Pesquisadores criam Rede Geográfica da Covid-19 em Mato Grosso do Sul

A forte escalada da Covid-19 no estado levou professores e pesquisadores de quatros câmpus da UFMS e da Universidade da Grande Dourados (UFGD) a criarem a Rede Geográfica da Covid-19 em Mato Grosso do Sul.

Os pesquisadores se reuniram virtualmente para construir um relatório da situação da Covid no estado com os micros dados da Secretaria Estadual de Saúde e dos municípios. Além dos dados geográficos, há análise dos índices de incidência e taxa de mortalidade por microrregião: Corumbá, Dourados, Três Lagoas e Campo Grande.

“Essa iniciativa de construir uma Rede Geográfica da Covid-19 em MS para fazer esse relatório em conjunto partiu da ação conjunta de docentes de cursos de Corumbá, Três Lagoas, Aquidauana, Coxim, além de pesquisadores da UFGD e Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)”, explica a professora Elisa Pinheiro de Freitas, coordenadora do projeto “Análise espacial dos casos de Covid-19”.

Os relatórios produzidos serão divulgados na página do Programa de Pós-graduação em Geografia (https://ppggeografiacptl.ufms.br/monitor-covid-ms/), do Cptl/UFMS, sob organização do professor Mauro Henrique Soares da Silva.

Relatório

O “Relatório técnico descritivo: Geocartografia dos indicadores de morbidade e de mortalidade da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, da 27ª à 29ª semanas epidemiológicas”, recém-divulgado, aponta que no período de 21 a 27 de junho foram registrados no estado 28 óbitos por Covid-19, enquanto as Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs) foram responsáveis pela morte de outras 60 pessoas.

Ou seja, morreram 2,14 vezes mais pessoas por SRAGs do que por Covid-19 em uma semana no estado. De acordo com os pesquisadores, as SRAGs estão com proporções acima da média dos anos anteriores quando comparadas com as mesmas semanas epidemiológicas de 2019.

“A correta interpretação desse dado é fundamental para que as autoridades reconheçam a necessidade de alcançar níveis de testagens massivos para evitar distorções nos registros e interpretações dos dados. Ou admitimos os níveis que estas taxas de letalidade representam como possíveis casos de Covid-19 ou admitimos a baixíssima testagem nesses municípios. Acreditamos que tem mais gente morrendo de Covid-19 e muito mais casos que não aparecem nos dados oficiais”, afirma o professor e pesquisador Adeir Archanjo da Mota.

Segundo o professor Cremildo João Baptista, do Campus de Coxim, nem tudo que é SRAG é Covid19 e vice-versa, sendo preciso realizar melhor a diferenciação que, sem testes, pode ficar comprometida.

“Não podemos como epidemiologistas e profissionais de saúde comprometidos com a verdade, com a ciência e com os fatos, validar as taxas de letalidade atualmente definidas pela falta de testes que identificariam o quantitativo, pelo menos, esperado de pessoas infectadas. Não se podem determinar taxas de letalidade mais próximas da realidade sem testes em massa. O que temos em termos de testes positivos é somente uma ponta do iceberg”, expõe Cremildo.

De acordo com os pesquisadores, Juti, Campo Grande, Bataguassu, São Gabriel do Oeste, Dourados, Corumbá, Anaurilândia, Ladário e Chapadão do Sul são municípios que precisam de cuidados e medidas urgentes.

Para a professora Fernanda Vasques Ferreira, a doença já mostrou quais as marcas que irá deixar na sociedade e nos setores em todas as dimensões da vida humana. “É momento de acolher os estudos científicos com seriedade e atenção, interpretá-los adequadamente e colocar em prática medidas que, de fato, reduzam os impactos da doença na vida das pessoas”, afirma

Assinam o relatório os professores e pesquisadores Cremildo João Baptista (Cpcx/UFMS), Ana Paula Archanjo Batarce (Cpaq/UFMS), Elisa Pinheiro de Freitas (Cpan/UFMS), Eva Teixeira dos Santos (Cpaq/UFMS), Mauro Henrique Soares da Silva (Cptl/UFMS), Adeir Archanjo da Mota (UFGD), Fernanda Vasques Ferreira (UFOB), Anderson Antonio Molina da Silva (UFMS),  e apoio técnico dos acadêmicos Eduardo Henrique Rezende Santos, Leandro Pereira Santos e Rafael Rocha Sá (UFMS) e Antonio Idêrlian Pereira de Sousa e Pedro Antônio Araújo da Silva (UFGD).

Texto: Paula Pimenta (com informações da Rede Geográfica da Covid-19 em Mato Grosso do Sul)