Palestina’. Além do jornalismo, artistas com Angeli, Laerte e Robert Crumb influenciaram bastante meu trabalho”, cita.
Texto e fotos: Guilherme Correia (bolsista Mais Cultura)



