Pesquisa avalia de forma sistêmica e integrada a Covid-19 no Estado

Projeto integra 35 pesquisadores e profissionais de instituições de ensino e pesquisa, hospitais e órgãos públicos

 

Com o objetivo de promover ações integradas de pesquisa, vigilância e suporte técnico-científico a gestores e profissionais da saúde, para fortalecer e regionalizar o enfrentamento da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, um grupo de pesquisadores e profissionais de diversas áreas e instituições se uniram e submeteram um projeto de pesquisa no edital lançado pela UFMS e que visa apoiar ideias e estudos relacionados ao coronavírus e à doença por ele provocada.

Coordenados pelos pesquisadores da Faculdade de Medicina (Famed) James Venturini e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição (Facfan) Ana Rita de Castro Coimbra Mota, a equipe de 26 colaboradores pretende avaliar os aspectos moleculares, epidemiológicos, clínicos, imunológicos e de vigilância da Covid-19 no estado. “Em linhas gerais pretendemos conhecer mais sobre a dinâmica da doença em Mato Grosso do Sul avaliando todos esses aspectos e, assim, responder questões que não foram esclarecidas. Também, pretendemos evitar surtos virológicos nos hospitais, prejudicando ainda mais o sistema de saúde”, explica o professor James. Além de servidores da UFMS participam, pesquisadores e profissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), dos hospitais Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap) e Regional Rosa Pedrossian (HRMS), do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

“Um grupo de pesquisadores do programa de pós-graduação (PPG) em Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) da UFMS se reuniu para pensar qual seria a melhor forma de contribuir para o cenário atual provocado pela pandemia da Covid-19. Tradicionalmente, os projetos de pesquisa desenvolvidos no PPG tem um apelo muito forte de inserção social, ou seja, sempre há a preocupação de vincular os estudos com as demandas da sociedade”, comenta o professor James.

De acordo com Venturini, em especial o grupo do DIP e da Fiocruz-MS vem atuando há algum tempo na busca de soluções de problemas em saúde pública e a parceria com os gestores municipais e estaduais tem sido uma constante no desenvolvimento dos estudos. Neste trabalho, as investigações e ações serão baseadas em sete eixos temáticos: a) aspectos moleculares e filogenéticos dos isolados de SARS-CoV-2, b) aspectos epidemiológicos e clínicos, c) aspectos imunológicos, d) sequelas pulmonares, e) vigilância virológica em profissionais da saúde, f) produção de respostas rápidas (rapid reviews) para tomadas de decisão por gestores, e g) produção de materiais didáticos para educação continuada.

“Dentro das competências e habilidades de cada um, decidimos em um primeiro momento dar atenção especial aos profissionais da saúde, pois eles pertencem ao grupo de risco e estão em contato direto com pacientes doentes e aqueles que estão infectados, sem saber muitas vezes. Por isso, um dos eixos desse projeto é trabalhar de tal forma a fazer uma vigilância desses profissionais. Mas o projeto também pretende abordar os aspectos clínicos, epidemiológicos, imunológicos, de sequelas que por ventura podem acometer os pacientes, além da produção de evidências científicas que possam servir de base para os gestores públicos tomarem medidas de enfrentamento, trabalho educacional, entre outros”, explica James.

Os pesquisadores aguardam o parecer da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde, para iniciar os trabalhos e, enquanto isso não acontece, estão atuando de forma coordenada com o Lacen na realização de exames diagnósticos. “Enquanto aguardamos a avaliação pela Conep, iniciamos o diagnóstico por biologia molecular nas amostras biológicas. Essa ação acontece de forma articulada com o Lacen para que possamos padronizar e credenciar os laboratórios e, assim, atuarmos como colaboradores. Além da Cidade Universitária, o campus de Três Lagoas e outras instituições como a Embrapa, a UFGD, Universidade Católica Dom Bosco também participam dessa rede, pois entendemos que sem diagnóstico não é possível haver pesquisa de qualidade” ressalta Venturini.

Outra ação está relacionada a demandas do Humap e HRMS para que sejam realizados diagnósticos de Covid-19 em profissionais de saúde que estejam com sintomas indicativos de uma possível gripe ou infecção por coronavírus. “Estes testes são feitos em nosso laboratório localizado na Famed e diferem de acordo com o tempo de ocorrência dos sintomas. Os profissionais estão sintomáticos por até sete dias, tem material coletado via swab do nariz e boca para detecção de vírus por biologia molecular. Já aqueles que apresentam sintomas por mais de sete dias, fazemos testes rápidos para detecção de anticorpos do coronavírus”, explica James.  Após a aprovação do projeto pela Conep, a intenção é realizar testes em profissionais assintomáticos.

Além de profissionais de saúde, o projeto deve incluir pacientes dos dois hospitais e das unidades de referência para Covid-19 em Campo Grande. “Após aprovação pela Comissão Nacional de Ética, também pretendemos submeter o projeto junto às principais agências de fomento estadual e federal”, diz o coordenador. O grupo espera obter como resultados a melhoria no atendimento clínico dos pacientes; implantar estrutura laboratorial para liberação rápida de resultados e possibilitando o isolamento dos casos positivos e consequentemente a interrupção da cadeia de transmissão do vírus; melhoria da qualidade de trabalho e mais proteção aos profissionais de saúde; fortalecer as parcerias institucionais, produção e publicação de artigos sobre a Covid-19; criar estratégias para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes com sequelas da doença; além de auxiliar na formação e qualificação de recursos humanos; incentivar a participação de acadêmicos de graduação e pós-graduação, além da implantação de novos serviços de biologia molecular na UFMS. “Acreditamos que não só a UFMS, mas toda a sociedade terá grandes ganhos com a pesquisa”, destaca James.

O projeto conta com o apoio das seguintes unidades de saúde e laboratórios: Laboratório de Imunologia Clínica e Multiusuário de Pesquisa 1, da Facfan; Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias, salas e Núcleo de Evidências da Famed; Humap e HRMS, Unidade de Pronto Atendimento Universitário e Lacen/SES. “Inicialmente nossa proposta contempla estudos durante dois anos, principalmente porque iremos avaliar possíveis sequelas da Covid-19, como por exemplo, alterações funcionais pulmonares ou sensitivas, de olfato, por isso nosso estudo também é prospectivo, ou seja, iremos acompanhar os pacientes por algum tempo até que sejam feitas todas as avaliações possíveis”, explica o coordenador.

Integram o grupo de pesquisa: Sandra Maria Leone do Vale de Oliveira, Mariana Croda, Livia Probst, Nalvo Franco de Almeida Júnior, Ana Paula da Costa Marques, Gabriela Alves César, Mauricio Antônio Pompilho, Rinaldo Poncio Mendes, Anamaria Mello Miranda Paniago, Marcel Arakaki Asato, Bruna Parussolo Bordon, Ines Aparecida Tozetti, Aline Pedroso Lorenz, Alda Maria Teixeira Ferreira, Marcelo Luiz Brandão Vilela, Édis Belini Júnior e José Augusto Neto da UFMS; Júlio Henrique Rosa Croda e Rivaldo Venâncio da Cunha da UFMS/Fiocruz-MS), Cláudia Volpe (Humap/HRMS); Vânia Silva dos Reis e Silvia Naomi Oliveira Uehara (Humap); Adriana Negri e Thiago Franchi Nunes da UFMS/Humap; Luiz Henrique Demarchi, Gislene Lichs e Ana Olivia Pascoto Esposito do Lacen/SES; Zoraida Fernandez, Alexandra Favacho e Ana Tereza Guerreiro da Fiocruz-MS; do Humap; Crhistinne Maymone Gonçalves de Oliveira, da SES; Ana Carla Pereira Latini (Instituto Lauro de Souza Lima) e Simone Simionatto da UFGD, além das gerências do HRMS e gerência de Ensino e Pesquisa do Humap.

Texto: Vanessa Amin

Fotos: Acervo DIP/UFMS