Pesquisadores propõem método para diagnóstico rápido da Covid-19

Um grupo de pesquisadores da UFMS em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/MS) iniciaram as pesquisas para o desenvolvimento de um método para diagnóstico rápido de Covid-19. Sob a coordenação do professor Cicero Rafael Cena do Instituto de Física (INFI) da UFMS, pretende-se desenvolver um método rápido e de baixo custo empregando espectroscopia óptica em amostras de biofluidos provenientes de pacientes portadores do vírus.

“A partir desse diagnóstico rápido, ações podem ser tomadas visando o tratamento ou isolamento do doente, dependendo do quadro clínico. Estão envolvidos pesquisadores da UFMS de diferentes áreas do conhecimento, além das pesquisadoras Alexsandra Rodrigues de Mendonça Favacho e Zoraida del Carmen Fernandez Grillo, da Fiocruz/MS”, explica Cícero. Participam também da equipe os professores: Bruno Spolon Marangoni e Samuel Leite de Oliveira do INFI, Carla Cardozo Pinto de Arruda do Instituto de Biociências e Teófilo Fernando Mazon Cardoso da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição.

De acordo com o coordenador do projeto, pesquisadores da Faculdade de Medicina também estão apoiando o grupo de trabalho a fim de viabilizar a realização da pesquisa. “Estamos em fase inicial e pretendemos em outra etapa envolver acadêmicos dos cursos de pós-graduação na execução das atividades do projeto”, comenta Cícero.

“As técnicas de espectroscopia óptica já estão consolidadas. Essas técnicas têm sido utilizadas para diagnóstico, por exemplo, de câncer, dengue, Zika, diabetes e leucemia. Como o grupo já tem experiência no uso espectroscopia óptica em biofluidos associado com aprendizagem de máquina – learning machine – optamos em submeter essa proposta levando isso em consideração”, relata Cena.

Segundo o pesquisador, a vantagem maior da técnica é o protocolo de análise que possibilita resultados rápidos. “A partir do momento que se tem a amostra pronta para medição, a estimativa é de que os resultados estejam disponíveis em cerca de cinco minutos. Outro ponto positivo é que o reduzido custo com consumíveis, pois não é necessária a utilização de reagentes. É preciso apenas ter o equipamento instalado. Assim, o custo total da análise é desde coleta até o diagnóstico pode ser estimado na faixa entre R$ 5 a R$ 10 para cada teste”, destaca o coordenador da pesquisa.

“Estamos entrando em contato com os laboratórios da Redevírus do Ministério da Ciência, Tecnologias, Informação e Comunicações para tentar adquirir amostras do RNA do COVID-19 para os testes controlados. Com isso, pretendemos introduzir pequenas quantidades de RNA em saliva para saber se a técnica se mostra eficiente para o diagnóstico da Covid-19. A partir daí, caso tenhamos sucesso, o projeto entra em uma nova fase, na qual seriam feitos testes com pacientes de hospitais do Estado”, explica Cícero.

Técnica já foi utilizada em outros projetos

De acordo com o pesquisador, a técnica apresentou resultados positivos no diagnóstico de leishmaniose visceral e tripanossomíase canina, motivando o grupo de trabalho a adotar a mesma abordagem para o diagnóstico da COVID-19. “Utilizamos com sucesso o soro sanguíneo para realizar os diagnósticos. A parceria foi fruto da pesquisa de mestrado do discente Gustavo S. Larios do Programa de Pós-graduação em Ciência dos Materiais e contou com  a colaboração do professor Carlos Nascimento da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, que possuía um banco de amostras utilizado nos testes, e também do Grupo de Óptica e Fotônica do INFI”, conta Cícero.

Espectroscopia Óptica

A espectroscopia de absorção no infravermelho é uma técnica que permite analisar a interação da luz com a matéria. Para tanto é preciso um equipamento, chamado de espectrômetro (foto), que mede a luz que é transmitida pelo material analisado. No espectrômetro, uma fonte de luz emite um feixe de luz com energia e comprimento de onda bem definido, este feixe ao passar pela amostra pode interagir com o meio; o feixe transmitido é monitorado por um fotodetector. Logo, um espectro característico da absorção de radiação eletromagnética do material é obtido,  que pode servir como espécie de “impressão digital” e possibilitar a identificação do mesmo.

“No laboratório de Óptica e Fotônica do INFI temos disponível a técnica de espectroscopia de absorção no infravermelho. Utilizamos uma região no infravermelho na qual as moléculas que compõe a amostra têm assinaturas espectrais bem definidas. É como se eu pudesse tirar uma ‘impressão digital’ da amostra com base em toda a composição molecular da amostra.”, destaca Cícero. De acordo com o pesquisador, a partir desses dados, coletados de uma série de amostras, uma análise baseada em métodos de aprendizagem de máquina será realizada, permitindo classificar os grupos. “A aprendizagem de máquina possibilitará classificar os casos de indivíduos saudáveis e infectado”, conta Cícero.

Outras fontes de financiamento

Além de ser contemplado no edital de seleção de ideias, ações e projetos de pesquisa, extensão e inovação relacionados ao enfrentamento do coronavírus (Covid-19) da UFMS, o grupo de pesquisadores submeterá a proposta em editais de agências de fomento como CAPES e CNPq. “Por meio desses editais, caso seja aprovada a nossa proposta, contaremos com bolsas para alunos e recurso para aquisição de materiais de custeio e equipamentos”, conclui o coordenador da pesquisa.

Se você é professor, acadêmico e servidor da UFMS e tem uma boa proposta para incrementar o enfrentamento do coronavírus (Covid-19) em nossa Universidade, clique aqui e saiba como participar do edital específico para projetos dessa natureza.

Texto: Vanessa Amin 

Foto: Everton Chaves