O laboratório e grupo de pesquisa ATRIVM Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade, desenvolveu a cartilha Um Dia no Museu – A Formação e o Acervo de Numismática do Museu Histórico Nacional Volume 3. A publicação, destinada a alunos da educação básica, com linguagem acessível e ilustrações que levam três personagens para um passeio dentro do museu, foi indicada como uma das cinco melhores publicações do Brasil no 2º Prêmio Literário Florisvaldo dos Santos Trigueiro, da Sociedade Numismática Brasileira.
Estudar o passado é uma importante ferramenta para que possamos compreender o presente e o futuro. Pesquisadores das áreas das Ciências Humanas e Sociais se empenham para desvendar e construir os caminhos que nos trazem até aqui. O numismata é um desses profissionais, que se dedicam a estudar, sob o ponto de vista econômico, religioso, artístico e histórico, as cédulas, moedas, medalhas, sinetes e selos desde a Antiguidade até os tempos atuais.
O coordenador do projeto de pesquisa e professor da Faculdade de Ciências Humanas, Carlos Eduardo da Costa Campos, explica que a cartilha foi desenvolvida a partir de um Acordo de Cooperação entre a UFMS, a Universidade do Minho, em Portugal, e o Museu Histórico Nacional, que fica no Rio de Janeiro. O projeto levou cerca de um ano para ser elaborado, e envolve pesquisa científica, ilustração, roteirização, revisão da linguagem para ser empregada nas escolas, e tem o objetivo de popularizar os acervos museológicos.
“A partir dessa junção, conseguimos refletir sobre as moedas, sobre o acervo de numismática, a história dele e, a partir desse diálogo, levá-lo para a sala de aula, que é o nosso público. […] Tanto escolas que estão na capital, quanto escolas de outras cidades, como Aquidauana, Anastácio, Coxim, Ponta Porã, Alcinópolis. Todas essas escolas do estado recebem o nosso material através da divulgação que nós fazemos no nosso portal, e também pelos professores, porque enviamos para eles fazerem a divulgação, e temos tido uma capilaridade muito grande”.
De acordo com o professor, a cartilha é resultado do projeto de pesquisa sobre as moedas Júlio-Claudianas que estão disponíveis no acervo do Museu Histórico Nacional, e envolve mais de 20 pesquisadores do Brasil e do exterior. “O projeto lida diretamente com a circulação monetária do Império Romano, no período conhecido como Principado, que se inicia com o Imperador Augusto e vai até o século 3”, explica.
O estudo envolve profissionais de campos como a arqueologia, letras clássicas e a história, e lida não apenas com os objetos em si, mas também com as representações que existem no uso das moedas, a linguagem política, a linguagem religiosa e o próprio funcionamento da economia entre os séculos 1 a.C. e 3 d.C. Ao mesmo tempo em que os pesquisadores investigam a trajetória política e econômica do período, eles ainda realizam o trabalho prático da numismática.
“O estudo tem uma face de escrita histórica, histórico-arqueológica, e também tem uma face prática, que é a do trabalho de técnicas e métodos de numismática, que é a fotogrametria, a leitura dos objetos, tradução e disponibilização desse material na base de dados do Museu Histórico Nacional, o Tainacan”, comenta.
Popularização do conhecimento
Em um primeiro momento, os termos utilizados no campo da numismática podem soar diferentes, mas o professor afirma que essa não é a realidade, principalmente quando consideramos que todas as pessoas utilizam moedas e cédulas no próprio cotidiano. “O dinheiro faz parte das sociedades humanas, e o projeto reflete sobre esse dinheiro, reflete sobre os usos, sobre os problemas econômicos e as crises que já foram geradas na história e sobre práticas de educação financeira”.
“É um campo de pesquisa, muito antigo, já temos ele consolidado junto com a arqueologia e a epigrafia desde o século 19 como áreas. São importantes porque estudam as moedas, as cédulas posteriormente, os sinetes, os selos, como a filatelia. É um campo que estuda a circulação de imagens, de valores econômicos, de padrões de consumo, que vão desde a Antiguidade até os dias atuais. Isso conta a história das populações ao longo do tempo, conta a história econômica, conta a história religiosa pelos símbolos, e culturais”.
Essa investigação não se limita apenas aos próprios pares, já que os pesquisadores se preocupam, principalmente em levar todos os aprendizados para os alunos das escolas básicas. “O estudo da moeda é importante para a sociedade porque gera uma circulação, através da base de dados e das cartilhas, de um dos maiores acervos da América Latina, que é o acervo de moedas do Museu Histórico Nacional, que está no nosso país, sob nossa tutela. É um pedaço desse Mediterrâneo Antigo que chegou aqui até nós através dessa coleção”.
Texto: Agatha Espírito Santo
