O Brasil é o quinto país que mais produz lixo eletrônico no mundo. Dados do Monitor Global de Lixo Eletrônico da Organização das Nações Unidas indicam que, em 2022, o país produziu 2,4 milhões de toneladas, ficando atrás do Japão, com 2,6 milhões; Índia, com 4,1 milhões; Estados Unidos, com 7,2 milhões; e China, com 12 milhões. No mundo todo, foram geradas 62 milhões de toneladas e apenas 22,3% desses resíduos foram coletados e reciclados de forma adequada.
O consumo e a produção responsáveis, expressos pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12, são um dos valores da Universidade, por meio da sustentabilidade, presente em ações de ensino, pesquisa, extensão, empreendedorismo e inovação. Uma das principais iniciativas neste sentido é a Semana de Arrecadação do Lixo Eletrônico. O projeto de extensão da Faculdade de Computação (Facom), coordenado pela professora Luciana Montera, é realizado anualmente, com a parceria da Diretoria de Sustentabilidade (Dides) da Pró-Reitoria de Cidadania e Sustentabilidade (Procids), liderada pelo servidor Leonardo Chaves.
O lixo eletrônico é considerado como qualquer item que para funcionar precisa de energia. Quanto descartado de forma incorreta, pode trazer danos à saúde e ao meio ambiente, pois é rico em aditivos tóxicos e substâncias perigosas, como metais pesados, entre eles o mercúrio. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, o contato de uma pessoa com o mercúrio, seja via pele, por inalação ou ingestão, pode acarretar danos neurológicos graves, irritação pulmonar e até insuficiência, irritação gastrointestinal, além de aumentar risco de doenças cardiovasculares.
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, a responsabilidade do descarte desse tipo de material é compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e o poder público.
“A Semana é um projeto de extensão coordenado pela professora Luciana desde 2017. Quando a Dides foi criada, em 2021, estabelecemos uma parceria para que a Instituição apoiasse o projeto, dando maior visibilidade junto à comunidade universitária e comunidade externa, contribuindo para que mais pessoas pudessem vir até aqui e fazer o correto descarte dos seus eletrônicos. Desde então, fazemos uma edição por ano e esse ano está sendo muito especial, pois ampliamos o projeto para todos os câmpus da UFMS, fazendo uma rede de arrecadação, contribuindo também com associações, cooperativas municipais e com as que a gente têm parceria”, contou o diretor.
Neste ano, o evento foi realizado entre os dias 11 e 15 de agosto. “A Semana é um espaço aberto a toda a comunidade. Qualquer pessoa pôde vir até aqui para entregar seu item. Tudo que você liga na tomada é um eletrônico. Toda vez que a gente fala em lixo eletrônico, a primeira coisa que vem em mente é um computador, uma impressora, mas também são considerados lixo eletrônico ventiladores, umidificadores, secadores de cabelo, torradeiras, enfim, a lista é grande e acabamos acumulando esses itens que não funcionam mais em casa, ocupando espaço. Podemos dar o descarte correto desses itens, por isso procuramos chamar. Todos que vêm até a Facom nesses dias são livres pra trazer e pra levar algum item que ainda seja útil”, disse a professora Luciana.
Sobre a expansão para os câmpus, Chaves explica que foi reflexo direto do sucesso consolidado do projeto desenvolvido na Cidade Universitária. “Essa iniciativa já contava com o apoio da gestão há alguns anos e, com a criação da Dides e, depois, da Procids, percebemos a oportunidade e a necessidade de amplificar esse impacto”, destacou. “O lixo eletrônico possui um imenso potencial poluidor e a demanda por descarte correto é constante em todas as nossas regiões. Ao estender a ação, buscamos não apenas atender a essa demanda em uma escala maior, mas também fortalecer uma cultura de responsabilidade ambiental em toda a nossa comunidade universitária e nas cidades onde estamos presentes”, reforçou.
Na avaliação do diretor, a iniciativa acaba funcionando como um instrumento de conscientização para estudantes, servidores, colaboradores terceirizados e para a população. “A Semana de Arrecadação oferece uma oportunidade para educar e engajar a comunidade sobre a necessidade e os métodos do descarte correto”, explicou. “O intuito da Semana é poder também envolver os estudantes e permitir que eles coloquem em prática o que aprendem em sala de aula. É uma data na qual os estudantes se engajam e recebem os diversos produtos, como mouse, teclados, veem o que funciona, o que não funciona, fazem funcionar, desmontam. É um evento que tem o caráter de sustentabilidade, mas também tem o viés educativo, de ensino”, ressaltou.
“Ao recolhermos esses resíduos, evitamos que componentes prejudiciais contaminem o solo e a água, protegendo ecossistemas e a saúde pública. Além disso, o lixo eletrônico é rico em metais e outros materiais que podem ser reciclados e reutilizados, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos naturais e diminuindo o impacto da produção industrial. É um ciclo virtuoso que exemplifica a economia circular e o compromisso da UFMS com um futuro mais verde”, complementou.
Na Cidade Universitária, um grupo de estudantes estava engajado na organização, recepção, recolhimento e análise do material descartado. “É importante a colaboração de todos, pois muitas pessoas descartam algo que não utilizam mais, porém servem ainda para alguém, além de ser possível também tirar peças dos aparelhos e utiliza-las. Sempre quando chega algum equipamento, nós organizamos na prateleira e fica ali pra todos que quiserem vir ver. É interessante também porque a gente consegue ver equipamentos por dentro e até outros que nunca tivemos contato, muito antigos, como fitas cassetes, aparelhos de DVD”, contou a estudante do curso de Engenharia da Computação da Facom Priscila Valente.
Gabriel Willye é estudante do curso de Sistemas da Informação da Facom e participa da Semana desde 2022. “A primeira vez que desmontei um computador foi em 2022 na Semana [de Arrecadação] do Lixo Eletrônico, quando eu entrei no curso. Todo ano eu participo e aprendo sempre um pouco mais. Não são todos os cursos que a gente estuda a fundo pra saber como um aparelho ou uma peça funciona. Algumas vezes colegas do curso de Engenharia Elétrica também passam aqui e a gente troca informações, a gente se ajuda”, disse.
“Dependendo dos equipamentos que são entregues, analisamos e trazemos para a mesa, como computador, celular, nós testamos e vemos se liga, tentamos identificar o problema, se é fácil de consertar. Alguns notebooks e computadores foram inclusive montados na Semana [de Arrecadação] do Lixo Eletrônico e disponibilizados pra estudantes que não tinham. O lixo de uns é o luxo do outro. Muitas vezes também são descartadas coisas que as pessoas não querem mais, mas outros querem. Sempre tem algo interessante que alguém descartou e outro está precisando. Nós arrumamos, vemos o que dá pra consertar”, explicou Gabriel. De acordo com ele os itens mais recebidos são celulares, notebooks, chapinha de cabelo, micro-ondas, monitores, telefones, impressoras e cabos.
A professora da Escola de Administração e Negócios Christiane Pitaluga trouxe uma televisão que estava estragada. “Já conheço a ação, acompanho há anos o projeto, faz parte das ações de sustentabilidade da Universidade. Já trouxe material em edições anteriores. Sempre pensamos de que forma podemos contribuir e esse ano, tinha essa televisão lá em casa, queimada. Falei pra família, não descartar, que era pra aguardar a Semana e assim entregar no lugar correto, pra ter esse destino correto e também para que alguém se quisesse aproveitar alguma peça, além de contribuir com a questão da sustentabilidade na Universidade e na cidade também”, relatou.
A ação nos câmpus
“Acreditamos que o sucesso desta iniciativa depende do envolvimento coletivo de toda a nossa comunidade. Para coordenar as atividades em cada câmpus, as direções locais indicaram um líder, que será o ponto focal da semana de arrecadação. Nossa expectativa é que a ação mobilize cada vez mais professores, servidores técnico-administrativos e, especialmente, nossos estudantes”, enfatizou Chaves.
Ele continua dizendo que a intenção ao realizar o evento é criar um verdadeiro movimento, incentivando a participação ativa de todos os membros da comunidade universitária. “Estendemos o convite à sociedade local em cada cidade onde a UFMS está presente. Acreditamos que, ao unir forças, podemos aumentar o impacto da campanha e reforçar o papel da Universidade como agente de mudança social e ambiental”, acrescentou.
O coordenador da Semana no Câmpus da UFMS de Coxim, Ângelo Darcy, avaliou a primeira edição do evento como uma iniciativa de fundamental importância. “Ela [a Semana] foi pioneira no nosso câmpus, anteriormente, não havíamos realizado uma campanha com este foco e abrangência. O mais importante foi perceber que conseguimos instituir uma cultura de conscientização ambiental. Para toda a comunidade acadêmica, alunos, servidores e professores, foi uma oportunidade de refletir e agir corretamente sobre o descarte de resíduos eletrônicos”, destacou.
“A adesão de toda a comunidade foi excelente. No Câmpus da UFMS de Coxim, tivemos uma grande mobilização com o apoio fundamental dos coordenadores de curso, que divulgaram a ação entre os estudantes e professores. Externamente, a resposta também foi muito positiva e o sucesso se deve principalmente às parcerias estratégicas com o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e a Prefeitura de Coxim”, complementou o coordenador.
Ângelo Darcy chamou a atenção para a diversidade de material coletado. Na parte de equipamentos para reciclagem, o que chamamos de lixo eletrônico propriamente dito, o maior volume foi de periféricos de computador, principalmente teclados, mas também cabos, fontes e mouses”, afirmou. “O mais interessante, porém, foram as doações de itens funcionais. As pessoas trouxeram muitos fones de ouvido e mouses em bom estado, mas o que realmente chamou a atenção foi a doação de eletrodomésticos como micro-ondas e air fryer. Isso mostrou que a comunidade não queria apenas descartar, mas também dar um novo destino e ajudar outras pessoas com aquilo que não usava mais”, pontuou.
No Câmpus da UFMS do Pantanal (CPan), o coordenador da ação, Marcus Urquiza, também avaliou positivamente a primeira edição do evento. “Fui procurado diversas vezes por acadêmicos, técnicos e professores com interesse em trazer eletrônicos ou em levar algum deles para casa. Fiquei satisfeito em ver que muitos eletrônicos deixados foram levados para reutilização. A comunidade universitária aderiu bem ao evento, especialmente quando viam os resíduos eletrônicos expostos nas Unidades 1 e 2 do CPan”, comentou. De acordo com o técnico-administrativo, os principais itens coletados foram os eletrônicos da área de informativa, como cabos, teclados, impressoras, HDs e mouses, seguidos de resíduos de telefonia celular.
“Nossas expectativas para esta edição expandida da Semana de Arrecadação de Lixo Eletrônico foram atendidas. Tivemos um volume expressivo de material coletado, mas também um aumento significativo na conscientização da nossa comunidade sobre a importância do descarte adequado do lixo eletrônico. Mais do que a quantidade de lixo recolhido, o que realmente buscamos é a transformação de mentalidades e a promoção de hábitos mais sustentáveis que se estendam para além da semana do evento”, finaliza Luciana.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Vanessa Amin e arquivo dos Câmpus da UFMS de Coxim, Três Lagoas, Paranaíba, Chapadão do Sul e do Pantanl

































