Atendimento gratuito da UFMS de Três Lagoas ajuda a identificar e tratar casos de hanseníase

A Clínica Escola Integrada do Câmpus da UFMS de Três Lagoas (CPTL) integra a rede de atenção à saúde do município, com atendimentos gratuitos à comunidade por meio do Programa de Eliminação da Hanseníase. As consultas são realizadas todas às quartas-feiras, das 7h às 11h, por estudantes sob supervisão de professores da Universidade, como parte do projeto de extensão Práticas de Cuidado em Hanseníase.

De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2025 do Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país entre os que mais registram novos casos de hanseníase no mundo. De 2014 a 2023, foram registradas 309.091 notificações da doença no país. Ainda de acordo com o documento, a região Centro-Oeste é a que possui a maior taxa de detecção geral de casos novos de hanseníase a cada 100 mil habitantes.

A doença é manifestada por: manchas brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas e/ou pela alteração da sensibilidade térmite, dolorosa ou tátil de uma área da pele;  comprometimento do(s) ervo(s) periférico(s) associado a alterações sensitivas, motoras e/ou autonômicas; diminuição dos pelos e do suor em determinadas áreas; sensação de formigamento e/ou fisgadas, principalmente nas mãos e nos pés; diminuição ou ausência da sensibilidade e/ou da força muscular na face, mãos e/ou pés; e caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos.

Ainda conforme o Ministério da Saúde, por ser uma doença infectocontagiosa, a hanseníase permanece como um problema de saúde pública no Brasil, tendo notificação compulsória e investigação obrigatória dos contatos que convivem ou conviveram, residem ou residiram, de forma prolongada, com alguém que tenha sido diagnosticado com a doença.

Em Mato Grosso do Sul, a UFMS tem atuado no enfrentamento da hanseníase com a formação de profissionais e a oferta de serviços à população. “[Temos] uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Três Lagoas, tanto é que a Clínica Escola já está cadastrada no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. A gente faz parte dessa rede de atenção à saúde aqui do município de Três Lagoas de forma complementar, prestando esse tipo de atendimento à comunidade, até como um compromisso mesmo social da Universidade”, apresenta o professor do curso de Enfermagem do CPTL e coordenador da iniciativa, Edirlei dos Santos.

Durante o atendimento, são oferecidas consultas de enfermagem, avaliação neurológica simplificada, avaliação de contatos de casos e ações de educação em saúde.

Santos alerta que, embora a hanseníase tenha tratamento e cura, a doença pode deixar sequelas permanentes quando o diagnóstico ocorre tardiamente. “O grande problema da hanseníase não é a pele, mas os nervos. A bactéria que causa a doença destrói os nervos periféricos, responsáveis por sensações como frio, calor e dor. Quando o diagnóstico da doença é feito de forma muito tardia, essa pessoa pode chegar no serviço já com dedos das mãos em garras, com o pé que a gente chama pé caído, tudo comprometimento desses nervos que já foram afetados pela bactéria”, explica.

O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado nos principais sintomas da hanseníase, como manchas dormentes, perda de sensibilidade e fraqueza muscular. “Muitas vezes não é um sintoma que incomoda. A manchinha dormente, que não pega pó, que cai o pelo e que, muitas vezes, a pessoa pode achar até engraçado e mostrar para as pessoas próximas: ‘olha, tem uma mancha aqui’, ‘eu furo, eu corto e não sinto nada’, como se fosse algo diferente, como se fosse ‘olha, eu tenho um superpoder’. Não, isso é um sinal clássico que a gente precisa pensar em hanseníase”, esclarece o professor.

As pessoas interessadas em receber atendimento devem procurar a unidade básica de saúde mais próxima para o encaminhamento e o agendamento junto à Clínica Escola Integrada da UFMS de Três Lagoas.

Clínica Escola Integrada

Inaugurada em 2021, a Clínica Escola Integrada do CPTL está localizada na Unidade 1 e oferece, desde agosto, consultas ambulatoriais, médicas e de enfermagem para pacientes regulados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em áreas como clínica geral e dermatologia. Os atendimentos médico-ambulatoriais são voltados para casos de baixa e média complexidade, mediante agendamento e conforme a disponibilidade de vagas.

O local ainda oferta práticas integrativas e complementares, como auriculoterapia e ventosaterapia, além de atendimentos de fisioterapia para a população com 60 anos ou mais participante do programa institucional Universidade Aberta à Pessoa Idosa.

Texto: Heloísa Garcia