Para indígenas, inauguração do Aldeias Conectadas marca novo tempo na região de Aquidauana

Foi inaugurada ontem, 22, a primeira fase do Aldeias Conectadas, projeto da UFMS que proporcionou a instalação de três torres de radiodifusão para transmissão de internet via rádio, além de dois pontos de acesso wi-fi, beneficiando indígenas de sete aldeias da região de Aquidauana. A iniciativa amplia a conectividade e permite o ensino remoto aos estudantes das localidades, o que para os indígenas marca um novo tempo. Atualmente, pelo menos 200 já são usuários do serviço. A solenidade de inauguração ocorreu na Aldeia Bananal, localizada a quase 70 km de Aquidauana.

Para o reitor Marcelo Turine, a cerimônia de ontem representou grande emoção, pois permitiu estar próximo aos indígenas e ressaltar a eles a importância de manter as atividades acadêmicas e de pesquisa. “A UFMS juntamente com o MEC colocou algumas torres de internet para ter conexão de alta velocidade. Nesse contexto de pandemia, os estudantes podem ter aulas síncronas no nosso ambiente de aprendizagem, graças a uma infraestrutura tecnológica que o Brasil está colocando para eles. Como reitor fico feliz em estar nessa comunidade e ajudando os nossos jovens a sonhar com um Brasil melhor”.

O assessor da Secretaria da Educação Básica do MEC Vilson Alseno Mathes também esteve presente e falou sobre a iniciativa. “O MEC está junto nessas ações e a gente pensa em agregar ainda mais, aumentar a visibilidade e adesão, nessa parte de conectividade que estamos tendo”.

Na avaliação da diretora do Campus de Aquidauana (CPAQ), Ana Graziele Lourenço Toledo, o acesso à internet é fundamental para a continuidade dos estudos. “Ficamos muito felizes em fazer a educação chegar aos indígenas e poder participar de tudo isso. Que venham novas iniciativas como essa”, disse.

A coordenadora do Laboratório de Inteligência Pública da UnB (Universidade de Brasília), Magda de Lima Lúcio, ressaltou que com a conectividade os estudantes não precisam percorrer a distância de 70 km para ter acesso ao conteúdo das aulas. “Assim eles têm acesso às aulas, à educação de qualidade e a todo o universo que a internet pode proporcionar a esses jovens”.

Para a diretora-presidente da Fapec, Nilde Brum, o Aldeias Conectadas representa um momento ímpar para a história da UFMS e do estado. “Durante a pandemia, a Universidade percebeu a necessidade de trazer a informação até as pessoas da comunidade, atendendo-a no contexto global”.

No mesmo contexto, o coordenador da Funai de Aquidauana, Olivar Moreira de Oliveira, disse que os investimentos têm possibilitado a inserção dos indígenas no cenário da educação superior. “Nos entendemos e temos observado essa integração do índio, em decorrência dos investimentos, sobretudo, com a presença da Universidade na região. A Universidade é responsável por educar e profissionalizar centenas de estudantes indígenas. Isso é um avanço importantíssimo para os Terenas da região de Aquidauana”.

O coordenador Municipal de Assuntos Indígenas, Edvaldo Félix, também esteve presente, representando o prefeito de Aquidauana, Odilon Ribeiro.

Inserção

O Aldeias Conectadas beneficia estudantes das aldeias Ipegue, Lagoinha, Água Branca, Bananal, Limão Verde, Colônia Nova e distrito de Taunay.

Para o cacique da Aldeia Bananal, Célio Francelino Fialho, o trabalho integra e insere o indígena na formação superior. “Recebemos o reitor da UFMS, isso é importante porque marca um novo tempo para as comunidades indígenas da região. Marca um tempo de inserção, de abertura de portas para nós dentro da Universidade. É uma gestão acolhedora, participativa”.

A diretora de Inclusão e Integração Estudantil da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes), Luciana Contrera, lembrou que os estudantes estão vinculados a diversos cursos, como ciências biológicas, história, geografia e turismo, não apenas à Licenciatura Indígena. “Então para nós, isso [internet] é um grande sucesso. Poder estar com esses alunos sem interromper as atividades e hoje estarmos presencialmente”.

Segundo o diretor da Agência de Tecnologia da Informação e Comunicação (Agetic), Luciano Gonda, as ações integram o projeto de transformação digital da UFMS. “ No caso específico do Aldeias Conectadas foi um projeto antecipado em virtude da pandemia, porque os alunos indígenas não tinham como acompanhar o ensino remoto. Então, 200 estudantes das sete aldeias estão usando e nós acompanhamos a qualidade do serviço”, disse.

Serviço que permite a troca, o contato entre professore e aluno e otimização de recursos. Esta é a avaliação do professor de Licenciatura Intercultural Indígena no CPAQ Paulo Baltazar, “sair da aldeia demanda transporte, alimentação do próprio estudante”.

Ele acredita que a formação dos indígenas permite algo que vai além da formação intelectual. “Hoje temos caciques graduados, frutos da UFMS, não apenas para atuar como professor, mas também para dirigir uma comunidade. A partir do momento que tem essa graduação, o horizonte amplia, os sonhos aumentam e a tendência é melhorar a comunidade indígena. O curso serve a comunidade, seja na liderança, nas empresas. Como um todo, a educação transforma a sociedade”.

Texto: Christiane Reis

Fotos: Leandro Benites