Pesquisadores da Famez testam ozônio no congelamento de sêmen e planejam pesquisas com o gás para cicatrização

Pró-oxidante, o gás ozônio, aplicado em dose controlada, estimula os mecanismo de defesa do corpo, com efeitos antioxidantes, antiinflamatório e analgésico. Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez), a utilização do ozônio começa a ser pesquisada.

A ozonioterapia, inicialmente muito pesquisada na metade do século passado, volta agora a ganhar espaço na saúde e está difundindo-se na veterinária. Inicialmente, o professor Breno Fernandes Sampaio está testando o ozônio na pesquisa “Efeito de substâncias pró-oxidantes e antioxidantes adicionadas ao sêmen equino refrigerado e criopreservado”.

“O ozônio é feito de três moléculas de oxigênio que causa uma resposta antioxidante pelo seu efeito pró-oxidante. Em nível sistêmico há uma série de benefícios como a cicatrização ou cura de doenças. Mas nosso primeiro estudo quer verificar a melhor resistência dos sêmens de equinos congelados”, explica o professor Breno.

Fotos: Breno Sampaio

Isso porque cerca de 30% dos cavalos são conhecidos por serem maus congeladores, ou seja, o sêmen quando descongelado apresenta, em boa parte, qualidade ruim. “A refrigeração e criopreservação do sêmen equino são ferramentas de grande importância para a indústria de reprodução equina, contudo, podem causar grande estresse ao espermatozoide, principalmente no que diz respeito ao aumento da produção de espécies reativas de oxigênio”, afirma o pesquisador.

A pesquisa será inédita na área. Até então, o único pró-oxidante testado foi óxido nítrico, que apresentou bons resultados mas com sêmen de bovinos. Breno explica que, diferentemente dos bovinos, os equinos são selecionados pelo resultado de competição, salto, corrida, disposição, e a fertilidade acaba não sendo uma preocupação inicial, como no caso dos bovinos, geralmente escolhidos pelo desempenho genético, reprodutivo e também pela boa produção de carne ou leite.

“Se melhorarmos a resistência do material congelado, teoricamente será um sêmen de maior fertilidade”, diz o professor. Pela pesquisa serão analisadas as variáveis de motilidade total, motilidade progressiva, velocidades retilínea, curvilinear e média, integridade de membrana plasmática, atividade mitocondrial, fragmentação do DNA e a susceptibilidade a lipoperoxidação.

Essa primeira pesquisa, que inclui a análise do ozônio, é parte do tema do doutorando do Programa de Doutorado em Ciências Veterinárias Bruno Gomes Nogueira, que está realizando a coleta de sêmen de cinco garanhões. Além do ozônio, os pesquisadores também irão analisar outros antioxidantes. “Estamos tentamos várias alternativas para melhorar a congelação desse sêmen”, diz.

Para o experimento, os pesquisadores contam com um aparelho de uso particular, que transforma, por descarga elétrica, o O2 (oxigênio) em O3 (ozônio). A ideia é que a Famez consiga realizar no futuro a compra do aparelho, o que poderá aumentar o número de pesquisas na área, tanto em grande como em pequenos animais.

Nos testes com sêmen, os pesquisadores coletam o material dos equinos, processam, centrifugam para tirar o sobrenadante e diluem para o resfriamento ou a congelação, separando em vários grupos com substâncias em concentrações diferentes.

Vias

O ozônio tem varias vias de utilização. Pelo uso tópico, aplica-se nas feridas o óleo ozonizado. “Quando se passa o óleo nos animais, as moléculas se transformam em pró-oxidantes – lembrando que tem de ser uma oxidação leve, e acabam por estimular a regeneração tecidual e por consequência a cicatrização”, expõe o professor.

Outra forma é por meio de bagging, em que a lesão é coberta com um saco fechado com fita isolante. O gás é inserido no saco insuflado e ali permanece por cerca de 30 minutos para que ocorra a reparação tecidual. O mesmo acontece no cupping, mais direcionado a lesão pequena, em que um recipiente com furo é colocado sobre a lesão e por meio desse furo insere-se o ozônio.

As vias transretal e subcutânea também são bastante utilizadas, principalmente para o alivio da dor. “O tratamento com ozônio é barato, traz muitos benefícios, mas é uma linha que não é aceita por todos. Ainda são necessárias pesquisas mais aprofundadas”, segundo Breno. “Mas para feridas de difícil resolução não há nada melhor”, completa.

A partir dessa etapa, o professor Breno espera iniciar outras pesquisas que envolvam trabalho com cicatrização em equinos e recuperação da degeneração testicular, com uso inclusive do óleo ozonizado, que será produzido na Famez a partir da mistura do ozônio com óleo de gergelim ou uva.

Texto: Paula Pimenta