Estudos em diversas áreas voltam-se à redução da emissão de gases de efeito estufa em MS

Novos projetos da UFMS foram contemplados com recursos do governo do estado de Mato Grosso do Sul na chamada MS Carbono Neutro. O objetivo é incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias para a redução e mitigação das emissões de gases de efeito estufa nos diversos setores da economia de MS e contribuir para o cumprimento das metas firmadas na Conferência Mundial do Clima. A busca é pela certificação do estado como Carbono Neutro em 2030.

Em fevereiro deste ano, 11 projetos já haviam sido contemplados com R$4 milhões. Entre eles, três da UFMS. Confira as informações sobre cada um dos estudos aqui.

Agora neste novo investimento de mais R$4 milhões, oito projetos foram contemplados, entre eles quatro da Universidade. Confira:

 

Tratamento de esgotos com microalgas: demonstração de um processo integrado convertendo esgotos em recursos

O objetivo do estudo é testar um novo processo biotecnológico para tratamento de esgotos, com a utilização de microalgas, com vantagens em relação aos processos atualmente utilizados: uma água tratada mais limpa e que consequentemente poluirá menos o local de destinação; a recuperação de nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) que estão presentes no esgoto para aproveitamento como fertilizantes na agricultura e a produção de biometano, que pode alimentar as termelétricas a gás.

“Esta última vantagem é o que inclui o projeto no MS Carbono Neutro, uma vez que o uso do gás metano produzido pelas algas pode substituir o gás natural, de origem fóssil e que, ainda, no processo de fotossíntese as microalgas retiram parte do gás carbônico (CO2) da atmosfera”, explica o pesquisador Marc Árpád Boncz, da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng). O docente trabalha já há alguns anos nesta linha de pesquisa, com recursos anteriores do CNPq. “É muito bem-vindo o apoio da Fundect para darmos continuidade à pesquisa”, aponta.

Por meio de uma parceria, os experimentos foram instalados na fazenda-escola da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), localizada no Instituto Salesiano São Vicente. Ao todo são três tanques de tratamento onde são avaliados parâmetros químicos simples como o pH; a concentração de oxigênio -as microalgas produzem oxigênio como resultado da fotossíntese, então a concentração de oxigênio indica a atividade delas-; turbidez, que é uma medida indireta da quantidade de biomassa viva no reator; condutividade; temperatura e insolação. A previsão é de que a pesquisa continue no local por mais alguns meses e que posteriormente seja instalada na estação de tratamento de esgoto (ETE) Los Angeles, da Águas Guariroba, também por meio de parceria.

 

Laboratório de Bioeconomia Sustentável para o Estado de Mato Grosso do Sul

O objetivo geral do projeto é elaborar um inventário com a caracterização dos bioprodutos reconhecidos cientificamente como ativos bioeconômicos sustentáveis e que fazem parte da pauta de exportação do estado de Mato Grosso do Sul, pertencentes ao segmento do agronegócio. Para o pesquisador José Carlos de Jesus Lopes, da Escola de Administração e Negócios (Esan), o estado é um território produtivo com aptidão natural ao desenvolvimento da bioeconomia, e em especial, a bioeconomia sustentável.

Conforme o professor, é preciso buscar fontes energéticas alternativas às fontes energéticas de bases de elementos fósseis, por exemplo, o carvão, o petróleo e o gás natural. “E para que não haja a interrupção das fontes energéticas para o ciclo produtivo no mundo todo, temos essa nova proposição científica chamada de bioeconomia – e na UFMS estamos ampliando e entendendo que a bioeconomia precisa ser sustentável. Por meio da bioeconomia sustentável, visamos a substituir as fontes energéticas que causam a poluição atmosférica e os gases de efeito estufa, que, uma vez concentrados na atmosfera terrestre, causam toda desregulação climática em todo o planeta”, explica.

O pesquisador aponta que com a poluição atmosférica o mundo sofre eventos adversos e consequências negativas, que recaem, sobretudo, sobre as populações e regiões mais vulneráveis, menos desenvolvidas. “Assim devemos nos voltar à biomassa, que é um produto natural, renovável e que pode ser aplicado a todas as dimensões da sustentabilidade, para que então tenhamos fontes alternativas de energia para atender toda a uma produção de bens e serviços e de consumo”, aponta, e complementa que “produzir biomassas voltadas à dimensão econômica, já temos. É preciso que sejam criadas políticas públicas de fomento à produção de biomassas que atendam às dimensões de sustentabilidade”.

O professor agradeceu tanto à UFMS quanto ao governo do estado, por meio da Fundect, pelo investimento e informou que os recursos serão aplicados em equipamentos, em tecnologias, e em bolsas aos pesquisadores e estudantes para que se dediquem ao levantamento de dados para a elaboração do inventário.

 

Inteligência artificial e sensoriamento remoto aplicados no monitoramento do estoque de carbono e emissão de CO² por incêndios

O principal objetivo do projeto é o desenvolvimento de métodos inovadores combinando tanto a inteligência artificial, quanto dados de sensoriamento remoto, para realizar o monitoramento do estoque de carbono em florestas tropicais, e mais especificamente no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Além disso, visa também à produção de estimativas da quantidade do gás carbônico emitido em decorrência dos incêndios.

“De maneira geral, nosso projeto tem caráter bastante inovador e tecnológico. Pretendemos desenvolver métodos de aprendizado profundo (deep learning) para monitorar os incêndios que venham ocorrendo no Pantanal, além de monitorarmos a vegetação e consequentemente a biomassa, o estoque de carbono, e analisarmos isso temporalmente, o quanto isso tem se alterado ao longo do tempo”, explica o pesquisador José Marcato Júnior, também da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng).

Segundo o professor o grande desafio consiste no desenvolvimento de soluções rápidas, que dêem resposta rápida para a sociedade. “A inteligência artificial e os métodos de aprendizado profundo têm essa característica, após treinados os modelos eles possibilitam essa resposta rápida. Isso é fundamental não apenas para o monitoramento do carbono, mas também para dar apoio para a sociedade, para a população pantaneira que se encontra em locais de difícil acesso e que muitas vezes é afetada pelos incêndios”, aponta. O pesquisador também agradeceu o investimento obtido para a pesquisa.

 

Eletro (foto) conversor escalável de metano e CO2 para pecuária limpa (Fotopec)

O objetivo do projeto é converter CO2 e metano em compostos menos poluentes e líquidos, por meio de sua captura e conversão em compostos ambientalmente amigáveis. Trata-se de uma iniciativa inovadora que visa a mitigar a emissão dos gases de efeito estufa.

O pesquisador Cauê Alves Martins, do Instituto de Física (Infi), conta que trabalha a temática de forma independente já há algum tempo em parceria com o também professor do Infi Heberton Wender Luiz dos Santos. “Estudamos reações em superfície envolvendo a mitigação desses gases e também de líquidos poluentes. Assim esse projeto já acontece de forma inicial há alguns meses, talvez um ano, e agora entra em funcionamento completo com o financiamento da Fundect”, explica.

Para o docente a prospecção do recurso é fundamental para que a atividade funcione, que seja executada, pois trata-se de um projeto de pesquisa e desenvolvimento. “Temos uma entrega a ser feita, um produto mínimo viável que será desenvolvido com esse financiamento da fundação, em parceria com a empresa Nexsolar, sem esse recurso seria impossível desenvolver o projeto”, afirma.

 

 

 

Texto: Ariane Comineti