UFMS participa do lançamento do Comitê pró-Instituto Nacional do Cerrado

Nesta quarta-feira, 20, reitores de universidades públicas e privadas e de institutos federais localizados no Cerrado lançaram comitê que pede a criação de uma entidade de pesquisas sobre o bioma, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O evento foi realizado na Universidade de Brasília (UnB), com a intenção de sensibilizar pesquisadores, autoridades e outros setores da sociedade sobre a importância de um centro voltado à produção de conhecimento científico sobre o segundo maior bioma do país. A reitora Camila Ítavo participou da cerimônia como vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Em janeiro, reitores de 24 instituições enviaram uma carta ao presidente Lula defendendo a criação do Instituto Nacional do Cerrado como instrumento de colaboração interinstitucional e de redução de assimetrias regionais e sociais. O centro surge como uma ferramenta estratégica voltada à pesquisa, à inovação e à gestão eficiente dos recursos públicos, fortalecendo ações integradas de monitoramento da biodiversidade, das águas e do clima, além de estimular a bioeconomia e aprimorar práticas agrícolas e pecuárias.

Durante a cerimônia, a reitora da UFMS destacou o apoio da Andifes em prol do Cerrado. “No ano em que o Brasil recebe a COP 30 e que o Centro-Oeste se prepara para receber a COP 15 em março de 2026, nada é mais importante e urgente do que a gente pensar no Cerrado. Parabéns aos meus queridos colegas, parabéns às instituições, e algo muito magnífico dessa iniciativa é a relação entre universidade, governo e sociedade. É assim que a gente avança nosso Brasil e todas as nossas instituições, respeitando o bioma Cerrado, mas fundamentalmente trabalhando na dignidade de todas as pessoas por meio dessa relação de respeito e integração com a natureza”, ressaltou Camila.

A reitora da UnB, Rozana Naves, reforçou a importância cultural e ambiental do Cerrado. “É uma região de povos e comunidades tradicionais, indígenas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros, quilombolas e cenário da produção nacional de grãos, fibras e carnes, responsável pelo desenvolvimento social e econômico do país. Estamos aqui no lançamento da sede do comitê pró-Instituto Nacional do Cerrado, que se propõe como associação de 24 instituições de educação superior, públicas, federais, estaduais e comunitárias, para fortalecer a criação desse instituto vinculado ao MCTI”, afirmou.

A reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita de Lima, lembrou que o movimento vem sendo construído há anos. “De 2023 até hoje, já fizemos três grandes documentos, uma carta à ministra, uma carta ao presidente Lula. Fizemos mais de cinco, quase dez reuniões. Articulamos todas as instituições possíveis e agora, com a instalação deste comitê, é uma voz ativa para ecoar o grito do Cerrado, o pedido de socorro do Cerrado para os gestores brasileiros. Obtivemos avanços importantes, como na Conferência Regional de Ciências e Tecnologia na UFG, onde a ministra se comprometeu a dar os primeiros passos para a criação do instituto junto ao MCTI. O Cerrado foi inserido como elemento estratégico para o desenvolvimento brasileiro, mas ainda temos muito trabalho”, explicou.

A diretora do Centro UnB Cerrado, Maria Júlia Silva, reforçou a importância da articulação entre universidades. “É um evento em que congregamos diversas universidades, com seus reitores, representantes legais e professores, para participar desta iniciativa de montar um Instituto Nacional do Cerrado”, disse.

“Vocês têm todo o apoio da Academia Brasileira de Ciências para todas as frentes, para todas as lutas, para estar junto em todos os desafios, para ir falar com quem quer que seja, e a academia está totalmente à disposição”, declarou o membro da Academia Brasileira de Ciências e diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, Anderson Gomes.

O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Rodrigo Agostinho, alertou sobre a urgência da criação do instituto. “O Cerrado já é o bioma com o segundo maior número de espécies ameaçadas, pelo menos 1061, reconhecendo que a maior parte das espécies do Cerrado sequer foi avaliada. Temos uma biodiversidade estimada de mais de 320 mil espécies. Já passou da hora de termos esse instituto, assim como precisamos valorizar a pesquisa no país”, acrescentou.

O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Leandro Grass, também participou do evento. “É importante trazer a dimensão política para esse processo, com engajamento da sociedade civil, da universidade e de lideranças políticas, para que o instituto alcance seu propósito e renda frutos de sustentabilidade para todo o Brasil, especialmente no Distrito Federal, em Goiás e estados próximos. Parabéns aos cientistas e pesquisadores, contem conosco”, reiterou.

O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Mauro Pires, destacou que a presença de órgãos, além das universidades, mostra que o comitê nasce com densidade social representativa. “Essa iniciativa mostra que é fundamental avançar na defesa do Cerrado. A natureza do bioma está ligada à vida das pessoas que moram nele, e precisamos de um instituto que conecte a produção de conhecimento realizada individualmente pelas universidades, mas também melhore o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico, encontrando alternativas que conservem o bioma. Estamos no coração do Brasil, a atividade econômica é essencial, mas precisa considerar a conservação ambiental”, observou.

Também participaram da solenidade os deputados federais Rubens Otoni e Erika Kokay, e a vereadora de Goiânia e presidente da Comissão de Meio Ambiente, Kátia Maria dos Santos. Ao final do evento, foi feita a leitura da carta-compromisso pelas reitoras e reitores, realizada pela diretora da Faculdade de Comunicação da UnB, Dione Moura.

Além da UFMS, UnB e UFG, são signatárias da carta as seguintes instituições: Universidade Federal de Uberlândia, Instituto Federal de Brasília, Instituto Federal de Goiás, Instituto Federal Goiano, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Universidade Estadual de Goiás, Universidade Evangélica de Goiás, Universidade Federal de Catalão, Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Federal de Jataí, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Católica de Brasília, Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal do Tocantins, Universidade Federal de Rondonópolis, Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade Católica Dom Bosco, Instituto Federal do Tocantins, Universidade Federal do Sul da Bahia, Universidade Federal do Norte do Tocantins, Universidade Federal do Oeste da Bahia e Fundação Oswaldo Cruz.

 

Carta Compromisso

“Nós, reitoras e reitores das universidades federais, estaduais, municipais e comunitárias e dos institutos federais, reconhecemos a relevância de estarmos situados no segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado. Este bioma abrange 2.036.448 km², aproximadamente 22% do Brasil. É berço das águas de quatro grandes bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônica, Araguaia-Tocantins, São Francisco e Rio Prata.

Conhecido como a savana mais biodiversa do planeta, o Cerrado possui rica diversidade cultural e étnica, incluindo comunidades indígenas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros e quilombolas, que desenvolveram métodos de produção de alimentos e outros recursos. Nas últimas décadas, o bioma tornou-se cenário de relevante produção de grãos, fibras e carnes, impulsionando o PIB regional.

Apesar disso, o Cerrado está entre as 36 áreas de alta biodiversidade global ameaçadas, sofrendo desmatamento acelerado, fragmentação de ecossistemas, aumento de temperatura e chuvas irregulares, impactando agricultura, disponibilidade hídrica e serviços ecossistêmicos.

O comitê apresenta quatro metas: 1) viabilizar o Instituto Nacional do Cerrado como centro de excelência vinculado ao MCTI; 2) articular universidades, centros de pesquisa, setor produtivo e sociedade civil para desenvolver tecnologias adequadas ao bioma; 3) reduzir assimetrias econômicas, sociais e regionais por meio da bioeconomia e economia circular; 4) fomentar redes, instituições e parcerias, além de captar recursos nacionais e internacionais.

Ao instituirmos o comitê pró-Instituto Nacional do Cerrado, no ano em que o Brasil sediará a COP 30, reafirmamos nosso compromisso com um futuro em que conservação ambiental e mitigação das mudanças climáticas caminhem junto ao desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e bem-estar coletivo. É um chamado para união de forças, saberes e vontades para que o Cerrado floresça como legado vivo às próximas gerações.

Brasília, 20 de agosto de 2025″.

 

Texto: Heloísa Garcia

Fotos: Reprodução TV UnB e Secretaria de Comunicação da UnB