Projeto incentiva a atuação de mulheres em carreiras da área de tecnologia

As carreiras STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharias, Artes e Matemática) estão intimamente ligadas ao desenvolvimento científico e tecnológico

Segundo dados do IBGE a participação de mulheres no mercado de trabalho de tecnologia é de apenas 20%. Nos últimos anos, muitas ações vêm sendo desenvolvidas para mudar esse cenário e incentivar as estudantes a ingressarem em carreiras nesta área, contribuindo para uma maior equidade entre mulheres e homens, mas também para aumentar a quantidade de profissionais qualificados na área de tecnologia da informação. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, revelam que há um déficit de 270 mil profissionais de TI no Brasil e isso representa perda de receita estimada de R$ 167 bilhões até 2024.

Na UFMS, uma iniciativa vem sendo desenvolvida desde 2018 e já rendeu muitos frutos. Trata-se do projeto de ensino Elas Programando, que tem como objetivos motivar e acolher as meninas que ingressam nos cursos da Faculdade de Computação (Facom) da UFMS. Coordenado pela professora Luciana Montera, o projeto já envolveu a participação de 40 acadêmicas desde a sua criação, em 2018.

O projeto é desenvolvido anualmente e contempla diversas ações com foco na integração e acolhimento das estudantes calouras, além de trabalhar conceitos de programação e lógica em um ambiente on-line de programação para dispositivos móveis. “Esta é uma forma de motivar ainda mais e despertar o interesse dessas meninas para o curso que elas escolheram”, conta Luciana. A professora explica que no fim do projeto, elas têm que desenvolver um aplicativo para celular em duplas. “Apesar da escolha do aplicativo a ser desenvolvido ser livre, o trabalho deve estar associado a um ou mais dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, reforça.

“Por meio da ação recebemos as calouras dos cursos da Facom e ensinamos conceitos de lógica e programação por meio do desenvolvimento de aplicativos simples para dispositivos móveis, além de promover encontros com egressas dos cursos da Facom que atuam na área de tecnologia. Elas também são apresentadas às professoras da Faculdade, e, ainda, há uma maior integração com as veteranas, já que muitas atuam como monitoras. Isso tudo facilita também a formação de redes de contatos, promovendo um ambiente agradável e familiar para o desenvolvimento da graduação escolhida”, destaca Montera.

Luciana detalha que na primeira fase do projeto (primeiro semestre letivo) as meninas se reúnem aos sábados pela manhã, das 9h às 12h, no laboratório de informática da Facom e, por meio de Tarefas apresentadas pelas monitoras, e organizadas em apostilas desenvolvidas em conjunto pela professora e monitoras de edições anteriores, elas aprendem a desenvolver os primeiros aplicativos para celular. Estes aplicativos são desenvolvidos no App Inventor, que é uma plataforma para desenvolvimento on-line de aplicativos para celular, desenvolvida e mantida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. “Ele permite que os apps sejam desenvolvidos de forma simples e rápida, mesmo por quem não tem conhecimentos prévios de programação”, complementa a professora. “Além disso, o Elas programando também inclui visitas à empresas de TI de Campo Grande; palestras ou rodas de conversa com professoras e egressas da Facom.” No segundo semestre letivo as participantes devem desenvolver um aplicativo e apresentar para o restante da turma.

“Participar do projeto Elas Programando duas vezes e de formas diferentes têm emoções e gratificações distintas. Vale ressaltar que isso vem, também, de que fui participante do projeto durante o ensino remoto de emergência e monitora quando o projeto pode retomar as atividades presenciais”, conta a estudante de Ciência da Computação Giovanna Rodrigues Mendes. Ela ingressou no curso em 2021. “Não imaginava que seria uma das poucas meninas na área, pois escolhi o curso diante do meu amor pela programação, já que descobri um pouco desse mundo anos antes de ingressar na Universidade. Diante disso, achei interessante participar do projeto, para ficar próxima a outras meninas e nos unirmos mais. Foi uma das melhores escolhas que fiz. Cada sábado eu acordava cedo para ficar em frente ao computador e ver minhas monitoras dando aula, trazendo um pouco da experiência delas. Além disso, fiz amizades também que levarei para a vida toda”, fala Giovanna.

Estudantes apresentaram o projeto em Congresso Internacional

A estudante conta que a experiência é diferente como aluna e como monitora. “No primeiro semestre, você é apresentado à plataforma e aprende como programar, aprendendo a lógica de programação. Esse ensino foi muito importante para mim, pois me ajudou a criar uma boa base para as disciplinas que necessitam desse aprendizado. No segundo semestre, utilizamos o nosso conhecimento e buscamos e pesquisamos como fazer determinadas funcionalidades para o nosso app final. Essas atitudes são o início do que a faculdade espera que façamos, que tenhamos pró-atividade, corrermos atrás das coisas e não esperar que venham de mão beijada.”

“Neste ano de 2022, participo do projeto de ensino como monitora. Ser monitora trouxe treino na parte de docência, trabalho que não é simples e nem fácil, especialmente para mim que sou super tímida. Foi muito desafiador ficar na frente de várias meninas para transmitir o que eu aprendi. Apesar disso, sinto-me muito realizada: é uma experiência única, divertida e prazerosa a cada minuto, seja quando vejo as meninas progredindo, procurando saber mais, ou participando. Nessa etapa, fortaleci meus laços com as outras monitoras, algo que não troco por nada. Fico muito feliz de ter conhecido as três e de estar com elas, juntas, em um trabalho tão importante, e ainda, de conhecer e fazer amizade com algumas meninas”, finaliza Giovanna.

Divulgando a experiência

Apresentação no Integra UFMS 2022

Recentemente, um grupo de três acadêmicas Jhullya Eduardo Soares Martins, Giovanna Carolina Nantes de Oliveira Coelho e Júlia Alves Corazza apresentaram o projeto no 1º Congresso Internacional de Mulheres em STEAM, realizado em São José dos Campos. “Foi um evento muito importante. Estou orgulhosa, pois elas representaram todas as estudantes que já participaram do projeto, que são parte fundamental na ação”, comemora a professora Luciana.

O projeto também tem sido apresentado nas edições do Integra UFMS e em 2020 foi premiado na categoria Projeto de Ensino de Graduação.

Importância dos projetos de ensino

“Os projetos de ensino são uma ótima oportunidade, não apenas para acadêmicos, mas também para os professores que coordenam ou se envolvem com as ações, pois conseguimos criar um ambiente de aprendizado mútuo e colaborativo”, avalia.

Ainda para a coordenadora, são ferramentas importantes que os docentes podem utilizar para acrescentar na formação dos acadêmicos. “Podemos trabalhar conteúdos adicionais aos apresentados por uma disciplina, podemos, a partir da visão do estudante, ajustar a forma e os materiais trabalhados anteriormente em sala e produzir materiais inéditos e inovadores que poderão ser utilizados com os próprios alunos do curso. Além disso, estudantes que participam de um projeto de ensino estreitam relações com os colegas participantes, bem como com os professores e essa integração fortalece o sentimento de pertencimento e integração, tão importantes ao longo da graduação”, apontou.

Quem quiser, pode conhecer um pouco mais sobre o projeto acessando facom.ufms.br/elasprogramando

 

Texto: Vanessa Amin

Fotos: Acervo do projeto Elas Programando