Fotos: Giovana Fernandes Ribeiro

Rir é o melhor remédio está no sexto ano de atuação

IMG_0994 1Há seis anos um projeto de extensão tem levado acadêmicos da área da saúde para um “atendimento” diferenciado no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP). Com um jaleco branco, mas com o rosto colorido, adereços engraçados e um nariz de palhaço, os calouros e veteranos visitam periodicamente algumas alas do hospital em busca do riso dos pacientes.

Além da transformação do ambiente e da realidade de quem está internado, o projeto “Rir é o melhor remédio” visa à humanização dos alunos da área da saúde. Segundo uma dos quatro atuais coordenadores, a aluna do 3º semestre de Medicina Maria Paula Belini, o “Rir”, como é carinhosamente chamado, foi criado em 2010 por representantes da Medicina, e, em 2014, recebeu a inclusão dos acadêmicos de Enfermagem e Fisioterapia. A orientadora é a professora Alexandra Maria de Almeida, mas os coordenadores são sempre acadêmicos do 3º e 4º semestre dos três cursos envolvidos. O projeto não recebe nenhum tipo de fomento e todas as captações de apoio feitas são para investimento no próprio projeto como a venda de camisetas para a compra de maquiagens para os próprios palhaços.

A cada ano a coordenação é renovada, porque o projeto é uma atividade especificamente para calouros e alunos que cursem no máximo o 4º semestre de cada graduação. “Assim, no ano passado a gente entrou na Universidade e participou do projeto, agora em 2016 estamos como coordenadores, depois de uma seleção feita pelos coordenadores anteriores. A ideia é mesmo começar o trabalho de humanização do profissional já no início da graduação, para que a desenvolvam bem ao longo de sua carreira acadêmica”, comentou Priscilla de Figueiredo Araújo, também coordenadora do projeto e aluna do 3º semestre de Fisioterapia. Além de Maria Paula e Priscilla, também respondem pela coordenação atual do projeto os alunos Gustavo Pasquim Guedes e Marjana Pinto da Silva, de Medicina e Enfermagem, respectivamente, ambos do 3º semestre.

IMG_0939 1Ao todo 57 pessoas participam do projeto, sendo 45 integrantes regulares, que receberão o certificado da atividade de extensão, e 8 voluntários. “Infelizmente o Hospital também não comporta mais do que essa quantidade de acadêmicos, então trabalhamos em um sistema de rotatividade, com grupos menores de três ou quatro acadêmicos ‘atendendo’ a cada quarto”, explica Gustavo.

O “atendimento” realizado consiste em visitas aos internados regadas a conversa, palhaçadas, piadas e música. As visitas são feitas apenas no HUMAP até o momento, e apenas em alguns setores como a Clínica Médica, a Cirúrgica II e a Pediatria. Isso porque existem setores mais complicados por questões relacionadas à precaução de contato e devido à gravidade das enfermidades dos internados. Mas o grupo tem intenção de expandir o atendimento para outros hospitais e outras instituições como asilos e creches.

Edital e treinamento

As atividades anuais do projeto se iniciam com a abertura de inscrições. O número de vagas é distribuído proporcionalmente entre os cursos, conforme a quantidade de calouros que ingressam na Instituição, sendo 30 para Medicina e as outras 15 divididas entre Fisioterapia e Enfermagem. Os voluntários são convocados alternando-se também entre os cursos envolvidos.

Após o período de inscrição, os coordenadores realizam três dias de seleção em um processo onde são trabalhadas diversas dinâmicas. Na última seleção, no início de 2016,  foram cerca de 100 inscritos. “No processo seletivo analisamos cada candidato, verificamos no que ele se sobressai, em qual atividade ele se mostrou mais interessado em participar… é muito importante verificarmos também o entusiasmo para com o projeto, porque inicialmente são seis meses de treinamento para depois eles poderem realmente realizar as visitas”, lembra Maria Paula.

IMG_1051 1Os coordenadores organizam então reuniões semanais para todo o primeiro semestre, onde são feitas capacitações diversas relacionadas à desinibição, ao sorriso, à integração, improviso, criatividade, aos sentimentos e à musicalização, entre outros. “Especificamente a música é uma das atividades que fazem bastante diferença dentro do hospital, se bobear mais da metade da nossa atuação lá dentro é com música. Então fazemos reuniões para prepará-los para saberem cantar músicas de criança, de sertanejo raiz que os idosos adoram, música gospel…”, explica Priscilla.

Sempre ao final do primeiro semestre de atividades o projeto promove uma capacitação intensiva de dois dias inteiros com um palhaço profissional, vindo até de outro estado. Neste ano a capacitação ocorreu nos dias 20 e 21 de agosto, no espaço oferecido pelo curso de Educação Física “DOJO” com o palhaço Alexandre Vinícius Xavier Penha de Maringá (PR). O objetivo é trabalhar o corpo artístico, que os coordenadores acreditam que todos têm, mas nem todos ainda conhecem essa característica em si. “A gente tem de facilitar isso para que o trabalho seja feito, e para isso esse palhaço que já trabalha com o projeto há alguns anos é excelente”, lembra Maria Paula. Na capacitação o palhaço faz um pequeno cerimonial onde “batiza” os novos palhaços, entregando seu nariz como símbolo da formação, e a partir dali estão todos prontos para iniciarem os “atendimentos” no hospital.

Transformações

Após a formação intensiva os coordenadores realizam ainda algumas reuniões para informações sobre biossegurança, o modo de se portar, a vestimenta adequada e a criação de cada personagem, que fica a cargo de cada integrante, e são criadas as escalas de visitas, realizadas aos sábados e domingos. “A gente costuma se reunir a partir das 13h30 aqui na Universidade para nos arrumarmos e passarmos orientações gerais, e nos encaminhamos então para o HUMAP. As visitas dependem muito do clima de cada ambiente, alguns pacientes estão dormindo, outros não são tão receptivos, mas geralmente não ficamos mais de três horas no hospital. A diferença de quando entramos nos quartos para quando saímos é visível. Às vezes nem fazemos muita graça, só de conversarmos com os pacientes que dividem o mesmo espaço, que por vezes nem se conheciam ou não se comunicavam, já conseguimos mudar o clima do ambiente”, elucida Maria Paula.


A acadêmica enfatiza que além da mudança do ambiente os alunos descobrem mudanças também em si, pois, a partir do momento que colocam o nariz de palhaço lidam com uma parte desconhecida de si, afloram sentimentos que eles nem imaginavam que tinham e tomam atitudes que jamais imaginariam sem o nariz de palhaço. Para Priscilla o “atendimento” é como uma “carícia na alma”, porque muitas vezes os pacientes ficam isolados durante o dia inteiro e só querem mesmo conversar quando recebem as visitas. “Tem vezes que você entra no quarto, doa o máximo de si, mas alguns pacientes simplesmente não querem interagir. Mas muitas das outras vezes quando a gente vê que deu certo, que o clima do ambiente já está mais leve e os pacientes estão sorrindo quando você deixa o local é muito gratificante. Eu vejo que aprendi muito com o projeto, aprendi principalmente a me colocar no lugar do outro, a compaixão” relata Priscilla.

Veja mais imagens do treinamento na galeria a seguir. Fotos: Giovana Fernandes Ribeiro.