Projeto de atenção multidisciplinar à saúde em comunidades ribeirinhas do Estado completa 12 anos de atividades

Professores e acadêmicos de diferentes cursos da área de Saúde da UFMS participam há 12 anos do projeto de extensão dedicado à atenção multidisciplinar à saúde em comunidades ribeirinhas localizadas em Mato Grosso do Sul. Coordenado pela professora Ana Paula de Assis Sales, o projeto tem proporcionado ações de educação em saúde e atendimento individualizado, para a promoção e prevenção de agravos crônicos, como hipertensão e diabetes, bem como ações de saúde preventiva para mulheres (câncer de colo, mama, direito sexual e reprodutivo, gravidez, menopausa, dentre outros), saúde da criança com foco no crescimento e desenvolvimento, além de agravos da infância e, ainda, a atuação na saúde do homem e do idoso.

“Nas ações, diferentes cursos de saúde e outros como Educação Física, incorporam-se nas atividades e trabalham conforme as demandas da comunidade”, explica a coordenadora. Participam do projeto, cursos do Instituto Integrado de Saúde e das faculdades de Medicina, Odontologia e Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição. “Em 2020 e 2021, tivemos que realizar o projeto de forma remota, com utilização de tecnologias de informação e aplicativos, por conta da pandemia”, enfatiza. Atualmente, segundo Ana Paula, são atendidas as comunidades do Passo do Lontra, Abobral e os residentes em fazendas localizadas em Corumbá.

Segundo a professora, em média são realizados 230 atendimentos, variando de 30 a 40 pessoas em cada ação. “Trabalhamos baseados nas políticas e programas do Ministério da Saúde. A Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta assegura a atenção integral às populações que estão fora dos centros urbanos e baseiam-se nos princípios do SUS, em especial o da equidade, que permite ofertar à comunidade aquilo que é sua necessidade específica por meio dos programas de saúde.  Dessa forma, as ações estão aportadas com base nos determinantes sociais da saúde e indicadores específicos desta população, sempre com o planejamento tornando possível o uso de tecnologias leves, como, ações de educação em saúde que promovam mudanças para promover saúde”, comenta.

Até 2019, quando funcionava junto à comunidade, foram desenvolvidas atividades como consultas de enfermagem, nutrição, consulta odontológica e médica, ações coletivas de educação em saúde nos diferentes ciclos de vida, além de aplicação de vacinas e administração de medicamentos, em parceria com a Prefeitura Municipal de Corumbá. “Durante o isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19, tivemos que nos readaptar e passamos a oferecer teleconsultas de enfermagem e nutrição. Além de educação em saúde sobre diferentes temas com elaboração de vídeos, folders e podcasts”, diz Ana Paula. A professora de Nutrição Deise Bresan, que também participa do projeto, detalha que os materiais produzidos eram compartilhados em grupo de aplicativo de mensagens com os moradores das comunidades.

“Participamos desde 2015. Para comunidade acadêmica é uma excelente oportunidade de aprendizado; os acadêmicos conseguem colocar em prática os conhecimentos adquiridos e também trabalhar com uma equipe multiprofissional. Já para as comunidades ribeirinhas, na minha percepção, os atendimentos realizados no ambulatório da Base de Estudos do Pantanal são, em muitos casos, os únicos atendimentos de saúde que eles recebem em um longo período de tempo”, conta Deise.

Ela lembra que os locais não dispõem de unidades básicas de saúde, assim, qualquer atendimento somente é realizado nas áreas urbanas mais próximas que ficam a quilômetros de distância. “Nem todos os moradores conseguem se deslocar facilmente para esses centros, devido aos custos. Além disso, mesmo nas unidades de saúde nesses centros urbanos próximos, o nutricionista não faz parte da equipe básica da Estratégia Saúde da Família, então o atendimento com esse profissional nem sempre acontece, somente em casos específicos. No ambulatório da Base de Estudos do Pantanal, todos os indivíduos que desejarem ou necessitarem são atendidos pela equipe de Nutrição”, reforça

Sobre as atividades, a professora Deise diz que o grupo já realizou atendimento nutricional individualizado, de acordo com a necessidade do paciente. “Por exemplo, as equipes de Enfermagem e Medicina, após diagnósticos, encaminham os pacientes para atendimento e orientação nutricional; em outros casos, os pacientes procuram os professores e estudantes diretamente. O curso de Nutrição participa também de outras ações que são realizadas junto aos demais cursos que fazem parte da equipe, como atividades de educação em saúde, nas quais se trabalham diversos temas”, fala Deise.

“Existem muitas histórias marcantes, mas a realização de um parto que eu fiz em 2011, no consultório de Enfermagem, foi um dos momentos que mais emocionou a equipe. Em outra oportunidade atendemos um turista com infarto agudo do miocárdio. São muitas histórias boas e de superação ao longo desses anos”, lembra Ana Paula.

Para Deise, o projeto tem feito a diferença na vida das pessoas. “A percepção que tenho é que eles necessitam muito desses atendimentos que realizamos, justamente pela distância que estão das unidades de saúde mais próximas. Normalmente, as pessoas retornam para mais atendimentos e são sempre muito gratas pela melhora em algum aspecto da sua saúde e qualidade de vida; e isso é algo que nos deixa com sensação de dever cumprido”, avalia.

De acordo com a professora Ana Paula, em relação aos resultados já alcançados pela ação de extensão estão: a adesão às consultas de Nutrição e Enfermagem, mais continuidade do cuidado à saúde ginecológica entre as mulheres atendidas, adesão à dieta e aos exercícios físicos, entre outros. “É uma população vulnerável do ponto de vista social, os pequenos avanços trazem uma dimensão muito grande. Para estudantes, viver essa realidade os transforma em profissionais comprometidos com a sociedade. Este projeto é continuo, anual e tem compromisso com a população, por isso permanecerá”, finaliza Assis.

 

Texto: Vanessa Amin

Fotos: Arquivo das professoras/EJ Brava – fotografias foram produzidas antes do início da pandemia da Covid-19