Pesquisadora da UFMS participa de webinario sobre saúde única e pandemia da Covid-19

Saúde Única e a pandemia da COVID-19 causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 foi o tema de uma webinário (seminário on-line em vídeo) realizado na última sexta-feira, 27,  pela One Health Brasil, uma rede de integração, pesquisa colaborativa e divulgação profissional e científica que tem como objetivo agregar pesquisadores, acadêmicos e profissionais das áreas de saúde (saiba mais aqui).

Dentre os convidados, estava a professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (Famez) da UFMS Juliana Galhardo. O webinário também contou com a participação dos professores David Soeiro Barbosa da Universidade Federal de Minas Gerais, Daniel Friguglietti Brandespim e Luiz Flavio Arreguy Maia Filho da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Juliana falou, especificamente, sobre origem zoonótica e contribuições da virologia. Também foram abordados os temas: aspectos epidemiológicos relacionados à pandemia atual, resposta dos serviços de saúde e impactos econômicos no Brasil e no mundo. As discussões foram moderadas pela representante da Rede One Health Brasil Christina Pettan-Brewer, pelo acadêmico da Liga Acadêmica de Saúde Única da Universidade Estadual do Maranhão Gabriel Beltrão Gabriel Beltrão e pelo pesquisador da Aliança Internacional de Estudantes da Saúde Única Daniel Paiva.

De acordo com Christina, é importante a discussão e o compartilhamento de conhecimentos sobre o novo coronavírus e a doença. “Esse foi nosso primeiro evento. A Saúde Única é um tema fundamental na atualidade. Em todo o mundo a ideia da Saúde Única é compartilhar e reunir pessoas com visões diferentes, mas conectando a saúde dos animais, a saúde humana e o meio ambiente”, disse. Atualmente, a rede integra mais de 700 pessoas em todo o país. “Agradecemos a todos os convidados por ter dedicado parte do seu tempo e pela disposição em participar do nosso webinário”, falou. O webinário também contou com a consultoria do médico epidemiologista Alair Assis que atuou como representante Organização Mundial da Saúde na China.

Há três anos, trabalhando o tema Saúde Única na UFMS, Juliana Galhardo tem atuado ativamente há seis anos em parceria com Pettan-Brewer e os demais pesquisadores que integram a One Health Brasil. “A ideia é trabalhar virtualmente e de forma multidisciplinar a questão da Saúde Única. Participar desse webinário foi um desafio, mas muito positivo, pois o alcance do evento foi enorme: mais de 700 inscritos para 300 vagas. Saber que difundimos informação de qualidade para os inscritos e, posteriormente, para todos que assistirem aos vídeos disponíveis é gratificante”, destacou a pesquisadora da Famez.

“A população da China é imensa e tem hábitos, costumes e bases alimentares muito particulares que nos remetem ao conceito de Saúde Única e a importância de vermos essa pandemia sob esse prisma”, comentou Juliana. A pesquisadora ressaltou a rápida expansão da da doença Covid-19, provocada pelo vírus SARS- CoV-2. Em sua fala, Juliana tratou das características dos coronavírus, mutações, quais as famílias e subfamílias e, especialmente sobre os hospedeiros e hipóteses sobre sua origem e transmissão para humanos. “A maioria dos trabalhos publicados desde 2002, falam que os morcegos poderiam ser hospedeiros ancestrais dos coronavírus. Mas, os estudos filogenéticos indicam que existe um hospedeiro intermediário do Sars-Cov-2. Trabalhos falam sobre as serpentes, sobre as civetas e sobre o pangolim, mas não há um estudo conclusivo indicando exatamente qual seria esse animal”, comentou Juliana.

De acordo com a pesquisadora, a transmissão ocorreu entre o hospedeiro intermediário e as pessoas e, uma vez que isso aconteceu, o aspecto zoonótico deixa de ser tão importante, já que o vírus está sendo transmitido intensamente entre pessoas. “Isso não quer dizer que, enquanto pesquisadores, deixaremos de investigar qual espécie fez o elo de ligação”, explica. Juliana citou dados de um artigo publicado na revista Nature Medicine que afirma não haver evidência genética de que o Sars-Cov-2 tenha sido sintetizado em laboratório. O artigo discute, ainda, duas hipóteses sobre seleção natural em hospedeiro animal e em hospedeiro humano, questões, porém que anda não foram fechadas. “Ainda não temos todas as respostas para questões sobre: como está sendo realizado o diagnóstico, ou seja, a presença do RNA ou de anticorpos determina infecção, doença clínica, posso interpretar isso de outras maneiras? Além da questão viral, devemos avaliar, ainda, se o indivíduo está efetivamente infectado, doente e qual a capacidade de transmissão”, comenta.

“É preciso pensarmos também em todos os outros aspectos associados à pandemia, como a pressão de seleção, a variabilidade genética, capacidade técnica, variáveis ambientais e socioeconômicas”, fala. “Nós, médicos veterinários, temos um papel importante e é necessário nos conscientizarmos que podemos atuar na saúde animal, mas também interferir na saúde humana e no meio ambiente, de forma articulada com demais profissionais e pesquisadores dessas áreas. Temos que conversar e trabalhar juntos”, conclui.

Os vídeos e materiais de apresentação do webinário podem ser acessados aqui. Confira abaixo a apresentação da professora Juliana Galhardo.

 

Texto: Vanessa Amin

Imagens: One Health Brasil/Juliana Galhado