Iniciativa do Sebrae Nacional, o Catalisa ICT tem como objetivo a transformação do conhecimento científico em soluções de alto impacto, impulsionando negócios deeptech e convertendo pesquisas acadêmicas em inovações que promovem o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Neste ano, foi realizada a segunda edição da iniciativa e três propostas foram aprovadas para a segunda etapa, todas coordenadas por pesquisadores da UFMS: duas da Cidade Universitária, envolvendo pesquisadores do Instituto de Física (Infi), Instituto de Biociências (Inbio) e Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição (Facfan), e uma do Câmpus da UFMS em Três Lagoas (CPTL).
As pesquisas obtiveram destaque nas duas primeiras etapas, sendo selecionadas entre quase mil pesquisas do país, com potencial de inovação, e estão entre as 300 que conseguiram passar para a segunda fase.
Nesta etapa do Catalisa ICT, as equipes passam por capacitações, mentorias, acompanhamento individual e acesso a serviços tecnológicos. Também serão transformados os Planos de Inovação em novas deeptechs, além de receberam apoio financeiro por meio de bolsas de estímulo à inovação.
Protocolos terapêuticos
Uma das propostas é coordenada pelo professor do Laboratório de Óptica e Fotônica do Infi Anderson Caires. O plano contempla o desenvolvimento de um dispositivo vestível de fototerapia, capaz de realizar tratamentos baseados em fotobiomodulação, que usa comprimentos de onda específicos da luz para acelerar processos de cicatrização, reduzir inflamações e aliviar dores, e a terapia fotodinâmica. A solução integra LEDs e OLEDs de alta eficiência, materiais flexíveis e biocompatíveis, além de sensores inteligentes e interfaces digitais que permitem o monitoramento e a personalização dos protocolos terapêuticos.
A pesquisa conta com a participação dos pesquisadores Montcharles Pontes e Marcela Maffei, ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais, e do professor do Infi Samuel Oliveira.
“Com essa iniciativa, pretende-se ampliar o acesso a terapias não invasivas, seguras e eficazes, possibilitando que tratamentos antes restritos a ambientes clínicos especializados sejam realizados de forma domiciliar, com maior conforto, autonomia e redução de custos. O projeto também se propõe a estimular a criação de uma empresa de base tecnológica (spin-off), fortalecendo o ecossistema de inovação em saúde e fomentando a geração de empregos qualificados e o desenvolvimento regional”, explica Caires.
De acordo com os pesquisadores, além do impacto direto na área da saúde, a proposta está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, em especial o ODS 3 – Saúde e Bem-Estar e o ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura, ao promover inovação tecnológica voltada ao bem-estar social, sustentabilidade ambiental e estímulo à competitividade nacional.
“A aprovação no Catalisa ICT, iniciativa nacional do Sebrae voltada ao fortalecimento da ciência aplicada e da inovação, reafirma o compromisso da UFMS com a pesquisa científica de excelência e com a transformação de conhecimento em soluções tecnológicas capazes de impactar positivamente a sociedade”, comemora.
Outro plano de inovação contemplado foi o submetido pela spin-off Arandu Biotecnologia e refere-se a um corante natural vermelho produzido a partir de um microrganismo do Pantanal. A spin-off tem como sócios-fundadores os professores do Inbio Edson dos Anjos e da Facfan Denise Brentan, além do farmacêutico e pós-doutor pela UFMS Arthur Ladeira Macedo.
Atualmente, as atividades são desenvolvidas no Laboratório de Produtos Naturais e Espectrometria de Massas. “Sabe aquela sementinha de querer inovar, fazer, foi isso que nos uniu. Todos nós tínhamos essa vontade e quando vimos que havia uma necessidade do mercado em relação ao que estávamos desenvolvendo, decidimos por esse caminho”, relata Denise.
Edson acrescenta que, desde o início da Arandu, o grupo vem participando de editais para alavancar a ideia. “Tivemos um amadurecimento em relação à empresa. É diferente participar de editais que envolvem a academia e aqueles que envolvem inovação. O Catalisa é um deles”, fala.
A Arandu Biotecnologia passou pelo processo de incubação no Hub Pantanal Inovação e Modelagem Empreendedora, em 2021, e, hoje, é, oficialmente, a primeira spin-off da UFMS. No momento, estão sendo desenvolvidos quatro projetos relacionados ao corante natural vermelho, contemplados pelo edital de Bioeconomia do Governo do Estado; pelo Tecnova, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos e do Governo de MS; o Inova Pantanal e o Catalisa ICT, ambos promovidos pelo Sebrae.
“O principal corante natural vermelho comercializado, hoje, não consegue suprir a demanda, além da produção ser proibida em diversos países, por ser considerado uma praga agrícola”, explica Macedo. Trata-se do carmim de cochonilha, um inseto cultivado principalmente no Peru, responsável por 90% da comercialização mundial. “Existem outras alternativas, como o urucum, por exemplo, mas com utilização limitada, já que não é solúvel em água. Nosso corante é vegano e pode atender mercados onde há limitação em relação ao uso de produtos com base em insetos”, acrescenta o professor Edson.
Segundo os pesquisadores, as indústrias, em especial as localizadas na América Latina, estão buscando por algo mais viável e essa lacuna tem motivado o grupo a investir no produto. “Partimos do desenvolvimento tecnológico da fermentação, secagem, obtenção do extrato, aplicação em produtos, testes toxicológicos para obtenção do registro junto à vigilância sanitária. Isso já está em andamento”, fala Arthur. Em relação à aplicabilidade do corante é bastante diversificada. “Alimentos, têxtil, cosméticos, itens de decoração, tintas (tecido, aquarela, látex), conseguimos aplicar em várias matérias-primas e obtivemos um resultado muito bom em relação à estabilidade e à coloração obtida. Nos alimentos, por exemplo, não houve alteração no sabor ou aroma”, enfatizam.
Transtorno do Espectro Autista
Já o plano proposto pela professora do CPTL Sônia Jurado tem como objetivo validar um protocolo clínico inovador que usa laserterapia transcraniana junto com análises moleculares e da microbiota intestinal, para melhorar a vida de pessoas com autismo. “Queremos reduzir crises, melhorar a comunicação, interação social e até sintomas gastrointestinais. Especificamente, trabalhamos para diminuir a neuroinflamação em autistas e garantir que as famílias também se sintam acolhidas no processo”, elucida.
“A motivação veio do desejo de transformar ciência em prática, de tornar o protocolo de pesquisa do pós doutorado em inovação tecnológica, o qual ainda precisa de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Isso me fez acreditar que valia a pena submeter”, confessa a professora. “Para o CPTL, essa conquista é muito significativa: mostra que podemos ser protagonistas em inovação em saúde, trazendo uma tecnologia que alia ciência de ponta e impacto social. Isso fortalece a pesquisa no câmpus e abre portas para novas parcerias e startups”, diz Sônia.
Além da docente, fazem parte da equipe: o professor, médico pediatra e pesquisador da UFMS Durval Batista Palhares; o professor Almir de Sousa Martins; e o estudante de Medicina Gabriel Felipe Riquelmes Bogamil.
A pesquisadora ficou muito feliz quando soube do resultado da segunda etapa. “Dentre os 854 planos de inovação submetidos ficamos no 64º lugar. Isso porque estou aprendendo sobre inovação tecnológica e nossa classificação traz uma sensação de reconhecimento, mas também de responsabilidade com as famílias que esperam por soluções acessíveis”, conta.
“Esse plano não é só ciência, é também sobre pessoas. Nosso foco é melhorar a qualidade de vida de famílias que, muitas vezes, não têm acesso a tratamentos caros e especializados. Também trazemos um olhar sustentável, reduzindo o uso de medicamentos e o impacto ambiental. Acredito que o CPTL tem muito a ganhar com essa conquista, e fico feliz em ver a Universidade dando passos firmes para transformar conhecimento em soluções reais”, finaliza Sônia.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Vanessa Amin e arquivo dos pesquisadores


