Guia apresenta orientações para implementação do saneamento seguro em áreas rurais

Ausência ou deficiências no saneamento básico na zona rural submetem essa população a uma margem considerável de vulnerabilidade na área da saúde, com suscetibilidade às enfermidades diante da exposição a patógenos e resíduos perigosos.

Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento SNIS (2018) e a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico IBGE (2017) apontam que 101 milhões de brasileiros não têm acesso ao atendimento do serviço de esgotamento sanitário e apenas 46% da população possui seu esgoto tratado, sendo que 2.211 municípios não possuem rede coletora de esgoto.

Essa realidade preocupante motivou professores da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng) da UFMS a participarem do edital para a produção de materiais inovadores de divulgação técnico-científica de temas de impacto social relacionados aos projetos de pesquisa desenvolvidos nos programas de pós-graduação (PPGs) da UFMS, uma ação da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp) e da Agência de Comunicação Social e Científica (Agecom).

Em breve, será lançado o “Guia para implementação do saneamento seguro em áreas rurais” que tem como proposta apresentar recomendações e boas práticas para cada etapa envolvida na gestão de efluentes domésticos, desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Tecnologias Ambientais.

“O Guia foi inspirado na obra “Catálogo de Soluções Sustentáveis – CataloSan” publicada no ano de 2018, financiada pela Funasa, cuja temática era a gestão de efluentes domésticos. Uma vez que o Brasil é um país com alta representatividade no segmento de insumos do agronegócio, consequentemente aporta número elevado de pessoas que vivem em áreas rurais, no entanto, questões como infraestrutura sanitária não são amplamente discutidos no que tange ao suporte a essa população, sendo assim, soluções sanitárias apropriadas podem contribuir para a redução dos agravos à saúde humana por meio da redução de doenças, bem como colaborar para o meio ambiente”, explica a professora Paula Loureiro Paulo (Faeng), coordenadora do projeto.

Embora a ideia principal seja a implementação em áreas rurais, segundo a professora, o Guia poderá ser aplicado para áreas urbanas, de forma a preconizar o saneamento seguro.

“O objetivo deste Guia é apresentar os riscos inerentes a sistemas de esgotamento sanitário e o aproveitamento de recursos. Traz os grupos e vias de exposição mais comuns, destacando eventos perigosos, principalmente em relação à operação e manutenção, apresentando as principais medidas que podem ser utilizadas como barreiras para evitar o risco de contrair doenças. A intenção do material é alertar e instruir visando à segurança de usuários e técnicos que lidam e/ou estão de alguma maneira expostos. É importante ressaltar que o Guia não apresenta estudos de avaliação de risco, no entanto, traz elementos importantes para definição de cenários para tais estudos”, diz Paula.

O material produzido é resultado da experiência do grupo, também formado pelos professores Marc Árpád Boncz e Nídia Cristiane Yoshida (Faeng), com base em projetos anteriores, financiados pela Funasa, CNPq e Finep.

Os pesquisadores esperam que a obra, a ser lançada em formato digital, possa atender aos interessados na temática, estejam eles em áreas rurais ou urbanas, de forma a auxiliar na implantação dos sistemas ou até mesmo para fins educativos em escolas e universidades.

O Guia trará explicações sobre a melhor forma de consulta do material, como usá-lo (para educadores, líderes comunitários, etc.); conceitos em água, saneamento e higiene; saneamento focado em recurso; riscos eminentes e boas práticas; etapas envolvidas na gestão de efluentes domésticos (interface e tipo, armazenamento transporte, separação sólido e gordura, digestão de matéria orgânica, uso de nutrientes e redução de patógenos, reuso ou destino final) e tecnologias.

Para a coordenadora, “as soluções propostas no Guia servem como suporte no planejamento de sistemas unidomiciliares de tratamento de efluentes, seja para educadores, engenheiros, técnicos e gestores públicos, quanto pela própria comunidade, considerando a segurança do ambiente e das pessoas envolvidas, e também para verificar e garantir a segurança no uso e manutenção de sistemas de saneamento já existentes”.

O projeto não prevê a aplicação do Guia, mas o grupo tem como meta desenvolver um projeto de extensão futuro para aplicação e acompanhamento.

“O Guia fornece todas as ilustrações das tecnologias, grupos e vias de exposição disponíveis para impressão e montagem de materiais de apoio a ações socioeducativas e de planejamento. A sugestão é imprimir em papel resistente, de maneira que os sistemas possam ser montados de diversas formas, identificando-se os eventos perigosos e riscos, os grupos expostos e as vias de exposição”, complementa a professora.

Texto: Paula Pimenta