Professor da Faed é o primeiro surdo de Mato Grosso do Sul a concluir Doutorado

Sentir na pele a invisibilidade, cercada da desconfiança do ser capaz de fazer,  levou o professor de Libras, da Faculdade de Educação (Faed/UFMS), Adriano de Oliveira Gianotto a se tornar o primeiro surdo de Mato Grosso do Sul a concluir o Doutorado, que teve como tema de pesquisa “O protagonismo da pessoa surda do ponto de vista do desenvolvimento local”.

“A presente pesquisa de doutorado está ancorada em uma abordagem fenomenológica com vertentes que enfatizam conceitos sobre visibilidade, invisibilidade social, traçando um paralelo com a história da educação, a ação do empoderamento e o movimento surdo no Mato Grosso do Sul. O objetivo geral é analisar o processo de inclusão linguística e social do povo surdo”, explica o professor Adriano.

O Doutorado foi concluído no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), sob orientação do professor Heitor Romero Marques. A defesa ocorreu ontem (10), por videoconferência, que teve a audiência de 118 pessoas, entre ouvintes convidados, banca e intérprete.

Na banca de avaliação, a professora Milene Bartolomei, diretora da Faed, onde há três professores surdos em atuação, afirma que a luta da pessoa surda é muito importante para a sociedade e que a Instituição comemora esse exemplo que o professor Adriano está dando à toda à comunidade.

“A tese vem para discutir a questão de inclusão, das políticas públicas, da visibilidade do surdo, tanto no Brasil, quanto em Mato Grosso do Sul, então, aponta realmente a pessoa surda como protagonista de uma sociedade, agindo contra o silenciamento social”, expõe a diretora da Faed.

Visibilidade

Os estudos de Doutorado do professor Adriano foram fundamentados nos principais documentos oficiais que versam sobre os direitos assegurados aos surdos, desde os discursos bíblicos até às leis e decretos atuais, além de destacar sujeitos protagonistas que viabilizaram a disseminação das Línguas.

“No decorrer desta pesquisa, nos deparamos com situações que “desterritorializam”, linguisticamente, o povo surdo; ausência de visibilidade, de protagonismo e de lutas pela valorização da língua e de seus usuários natos. Trazer à tona está temática e colocá-la em pauta para possíveis reflexões e ações que visam diminuir as barreiras sociais, contribuir com novas propostas nas legislações municipais; ampliar o desenvolvimento local, no sentido linguístico do termo, e promover o entrelaçamento linguístico entre surdos e ouvintes são os resultados que esperamos obter neste percurso histórico-linguístico pela qual navegaremos”, afirma.

A pesquisa trouxe à tona, segundo o professor, mais evidências do descaso social para com o povo surdo, o silenciamento na execução das leis e decretos no que concerne às propostas que beneficiariam as pessoas surdas no âmbito pessoal e social.

“Ficou acentuadamente claro que dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, apenas cinco têm a Libras reconhecida como meio de comunicação e expressão social e algumas medidas práticas já foram efetivadas com o objetivo de socializar os surdos, de tornar acessível linguisticamente alguns lugares sociais por intermédio das Centrais de Interpretação de Libras. Obviamente que isso não é suficiente, mas comparando com os municípios que não oferecem nenhum meio de acessibilidade linguística para os surdos, isto já é, sem dúvida, um estimável avanço”, completa.

Texto: Paula Pimenta