Acadêmicos criam nova Liga Acadêmica de Saúde da Família

Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Medicina que propõe formação de profissionais mais generalistas e humanistas e incentiva atuação na atenção primária, está sendo criada, por meio de projeto de extensão, a Liga Acadêmica de Saúde da Família.

Fruto do interesse de um grupo de alunos do segundo ano de Medicina, a Liga deve atuar nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) em Campo Grande e em ações de discussão e aprofundamento do conhecimento sobre a temática.

Os integrantes originais da Liga se mobilizaram e já estão oferecendo aulas com alguns temas envolvidos com a atenção primária para outros acadêmicos da Universidade que estejam interessados em participar da instituição. Está aberto Edital para a seleção dos ligantes e a prova deverá acontecer no início de abril, com a oferta de 20 vagas.

“Anos atrás já existiu uma Liga da Saúde da Família na UFMS. Os alunos querem agora retomar essa ação na Medicina de Família e trazem como inovação a abertura de vagas para alunos de primeiro ano, porque viram isso como uma forma de sensibilização dos calouros com essa temática que envolve a atenção primária e também reservaram vagas para alunos de outros cursos como Enfermagem, Fisioterapia e Farmácia, tendo como preocupação a multidisciplinaridade”, explica a professora coordenadora da Liga, Claudia Du Bocage Santos Pinto.

Estão sendo definidas as UBSFs onde os ligantes deverão atuar, em especial naquelas onde existem os residentes de saúde da família, e que já se dispuseram a ajudar. Na sequência serão planejadas as atividades, específicas conforme o conhecimento já adquirido pelos ligantes, que serão formados por acadêmicos do primeiro até praticamente último ano.

“Para os alunos de primeiro ano imaginamos a participação em atividades de promoção de saúde, acompanhamento dos agentes comunitários em visitas domiciliares, conhecimento de território, essa primeira aproximação com a realidade social que envolve as UBSFs”, explica a professora.

Para os alunos de períodos mais avançados são previstas ações como acompanhamento das atividades clínicas, de atendimento, realizados pelos médicos de família. “A depender do nível deles dentro da graduação podem participar mais ativamente de algumas tarefas, contribuindo dentro da UBSF”, completa a coordenadora.

Para atuarem nas Unidades, os alunos cumprirão um rodízio dentro do horário de funcionamento das unidades, entre 7h e 11h e das 13h às 17h. Nos demais horários, a Liga promoverá discussões que envolvam questões mais teóricas, de aprendizado das práticas de interação com a comunidade e com os profissionais.

“O que vemos também como uma atividade de extensão é que tiramos algum proveito com conhecimento, com a vivência, mas temos que retribuir. Nesse sentido, os alunos têm de ter essa preocupação com a devolutiva social, o que eles vão representar dentro dessa Unidade de Saúde, dentro dessa comunidade. Espero que eles contribuam ainda nas questões de gestão, de comunicação com a própria unidade, participem do planejamento de atividades de saúde, de grupos dentro dessas unidades e até ajudem no monitoramento de algum indicador de saúde que esteja deficitário ou defasado naquela localidade”, coloca a professora.

Medicina de Família

Médico de família é aquele profissional que não se restringe ao tratamento da doença, ele tem a noção do indivíduo como um todo, devendo fazer acompanhamento longitudinal –  um dos atributos da atenção primária –  com a família, com o paciente e com a comunidade.

“Então, ele conhece as pessoas pelo nome, sabe os problemas, sabe tudo que está implicado naquele processo de adoecimento que não necessariamente é uma questão biológica ou fisiológica, conhece todo o contexto social que esta influenciando na condição daquela pessoa que chega até ele”, diz Claudia.

Esse contato mais próximo e mais longo com a população é o grande diferencial, segundo a professora. “O médico de família consegue olhar com outros olhos as questões que não necessariamente precisam de um medicamento para serem resolvidas. Existem diversas outras formas de atuação que podem trazer uma resolutividade também”, diz.

Para a professora, historicamente sempre houve uma lacuna, uma dissociação, entre a forma que se ensina e as necessidades de saúde da população. “Temos uma Medicina muito voltada para as especializações, para as especialidades médicas, deixando de lado sempre aquele olhar mais integral, que a Medicina de Família vem tentar resgatar. Isso é uma demanda do Sistema de Saúde, que se propõe a ter uma atenção básica fortalecida, exatamente porque é a porta de entrada do sistema e onde se espera que haja maior resolutividade”, expõe.

Com o fortalecimento da atenção primária, ocorre o desafogamento dos outros níveis de atenção em hospitais, em cirurgias, ou consultas com especialistas.

“Existem diversas questões que precisam ser melhoradas, como estrutura melhor para a atenção primária, maior fluxo de investimentos nesse nível de atenção e precisamos também formar profissionais que queiram atuar ali. Para isso precisamos começar a ensinar sobre a importância desse local de trabalho, desse profissional, porque é uma área ainda muito estigmatizada na Medicina, por considerarem que é para pobre, sem glamour. É uma visão que precisa ser mudada”, afirma a coordenadora.