Plano resultou de parceria entre a UFMS, a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste e a Universidade do Estado de Mato Grosso
Nesta segunda-feira, 26, o reitor Marcelo Turine entregou à superintendente do Desenvolvimento do Centro-Oeste Rose Modesto o Plano de Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Centro-Oeste. O documento foi produzido por meio de parceria entre a UFMS e a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
“A UFMS é a casa da ciência, um patrimônio de todos. Desenvolvemos muitos projetos em parceria com o governo federal. Esse que concluímos hoje, é um deles. Foi finalizado após oito meses de execução, de forma muito rápida. Os trabalhos foram liderados pelo Câmpus do Pantanal (CPan) e os resultados foram surpreendentes. Representa o olhar da pesquisa para as políticas públicas na região da fronteira em diversos eixos: segurança pública, saúde, infraestrutura e logística, educação, desenvolvimento econômico, turismo e meio ambiente. O resultado é fundamental e contempla uma gama de projetos nesses eixos. Estou muito feliz e gostaria de parabenizar a Sudeco pelo investimento e confiança”, falou o reitor.
Para a superintendente da Sudeco, a parceria com as universidades foi fundamental e deve auxiliar em muito o trabalho a ser desenvolvido na região. “A parceria com a UFMS e a Unemat resultou em algo fantástico e muito rápido para um tema importante que é o desenvolvimento da nossa região Centro-Oeste e também para o Brasil. Nosso foco é trabalhar junto aos municípios de fronteira, integrando as mais de 70 cidades brasileiras”, disse Rose.
“A maior parte dessas cidades está em Mato Grosso do Sul e com base nesse plano, podemos fazer com que o nosso potencial seja mais conhecido por todos. Temos uma rota bioceânica que deve já funcionar nos próximos anos. É importante que esse cenário já esteja organizado. Além disso, o trabalho contempla o desenvolvimento econômico, aliado com o social. Se discutimos o avanço na economia e esquecemos o olhar social, deixamos para trás quem mais precisa. Tenho certeza que esse estudo vem para ajudar as autoridades públicas”, completou.
O diretor do CPan Aguinaldo Silva afirmou que, a partir de agora, o Plano se torna o cartão de visita do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços. “Nosso mestrado é profissionalizante e precisa produzir conhecimento para mudar a vida das pessoas da nossa região. Esse é um trabalho que valoriza ainda mais a nossa Universidade. É um incentivo para que possamos fazer outras parcerias com o poder público e com a iniciativa privada”. O diretor lembrou, também, que a equipe da UFMS envolvida já vem desenvolvendo estudos e pesquisas há tempos e puderam contribuir muito na elaboração do plano, ajudando no fortalecimento das relações, na melhoria das condições de vida da população e, assim, no desenvolvimento da região.
Aproximadamente R$ 600 mil foram investidos pela Sudeco. Os recursos foram administrados pela Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec). Também estiveram presentes à cerimônia de entrega do plano a vice-reitora da UFMS Camila Ítavo acompanhada das pró-reitoras de Pesquisa e Pós-Graduação Maria Lígia Rodrigues Macedo e de Planejamento, Orçamento e Finanças Dulce Maria Tristão; dos diretores da Agência de Internacionalização e Inovação Saulo Gomes Moreira e de Avaliação Institucional Caroline Pauletto Spanhol; da diretora da Fapec Nilde Brun e do coordenador do estudo e professor do CPan Edgar Aparecido Costa.
Principais resultados
A equipe de trabalho reuniu 30 pessoas, entre profissionais, professores e estudantes das duas instituições de ensino superior. “Foram seis meses de trabalho de campo e dois meses na elaboração desse material que entregamos, hoje, para a Sudeco”, explicou o professor Edgar. Segundo o coordenador, os resultados culminaram nas seguintes metas e produtos: elaboração dos diagnósticos dos eixos estratégicos, diagnóstico e elaboração do plano e diagramação do plano.
“Nosso grande desafio, enquanto único Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços da América Latina, era trazer uma inovação. E qual foi essa inovação? Nós não enxergamos a faixa de fronteira de uma forma igual, porque ela é desigual. Não era possível pensar que as relações entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero são as mesmas entre Dourados e o município paraguaio. Diariamente entram e saem brasileiros e bolivianos de Corumbá e Cáceres. Então, olhar para isso de forma desigual impactou no planejamento”, ressaltou o professor.
A partir desse olhar, a equipe estabeleceu os limites da região proximal, a que se encontra exatamente na divisa entre os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso com o Paraguai e a Bolívia, e região intermediária, englobando os municípios que estão localizados até 150 quilômetros da fronteira. “As interações diárias na região proximal são muito fortes e diferentes das que acontecem na região intermediária. A partir dessa reflexão teórica, debruçamos nos dados para gerar as propostas apresentadas no Plano”, disse o coordenador.
Edgar apresentou os principais destaques em cada um dos eixos. Na área da Educação, por exemplo, os possíveis projetos são: criar um observatório para educação intercultural da fronteira; ofertar cursos de pós-graduação em nível de especialização para o trabalho em educação nas fronteiras; e programa de apoio à pesquisa, inovação e formação de pessoas. No eixo de Saúde, o plano apresenta como principais propostas: fortalecer a proteção, promoção e recuperação da saúde indígena e quilombola e promover a ampliação e resolutividade das ações e serviços da atenção primária de forma integrada e planejada com o desenvolvimento regional.
Em relação à Segurança, os projetos em destaque são: implantação de um mapa digital e dinâmico da violência contra a mulher, criação de um Centro de Cooperação Fronteiriça; efetivação da patrulha rural; implantação de scanners nas estações rodoviárias de cidades gêmeas, e aprimoramento de ações e articulações de polícias de bases comunitárias em fronteira. No eixo Desenvolvimento Econômico estão: agregação de valor aos produtos da agricultura familiar, fomento e atração de novas indústrias, programa agronegócio sustentável, e valorização da cultura e da produção quilombola e da indígena.
No eixo do Turismo, foram destacados pelo Plano: a promoção de calendário anual de eventos dos municípios, do roteiro e atrativos turísticos em municípios com turismo consolidado ou em consolidação, qualificação para atendimentos dos turistas e fomento ao turismo de experiências de fronteira. Já no eixo Meio Ambiente, os projetos destacados estão relacionados ao enfrentamento das mudanças climáticas, investimentos em energias limpas, projeto de combate aos incêndios florestais, de compensação ambiental e de créditos de carbono. Em relação à infraestrutura, os pesquisadores apontaram como importantes: a retomada de voos regionais em MT e MS, da ferrovia Malha Oeste e a implantação de obras estratégicas para as rodovias nos dois estados.
“É preciso olhar de maneira diferenciada para os municípios que compõem o que chamamos de região fronteiriça proximal, em especial para as cidades gêmeas de Cáceres, Corumbá, Porto Murtinho, Bela Vista, Ponta Porã, Coronel Sapucaia, Paranhos e Mundo Novo. Também é preciso investir em inteligência policial e cooperação com os países vizinhos para o combate ao contrabando, tráfico de drogas e de pessoas. O maior investimento precisa ser na instituição de instrumentos para geração de renda dos povos fronteiriços de modo a melhorar sua qualidade de vida. Acreditamos que uma maior tranquilidade econômica seja a arma mais eficiente para podar as asas do crime organizado”, concluiu Edgar.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Álvaro Herculano
