Pesquisadores da UFMS e da UEMS estudam aspectos ambientais e socioeconômicos da fronteira de MS

Desenvolvido em parceria entre a UFMS e a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em uma proposta interdisciplinar e interinstitucional, o projeto de pesquisa “Análise espacial em região de fronteira: um estudo sobre os aspectos ambientais e socioeconômicos da fronteira de Mato Grosso do Sul com Bolívia e Paraguai” une esforços para ações conjuntas entre 21 pesquisadores docentes e discentes de programas de pós-graduação das duas instituições nas áreas de Análise de Sistemas, Biologia, Economia, Geografia, História e Letras.

O projeto foi constituído em conjunto, em 2018, entre o Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (Cadef), laboratório vinculado ao Campus de Aquidauana (Cpaq) e ao Mestrado em Estudos Fronteiriços do Campus do Pantanal (Cpan), e o Centro de Estudos de Fronteira “General Padilha” (Cefront), da UEMS em Campo Grande.

A proposta geral é analisar de forma integrada os aspectos socioeconômicos e ambientais da região fronteiriça, com perspectiva da criação de um conjunto de dados sobre os aspectos econômicos, estruturais, sociais, culturais e identitários da população residente na fronteira, englobando as possibilidades de mobilização e turismo, assim como da hidrologia, da fauna, da flora e dos recursos naturais disponíveis na região, em especial das águas transfronteiriças.

“As observações serão feitas a partir da Análise Crítica do Discurso (ACD) que se constitui numa perspectiva crítica para a produção do conhecimento com enfoque em problemas sociais e na maneira como o discurso pode revelar a produção do abuso do poder ou de processos de dominação, que será aplicada em combinação com as abordagens sociais ou ambientais”, diz o coordenador da pesquisa, professor Antonio Firmino de Oliveira Neto (Cpaq).

A ACD permite o entrelaçamento entre teorização, descrição, formulação do problema e a aplicação da pesquisa, explica o professor, o que implica a necessidade de as teorias e análises serem estruturadas elegantemente e fundamentadas empiricamente, ambas de maneira compreensível e clara.

Também serão utilizados princípios da netnografia (ramo da Etnografia que analisa o comportamento de indivíduos e grupos sociais na Internet) para a coleta, sistematização e análise de informações disponibilizadas por turistas na internet, na página online do TripAdvisor.

Com dois eixos de pesquisa, o projeto trata em uma das linhas de ações dos aspectos socioeconômicos dos municípios de Mato Grosso do Sul. “Nós buscaremos informações principalmente sobre economia e turismo, porém englobaremos também informações sobre migrações, saúde e educação. Já o segundo eixo está relacionado com os aspectos ambientais e buscará, nos mesmos municípios, informações sobre o uso das águas transfronteiriças, mas deverá também coletar informações sobre resíduo sólidos, impactos sociais da ocupação do solo e áreas protegidas”, expõe o coordenador.

Tendo como público alvo os moradores dos municípios sul-mato-grossenses na fronteira com o Paraguai e a Bolívia, os pesquisadores farão coletas de diversas formas. A proposta é realizar entrevistas estruturadas com os moradores dos municípios, escolhidos aleatoriamente, além dos proprietários e usuários das estruturas de turismos existentes nos municípios. Também será feito levantamento de informações junto aos órgãos públicos municipais e estaduais.

O professor explica que as análises dos dois eixos terão referenciais distintos. “Por exemplo, a análise da qualidade de água utilizará metodologia específica com índice Biological Monitoring Working Party (BMWP), com ajuda de equipamentos específicos para esse fim. Porém é imprescindível que, ao final, as análises convirjam para a interpretação dos aspectos ambientais e socioeconômicos na qualidade de vida dos habitantes dos municípios envolvidos”.

Antonio Firmino enfatiza que não é mais possível continuar a analisar a situação dos municípios brasileiros sem considerar conjuntamente os aspectos socioeconômicos e ambientais.

“Nos municípios de fronteira essa situação é ainda mais complexa pois os gestores locais devem lidar com legislações diferentes de aspectos que envolvem elementos comuns aos dois lados da fronteira. Nesse sentido o projeto buscará criar instrumentos e critérios para que os gestores possam tomar as suas decisões, levando em conta a realidade socioambiental do seu município”, afirma.

Os pesquisadores esperam que os dados levantados embasem um banco de informações que possibilitarão estudos futuros mais detalhados e mais específicos, e que os resultados ajudem na elaboração de políticas públicas que visem a melhoria da educação, da saúde, do turismo, da oferta de emprego, do controle de vetores, do controle das condições das águas, e do uso sustentável dos recursos disponíveis, entre outras questões que interferem na realidade da região.

Texto: Paula Pimenta