Curso de campo Ecologia do Pantanal celebra 20 anos

Retirar do campo novas inspirações e conhecimento em uma imersão de 30 dias, com práticas de pesquisa e experiências científicas em terras pantaneiras, é o desafio proposto pelo curso de campo Ecologia do Pantanal – EcoPan, há 20 anos oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da UFMS.

Com cerca de 400 alunos já participantes, o curso é uma adaptação do modelo original criado na década de 60 pela Organization for Tropical Studies (OTS), que reúne em consórcio 60 universidades internacionais.

Na UFMS, o curso foi criado pelo professor Erich Fischer, da Ecologia, que passou por vários cursos semelhantes como estudante da Universidade de Campinas (Unicamp) e como professor convidado em cursos oferecidos por outras instituições. O EcoPan é coordenado anualmente por três ou quatro docentes do programa de ecologia da UFMS.

“Nós mantivemos a ideia do curso original da OTS na Costa Rica, de agregar estudantes de diferentes partes, oferecendo metade das vagas para alunos externos à UFMS, do Brasil e de outros países. Os estudantes brasileiros e estrangeiros são provenientes de programas de pós-graduação em ecologia ou áreas afins”, explica o professor Erich Fischer.

A ideia primordial é forçar a formulação de questões científicas inovadoras e interessantes, explica o coordenador. “Isso não é algo tão simples. Por isso, fazemos um projeto por dia, dando prioridade às questões, à formulação de perguntas no campo, para que saiam do lugar comum”, afirma.

O curso de campo reúne três disciplinas curriculares do programa de ecologia, que representam diferentes níveis de treinamento. A turma de Ecologia de Campo I congrega 16 alunos com pouca experiência de campo e a turma de Ecologia de Campo II reúne quatro alunos com mais experiência, geralmente de doutorado, atuando como monitores.

Por fim, a turma de Ecologia de Campo III é formada por quatro alunos de doutorado que atuam na organização do curso do começo ao fim.

Imersão

Nos 30 dias em que os alunos passam em campo, as três primeiras semanas são dedicadas à realização de um projeto orientado (PO) por dia, quando simulam todas as etapas de uma pesquisa científica, totalizando oito projetos por grupo e 32 no total.

“Na noite anterior ao desenvolvimento do projeto, o professor que acompanha o grupo propõe ideias para o projeto de campo. O grupo então define as questões e o desenho amostral, e no dia seguinte pela manhã a turma sai para a coleta dos dados. No período da tarde, os grupos analisam os dados, testam suas hipóteses, preparam Power point e realizam uma apresentação oral antes do jantar. O período da noite é dedicado à redação de relatórios no formato de um artigo científico”, explica o coordenador do curso.

Na última semana do curso, os alunos têm cinco dias de coleta de dados para Projeto Individual. Todos os projetos são orientados, em cada edição, por 15 a 18 professores da UFMS e convidados de diversas áreas e instituições como Unicamp, USP, UFPE, UFMG, UFGD, Inpa, entre muitas outras.

Durante o curso, os alunos percorrem de três a quatro bases localizadas em diferentes locais do Pantanal, como a Base da UFMS, no Passo do Lontra, a Fazenda Experimental Nhumirim (Embrapa), a Serra do Amolar (Instituto Homem Pantaneiro), e outras localidades.

As questões levantadas e pesquisadas durante o curso abordam a biota e o ecossistema pantaneiro e exemplificam-se em casos como “Diferença entre o comportamento de defesa do gado Tucura e Nelore em resposta à vocalização de onça-pintada no Pantanal da Nhecolândia”, “Produção primária e respiração em lagos do Pantanal”, “Remoção de frutos artificiais por morcegos no Pantanal do Miranda”, “Crescimento vegetativo anual do mandacaru na fazenda Nhumirim, Pantanal da Nhecolândia”.

Os projetos resultam em artigos que são publicados ao final do curso no livro Ecologia do Pantanal, cuja edição é feita pelos alunos de Ecologia do Campo III, como parte das suas atividades. No caso dos projetos individuais, quem tiver interesse pode submeter o artigo para revistas científicas ou para o livro do curso, com revisão por pares, geralmente professores da respectiva edição. Os artigos são considerados capítulos de livro (ISBN).

Com a coordenação dos professores Erich Fischer, Andréa Araújo, Fábio Roque e Rudi Laps em 2017, o curso é geralmente realizado no mês de setembro, no período seco do Pantanal, quando há maior facilidade de locomoção e por ser início de floração de algumas espécies de plantas.

Conceito cinco na Capes, o Programa busca agora os níveis de excelência, representados pelos conceitos seis e sete, em especial por ser um curso com inserção nacional e internacional e aberto a outras instituições de forma solidária, características avaliadas pela Capes.

“O curso de campo no Pantanal ganhou prestígio no Brasil, tornou-se conhecido por todos da área e tem contribuído muito para a divulgação da UFMS e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação. Estudantes de fora que passaram pelo curso de campo repercutem o programa da UFMS em suas instituições e, muitas vezes, os recebemos de volta como candidatos à Pós-Graduação ou mesmo em concursos para carreira docente”, diz o professor Erich Fischer.