Pesquisadoras de Naviraí estudam a questão de gênero de professores

A professora do Câmpus de Naviraí Josiane Peres Gonçalves e a mestre em Educação pela UFMS Valdelice Cruz da Silva Souza realizam pesquisa sobre Atuação de professores homens na educação especial sul-mato-grossense e escolas públicas paraguaias: representações sociais da comunidade escolar. O estudo conta com financiamento do CNPq e começou a ser desenvolvido em 2019, com conclusão prevista para 2024, devido à pandemia.

Josiane já trabalha no tema desde 2012. “Entre 2012 a 2013, foi desenvolvida a primeira pesquisa sobre o tema em Naviraí. Entre 2014 e 2017, ampliamos para Mato Grosso do Sul e, recentemente, optamos por também realizar o estudo no Paraguai, além de MS”, explica. “É importante entender a questão de gênero dos docentes. Apesar de terem a mesma formação profissional, professores homens não costumam ser aceitos, principalmente na educação infantil, que atende crianças pequenas”, comenta Josiane.

Ela explica que, em 2019 foi realizada a fase inicial da pesquisa e a coleta de dados aconteceria a partir de 2020, mas não foi possível devido a pandemia de Covid-19. “Por esse motivo, o CNPq autorizou a prorrogação da pesquisa até 2024, para termos tempo maior para a coleta de dados”, fala.

“A opção por pesquisar também no Paraguai foi devido a não encontrarmos naquele país algo publicado sobre a questão de gênero dos professores. Como é um país que faz fronteira com o Brasil, havia essa possibilidade de realizar o estudo, com financiamento externo, o que conseguimos por meio do edital universal do CNPq de 2018”, ressalta Josiane.

A professora explica que para o embasamento teórico sobre a organização da Educação Escolar do Paraguai foi realizada uma viagem até Assunção, capital do país. “Obtivemos autorização do Ministério da Educação e Ciências de lá para a realização da pesquisa, então coletamos dados em algumas escolas públicas da capital. As impressões iniciais são de que a situação não é diferente do Brasil, ou seja, há bastante resistência em se ter docentes do gênero masculino trabalhando com crianças pequenas”, diz Josiane. “Sobre a etapa da pesquisa de MS, que inclui a atuação de professores homens na educação especial, não há muitos dados coletados ainda, mas as impressões iniciais é que o preconceito em relação ao gênero dos docentes se faz presente também nesta modalidade de ensino”.

“Nesse semestre priorizamos a realização da pesquisa empírica no Paraguai, no próximo semestre vamos priorizar as APAEs de MS. Em 2023, pretendemos continuar a coletar os dados nos dois países, para trabalhar com todo esse material nos próximos anos. A expectativa é aproveitar esse material para a iniciação científica e pós-graduação, aprofundar as discussões sobre a temática e publicar os resultados em revistas científicas e eventos nacionais e internacionais. Também há a expectativa de estreitar as relações com a área da educação do Paraguai e tentar fazer parcerias com alguma universidade daquele país, para ampliar os conhecimentos acerca da educação brasileira e paraguaia”, fala a professora.

Desde o início dos estudos sobre a temática, diversos estudantes de graduação e pós-graduação da UFMS participaram. “Sobretudo de iniciação científica PIBIC, CNPq e UFMS. Todas as pessoas que integram o Grupo de Estudo e Pesquisa em Desenvolvimento, Gênero e Educação também vêm acompanhando e contribuindo para ampliar as discussões e conhecimentos nessa área”, diz Josiane. “Todos os anos temos conseguido bolsas de iniciação científica do CNPq e da UFMS e elas são fundamentais para os acadêmicos da graduação se dedicarem a pesquisa”, destaca

Viagem para Assunção

A viagem para Assunção aconteceu entre 7 e 11 de junho. Na ocasião, Josiane e Valdelice estiveram no Ministério da Educação e Ciências e foram recebidas pela chefe do Departamento de Políticas e Normativas, ligado a Direção Geral do Primeiro e Segundo Ciclo Nancy Barrios Sanchez, e pela Diretora do Gabinete Técnico do Vice-Ministério da Educação Básica Gladys Sofia Valiente Abente. Lá, obtiveram a autorização para a realização da pesquisa de campo no Paraguai.

Depois, visitaram algumas escolas públicas de Assunção e gravaram entrevistas com gestores, professores e familiares de crianças que frequentavam as escolas. Também fizeram contato com o doutor Oscar Sosa, da Direção de Relações Internacionais e Pesquisa da Universidade Iberoamericana, com a intenção de viabilizar futuras parcerias com a UFMS, o que beneficia também a área de internacionalização da pós-graduação.

“A viagem e experiências vivenciadas resultaram em grandes aprendizados acerca da cultura e da educação escolar paraguaias e os dados coletados serão úteis, pois torna possível estabelecer comparações e ter noções sobre em qual desses dois países o preconceito vivenciado por docentes do gênero masculino é maior”, finaliza Josiane.

 

Texto: Vanessa Amin

Fotos: Acervo das pesquisadoras