Mostra no Iphan celebra fé e identidade pantaneira com registros do Banho de São João

O Banho de São João de Corumbá e Ladário, considerado Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, é realizado anualmente às margens do Rio Paraguai. Nos dias 23 e 24 de junho, essa tradição foi celebrada com a exposição Banho de São João: Festa e Devoção em Corumbá, promovida na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no município. A mostra reuniu fotografias produzidas entre 2005 e 2019 por estudantes, professores e egressos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Faculdade de Ciências Humanas (Fach), que participam do Laboratório de Antropologia Visual Alma do Brasil (Lavalma) e desenvolveram o projeto histórico e antropológico que subsidiou o reconhecimento da festa como bem imaterial do país.

Além da exposição, os visitantes também podem conferir a coleção COLE.SÃO, fruto de parceria entre uma estudante da Fach e duas designers que atuam com cultura e biodiversidade regional. A proposta é transformar o conhecimento acadêmico em uma linguagem visual sensível e acessível a um público mais amplo. Entre os elementos gráficos criados estão o Rio Paraguai, símbolo central da festa; os pingos d’água que sobem ao céu durante o ritual; a flor dos andores refletida na água; e os peixes que se transformam em estrelas na noite de São João.

Para o professor da Fach Álvaro Banducci Júnior, o registro de um bem como patrimônio imaterial está diretamente ligado ao reconhecimento de seu valor cultural e funciona também como instrumento de preservação. “A exposição fotográfica sobre o Banho de São João de Corumbá registra a memória da festa, com imagens que abrangem duas décadas de realização, e revela aspectos característicos da celebração, como o sincretismo religioso, os diferentes rituais de fé dos devotos e o caráter festivo que permeia a religiosidade da população corumbaense. Nesse sentido, a exposição constitui, por si só, um exercício de salvaguarda desse patrimônio. A mostra de design em tecido, com o tema de São João, reforça essa importância e busca ampliar, por meio da linguagem artística e funcional, o alcance dessa expressão religiosa singular da cultura sul-mato-grossense”, explica.

A estudante do Mestrado em Antropologia Social e integrante da coleção, Luciana Scanoni Gomes, explica que, além de valorizar a festa, a proposta busca estabelecer um elo entre Corumbá e Campo Grande. “Queríamos que o campo-grandense e o sul-mato-grossense olhassem com mais atenção para essa festa tão bonita, reconhecida nacionalmente. Foi um desafio transformar a pesquisa em linguagem de design e criar símbolos próprios. As exposições são formas de salvaguarda, pois dão visibilidade aos festeiros e às histórias que carregam, levando esse conhecimento para a Universidade, os museus e outros espaços onde as vozes tradicionais nem sempre têm lugar”, ressalta.

Banho de São João

O Banho de São João teve origem no século 14. Em Corumbá, a festividade é realizada na virada do dia 23 para 24 de junho, em celebração a São João Batista. Um dos principais rituais é a descida da Ladeira Cunha e Cruz com o andor até a prainha à margem direita do Rio Paraguai, onde a imagem do santo é banhada.

Em 2010, o Banho de São João foi reconhecido como bem cultural de natureza imaterial pelo estado de Mato Grosso do Sul. Em maio de 2021, foi registrado como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Iphan. Para saber mais sobre a atuação da UFMS no processo de reconhecimento pelo Iphan, confira a reportagem de capa da 9ª edição da Candil, revista de divulgação científica da Universidade.

 

Texto: Lúcia Santos

Fotos: Arquivo dos pesquisadores