Estação de monitoramento do ar é aliada na busca de soluções para qualidade de vida da população

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a cada ano, estima-se que a exposição à poluição do ar cause sete milhões de mortes prematuras e resulte na perda de milhões de anos de vidas saudáveis da população. A poluição atmosférica é uma das maiores ameaças ambientais à saúde humana, juntamente com a mudança do clima.

As mais recentes evidências da OMS detalham que em crianças, a poluição atmosférica podem incluir redução do crescimento e função pulmonar, infecções respiratórias e agravamento da asma. Em adultos, a situação se volta para o desenvolvimento de cardiopatia isquêmica e o acidente vascular cerebral, causas mais comuns de morte prematura atribuíveis à poluição atmosférica, há também evidência do surgimento de outros efeitos, como diabetes e doenças neurodegenerativas.

Isso coloca a carga de doenças relacionadas à poluição do ar no mesmo nível de outros grandes riscos globais à saúde, como dieta inadequada e tabagismo. A OMS destaca ainda que a qualidade do ar é uma forma de proteção à saúde, reduzindo os níveis dos principais poluentes atmosféricos, alguns dos quais também contribuem para a mudança do clima.

A UFMS tem contribuído nas pesquisas de qualidade do ar em Campo Grande, com o funcionamento da primeira estação de monitoramento em uma universidade do Mato Grosso do Sul. O projeto foi desenvolvido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e recebeu também apoio do Núcleo Ambiental do Ministério Público Estadual.

Um dos pesquisadores que fazem parte do Projeto QualiAr, é o professor do Instituto de Física, Hamilton Germano Pavão. Ele conta como surgiu a ideia para a implantação da Estação e a importância da parceria com o Inpe.

“A ideia de instalar essa estação é bem antiga, desde os anos 90 quando iniciei o doutorado no Inpe. Nessa época eu tive a oportunidade de trabalhar com medida de gases, como ozônio, gás carbônico, metano, e a partir do momento que retornei para a UFMS eu continuei monitorando o ozônio, esse que é produzido também na superfície, principalmente por queima de combustível, queimadas, e esse gás acima de determinadas concentrações é muito tóxico. Então, eu monitorava a concentração de ozônio por muito tempo, mas sempre tive em mente expandir essas medições para outros gases poluentes. Sempre mantivemos um bom contato com o Inpe, além de mim, outros professores daqui também fizeram doutorado lá”.

Além do monitoramento da qualidade do ar, a estação fornece dados meteorológicos como a direção e velocidade do vento, a quantidade de chuva, a umidade e a temperatura. O monitoramento é um aliado na tomada de decisões na área da saúde, pois a partir dos dados é possível fornecer informações para diversas outras pesquisas.

“O objetivo do nosso trabalho é avaliar a qualidade do ar e disponibilizar para a população. Compartilhar os dados aos órgãos ligados à saúde, avisar quando houver aumento de concentração de um certo poluente para serem tomadas providências. Em breve vamos ajustar outros equipamentos para tornar uma estação de monitoramento mais completa”, disse o professor.

Poluentes monitorados

A presença de partículas inaláveis constitui um dos problemas mais graves para a saúde pública, sendo o tamanho das mesmas um elemento fundamental de avaliação na elaboração de relatórios de qualidade do ar.

De acordo com as informações do Projeto QualiAr, as partículas inaláveis são definidas com um diâmetro não superior a 10 micrometros (µm), e são estas as partículas consideradas como representantes do maior risco para a saúde visto que conseguem penetrar profundamente ao nível dos pulmões e atingir os alvéolos pulmonares, causando perturbações no sistema respiratório.

O professor do Instituto de Física e coordenador do Projeto Qualiar, Widinei Alves Fernandes, explica a diferença entre os poluentes monitorados. “Existe uma grande variedade de poluentes, no entanto, uma resolução de 2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente com base nas normativas da OMS de 2005, preconiza o monitoramento de um grupo específico de poluentes, que podemos separar em partículas e em gases. Os poluentes de material particulado, são selecionados através do seu tamanho, são PM 10 micrometros e PM 2,5 micrometros, os gasosos são o ozônio, dióxido de nitrogênio, de enxofre e monóxido de carbono. Desses, o que é monitorado na estação da Universidade são as partículas. No mundo inteiro, para classificar uma cidade como poluída, é verificado o poluente PM 2,5 por estar associado a diversos problemas de saúde, como infartos, acidente vascular cerebral entre outros problemas de saúde”.

A engenheira ambiental egressa da UFMS, Thais Caregnatto Thome está se preparando para ingressar no doutorado no Instituto de Física e o interesse é se debruçar sobre a importância da estação de monitoramento da qualidade do ar. “Na graduação eu tive aulas sobre poluição do ar e era uma área que sempre gostei. Concluí o mestrado e estou me preparando para ingressar no doutorado em Ensino de Ciências no Instituto de Física e a estação de monitoramento chamou minha atenção, então procurei o professor Widinei. Com isso, comecei a pensar nas possibilidades de trabalho com os dados da estação. Escrevemos um artigo sobre a importância do monitoramento da qualidade do ar para a educação ambiental e discutimos como essa iniciativa pode nos ajudar a compreender a problemática da poluição do ar em uma perspectiva da educação ambiental crítica. Me surpreendeu a riqueza de assuntos que podem ser tratados a partir do que é realizado na estação”.

Texto: Bianka Macário

Foto: Álvaro Herculano