Exposição Matéria Pictórica celebra 45 anos do curso de Artes Visuais

A Galeria de Artes Visuais recebe até o dia 25 de setembro a mostra Matéria Pictórica, que marca os 45 anos do curso de Artes Visuais da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação (Faalc). A exposição coloca a pintura como linguagem central, viva e em constante reinvenção. A iniciativa é aberta ao público e pode ser visitada de forma gratuita no piso térreo do bloco 8, no setor 1 da Cidade Universitária, próximo ao Ginásio Moreninho.

A mostra reúne obras dos professores da Faalc Isaac Camargo, Priscilla Pessoa e Rafael Maldonado, além do artista convidado Antônio Junior, que já atuou como professor substituto na Instituição. Todos têm em comum uma sólida trajetória com a linguagem pictórica e foram selecionados justamente por aliarem pesquisa artística à prática docente.

De acordo com a professora Priscilla Pessoa, a exposição oferece um panorama da pintura contemporânea por meio de artistas que demonstram a persistência dessa linguagem, mesmo em meio às transformações tecnológicas e culturais. “O título Matéria Pictórica aponta para um dos eixos desta exposição: a relação investigativa dos artistas com os valores constitutivos da pintura. Vai além da tinta aplicada sobre a tela, desdobrando-se na experimentação com diferentes suportes, na incorporação de elementos, na sobreposição de camadas e na manipulação da cor”, explica.

Cada artista propõe uma abordagem distinta dentro do universo pictórico. Antônio Junior apresenta obras da série Caminhar sobre brasas, nas quais explora o descarte de lixo em terrenos baldios urbanos. Suas telas a óleo incorporam fragmentos queimados e resíduos recolhidos nesses espaços, com intuito de promover uma crítica visual à degradação e à negligência ambiental.

Na série Rorschachs, o professor Isaac Camargo se inspira no conhecido teste psicológico dos borrões de tinta para investigar o potencial expressivo da cor. “Essa combinação, sob o olhar estético, transforma-se em protagonista da memória: um arquivo de sensações e percepções”, destaca a curadoria da mostra.

Rafael Maldonado apresenta Entre vestígios, série em que amplia os limites entre pintura e gravura. Utilizando técnicas da mezzotinta em tecidos impregnados de tinta, o artista cria paisagens que emergem de bases escuras e evocam a conexão entre a matéria e o conceito.

Já em Fábulas instantâneas, a professora Priscilla Pessoa tece um comentário visual sobre o comportamento contemporâneo nas redes sociais, em especial o ato de postar autorretratos. “Vivemos uma era de curadoria da própria imagem. Nas minhas pinturas, trago esse universo para refletir sobre identidade, autoafirmação e a forma como nos apresentamos ao mundo digital”, comenta a artista.

Além de proporcionar uma experiência estética, a mostra busca provocar reflexão sobre o papel da pintura na contemporaneidade. “Em um cenário artístico plural, no qual novas mídias e linguagens se estabelecem com vigor, a pintura mantém sua centralidade como meio de expressão. Sua pertinência não decorre de um mero conservadorismo, mas de sua capacidade de se adaptar, de absorver e de dialogar com as transformações culturais e tecnológicas”, ressalta Priscilla. “Matéria Pictórica reforça a relevância da linguagem pictórica como campo de crítica, experimentação e expressão sensível. As obras demonstram que, ao lidar com os fundamentos do fazer pictórico, é possível não apenas manter sua relevância, mas impulsionar sua renovação. A relação entre tradição e inovação conduz toda a exposição, reafirmando a potência transformadora da pintura no cenário atual”, complementa.

Ainda de acordo com a professora, a exposição também tem um papel fundamental na formação dos estudantes do curso. “É muito importante que os professores também desenvolvam uma carreira artística. Essa é uma forma de mostrar essa atividade que é fundamental dentro da carreira de um professor de Artes Visuais, que é também produzir arte”, afirma. “É uma forma de trazer para os estudantes e para a comunidade em geral algumas manifestações de pintura contemporânea, mostrando como a pintura ainda tem esse vigor e essa capacidade de ser uma linguagem da contemporaneidade”, finaliza a docente.

Texto: Lúcia Santos

Fotos: Isaac Camargo, Priscilla Pessoa, Rafael Maldonado e Antônio Junior