Estudo une Psicologia e políticas públicas no enfrentamento das desigualdades

Com o propósito de contribuir para uma vida melhor, a ciência psicológica avança no conhecimento das dimensões e inter-relações do ser humano. Nessa linha, o projeto de pesquisa “Políticas públicas e representações sociais sobre o saber, o lugar e o fazer da Psicologia no enfrentamento da desigualdade social e da violência” propõe investigações pertinentes.

“Estamos investigando as políticas sociais, principalmente aquelas que envolvem a assistência social, para analisar as desigualdades sociais e econômicas que desencadeiam condições de vulnerabilidades sociais”, explica a coordenadora do projeto, a professora da Faculdade de Ciências Humanas (Fach) Zaira de Andrade Lopes.

Dessa forma, o projeto busca conhecer, descrever e analisar a inserção da psicologia no Sistema Único de Saúde – SUS e Sistema Único de Assistência Social – SUAS e as implicações e mudanças ocorridas nos últimos 12 anos na formação e na atuação psicológica.

“No estudo serão realizadas interfaces com as diferentes ações pertinentes às políticas públicas no âmbito das desigualdades sociais e econômicas, bem como a identificação e análise das ações e conteúdos desenvolvidos no âmbito da formação de novos psicólogos e psicólogas destinadas à superação das desigualdades. Em especial às desigualdades interseccionadas com o campo das diversidades étnico raciais e de gênero”, afirma a professora.

É nos estágios acadêmicos que o desenvolvimento das atividades de observação dos serviços e registros das demandas geralmente ocorrem, segundo a coordenadora. “Outro foco é orientado para as políticas de enfrentamento as violências, principalmente à de gênero. Para isso temos realizado articulações com os serviços que envolvem as políticas para as mulheres, por exemplo, a Casa da Mulher Brasileira”, completa.

Participam do projeto graduandos em Psicologia (principalmente PIBIC e pesquisas para TCC) e pós-graduandos do Programa de Pós-graduação do Mestrado de Psicologia, além de profissionais da área que atuam na rede de políticas sociais e da saúde.

“Temos o grupo de pesquisa vinculado ao CNPq, o Grupo de estudos e Pesquisa em aspectos psicossociais, históricos, históricos e culturais na constituição da subjetividade – Gepaphcs, que reúne pesquisadoras e pesquisadores que participam dos estudos e pesquisa, e a linha de pesquisa mais conhecida é denominada Genpsi (Gênero e Psicologia) que foca os estudos sobre o enfrentamento à violência, estudos sobre as relações de Gênero, desigualdades sociais, ideologia patriarcal, entre outras temáticas”.

Políticas públicas

Para a professora Zaira, política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados.

“E esses objetivos, com certeza, para mim, devem ser a transformação da sociedade para melhor, para o pleno desenvolvimento humano, da coletividade. Implica enfrentar as desigualdades que trazem sofrimento, exclusões de grupos sociais de determinados espaços sociais, discriminações que impedem o pleno desenvolvimento, a conquista da autonomia e da emancipação humana. A Psicologia frente às políticas públicas deve ter como objetivo a superação dessas condições que geram o sofrimento humano”, expõe.

A proposta é que enfrentem e combatam o racismo, a violência de qualquer natureza, a lgbtfobia, entre outras iniquidades, além de buscar dignidade e cidadania para todos, em especial, os que estão em situações de vulnerabilidades sociais, econômicas, etc.

“Assim, o resultado da pesquisa atingirá a população alvo das políticas sociais, pois pretendemos subsidiar o desenvolvimento de ações e implementação de políticas públicas integradas para a promoção da igualdade e equidade de gênero, raça e etnia, além de fortalecer as iniciativas de estudos e pesquisas na área das relações de gênero, mulheres e diversidades, especialmente na graduação e pós-graduação da Psicologia da UFMS e, por fim, contribuir para a formação de profissionais de Psicologia para atuar nos sistemas de políticas sociais e de saúde”, afirma a coordenadora.

Resultados preliminares

O estudo, até então, revela que o grande e significativo desafio para a Psicologia é superar a representação social de que é uma ciência da clínica psicoterapêutica, de elite e individualizante, aponta a professora.

“A sociedade tem essa representação social da Psicologia, não reconhecem por exemplo o trabalho na área social, comunitária. Os estudos revelam que a Psicologia precisa superar a visão fragmentada. O campo das políticas públicas tem sido o grande empregador de profissionais da área, no entanto, tanto a sociedade como as/os próprias/os ainda não se apropriaram do campo. O trabalho ainda não estabelece, por exemplo na assistência social, uma conexão fluida e significativa com demais profissionais da equipe dos serviços”, argumenta.

A professora lembra que há uma nova diretriz curricular (DCN para os cursos de Psicologia) que foi discutida pela categoria, mas que ainda não estão homologadas, ainda não implantada.

“A ciência psicológica tem produzido estudos sobre a pratica profissional no campo das políticas sociais e da saúde, mas ainda não teve mudanças significativas nos currículos. Assim espero que os resultados obtidos possam trazer novas discussões para a formação profissional, que provoquem transformações na prática, no trabalho desenvolvido. E principalmente cada vez mais a representação social da Psicologia na sociedade ganhe contornos significativos para além do importante trabalho psicoterapêutico clinico, mas ganhe novos representações e desenhos na sociedade”, finaliza.

Texto: Paula Pimenta