Projeto do INQUI vence Desafio em Química Verde e Sustentável na Alemanha

Desenvolvido no Instituto de Química da UFMS, o projeto “Biossurfactantes para Combater Doenças Transmitidas por Mosquitos” foi o vencedor do Desafio em Química Verde e Sustentável da Fundação Elsevier (Elsevier Foundation Green and Sustainable Chemistry Challenge), realizado entre os dias 14 e 17 de maio, em Berlim – Alemanha.

Professor Dênis de Lima (Brasil) e Chioma Blaise Chikere (Nigéria)

Coordenado pelos professores do INQUI Dênis Pires de Lima e Adilson Beatriz, a pesquisa foi defendida na tarde de ontem durante a Conferência de Química Verde e Sustentável. Criada por um comitê das Nações Unidas, a Fundação Elsevier destina esse desafio a projetos de países em desenvolvimento e as propostas compreendem projetos que ainda estão em execução.

Inicialmente selecionado entre os 65 melhores dentre cerca de 700 trabalhos de pesquisa de todo o mundo, o projeto passou ao grupo dos top five e concorreu, nessa fase, ao premio máximo – de 50 mil euros – com pesquisas da Nigéria (que ficou em segundo lugar), França, Colômbia e Índia.

Os cinco representantes dos projetos selecionados tiveram dez minutos para defender suas propostas, que passaram pela avaliação de um júri científico.

 “Os projetos vencedores fazem um trabalho importante demonstrando como a química verde pode ser aplicada não somente em um país e para uma questão específica – mas pode resolver problemas em diversos países e continentes. Reutilizar resíduos da indústria da castanha de caju, como no projeto do Dr. Pires de Lima, é um exemplo brilhante de vasta aplicabilidade, já que a gestão de resíduos é um problema na grande maioria dos campos”, afirmou o professor Klaus Kuemmerer, da Universidade de Luneburgo (Alemanha), presidente do júri científico do desafio.

Durante o evento, o professor Dênis Pires de Lima disse que “o problema das doenças transmitidas pelos mosquitos é resultado de um desequilíbrio ecológico no Brasil e, muitas vezes, a melhor solução vem da própria natureza. O prêmio irá oferecer visibilidade a um projeto simples e escalonável que irá ajudar a melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas no Brasil que lutam contra a Zika”.

As pesquisas com os biossurfactantes são realizadas no Laboratório de Síntese e Transformações de Moléculas Orgânicas – Sintmol (http://sintmol.sites.ufms.br/).  “Estamos muito felizes com o resultado e com o prêmio que nos ajudará a dar continuidade às pesquisas. Na Conferência, o professor Dênis de Lima, que defendeu o projeto em Berlim, foi por duas vezes muito aplaudido de pé pelos conferencistas que estão muito interessados na sustentabilidade”, disse o professor Adilson Beatriz.

O projeto, que já foi anteriormente premiado em feiras internacionais, também tem como pesquisadores participantes a professora Ana Camila Micheletti (INQUI), Rosângela da Silva Lopes (doutorada no INQUI), o mestrando Cléverton Miguel Müller e os professores Maria Rita Marques, Edson dos Anjos dos Santos e Antônio Pancrácio de Souza e Rodrigo Juliano Oliveira.

Aplicabilidade

Além da compra de equipamentos que ajudarão a dar continuidade à pesquisa, o prêmio também será utilizado para a produção de biossurfactantes que serão testados em bairros de Campo Grande.

“Já obtivemos a autorização da Prefeitura de Campo Grande para testar o produto em diversas localidades”, explica o professor Adilson Beatriz.

Atualmente, os pesquisadores realizam estudos sobre a atividade toxicológica – para comprovação de segurança do produto e também estão analisando os compostos isoladamente, para testar a maior/menor atividade larvicida de cada componente.

Pesquisa

Dados na literatura demonstravam que o Líquido da Casca da Castanha de Caju (LCC) tinha uma atividade inseticida. O grande problema era a solubilidade em água. A inovação do projeto de pesquisa do grupo do INQUI foi transformar isso em um detergente solúvel em água.

O biossurfactante (detergente) desenvolvido no INQUI reúne o óleo da casca de castanha de caju com o óleo de mamona para ajudar no efeito surfactante, ou seja para produzir o detergente/sabão.

 “Esses sabões são feitos a partir de recursos renováveis, não há qualquer derivado de petróleo. Usamos os dois óleos e adicionamos hidróxido de sódio”, explica o professor Dênis de Lima.

As pesquisas demonstraram que em 48 horas do depósito do sabão em água há a completa mortalidade das larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a Dengue, Zica e Chikungunya e também da Febre Amarela. Para a ação larvicida são destinados 0,2 mg de sabão para cada litro de água.

Um dos pontos de destaque do biossurfactante, que já teve o depósito de patente solicitado, é o custo, por se tratar de um produto barato.

“Um dos preceitos da química verde é utilizar matéria prima renovável. Outro ponto importante é que esses bioinseticidas, produzidos com matéria prima vegetal, segundo vários autores, têm maior biodegradabilidade no solo, o que não causa um efeito tóxico nem cumulativo na natureza”, explica o professor Dênis de Lima.