Projeto desenvolve sistema para irrigação utilizando energia solar fotovoltaica em Guiné-Bissau

Importante alternativa do sistema de produção agrícola em Guiné-Bissau, a agricultura familiar precisa de apoio para superar a falta de infraestrutura e a pobreza imperante nos meios rurais.

Para ajudar a melhorar e transformar essa realidade, a UFMS, por meio da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng), e a Instituição Guineense IBAP – Instituto da Biodiversidade e das áreas Protegidas estão desenvolvendo o projeto “Desenvolvimento de Sistema de Bombeamento de Água Utilizando Energia Solar Fotovoltaica para Irrigação em Agricultura Familiar em Guiné Bissau”.

Os recursos são do CNPq por meio do Programa de Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação com Países da África – Pró-África, que teve 229 candidatos inscritos e 21 selecionados, entre eles o da Faeng.

A proposta é desenvolver um sistema de bombeamento de água utilizando energia solar fotovoltaica para irrigação na agricultura familiar e instalar um projeto piloto in loco na região.

De acordo com o coordenador do projeto, professor João Onofre Pereira Pinto, da Faeng, o grupo envolvido trabalha para desenvolver, com baixo custo, tecnologia que propicie autonomia e independência na implantação do sistema de irrigação, tendo como preocupação a questão ambiental na captação da água.

Projeto

O trabalho que está sendo feito foi apresentado no início do mês durante a palestra “Energia Solar para Irrigação na África: Projeto Multidisciplinar Engenharia e Arquitetura”, ministrada pelo professor João Onofre (Engenharia Elétrica), professora Andrea Naguissa Yuba (Arquitetura e Urbanismo) e os guineenses Leonildo Alves Cardoso, Sadjo Danfa e Antonio da Silva, do Instituto da Biodiversidade e das áreas Protegidas (IBAP).

O projeto piloto está sendo desenvolvido em uma área de 0,8 hectares do comunidade de Campada Maria, no Parque Natural de Tarrafe de Cacheu, região   norte de São Domingos, em um grupo de mulheres que trabalham com a agricultura familiar, e que são bastante exigidas fisicamente por terem de puxar água dos poços com a mão para a irrigação da horta.

“Vamos fazer o projeto piloto para provar que funciona, para que depois possa ser reproduzido em outras comunidades de Guiné-Bissau e outros países da África”, diz o professor.

João Onofre destaca que o projeto está alinhado a um conceito de tecnologia social que tem como premissa utilizar o que há de disponível no local para resolver o problema da comunidade.

“A proposta é utilizar material, mão de obra, e tecnologia local, por isso fizemos uma primeira visita técnica para ver o que havia disponível lá. Queremos garantir que o projeto tenha perenidade, assim, procuramos trabalhar com o mínimo de material que precise ser importado”, expõe o coordenador.

O uso da energia solar fotovoltaica se mostrou muito interessante para a região, já que a época de maior demanda de água é também a época de maior radiação solar.

Depois de identificado o problema, os participantes do projeto multidisciplinar estão trabalhando no protótipo. Ao todo serão implantados sistema de bombeamento solar, torre de reservatório, feita a partir de adobe – bloco abundante na região, e sistema de irrigação.

“Nós desenvolvemos o modelo do Adobe no BatLab. Os alunos de Arquitetura ajudaram a confeccionar os blocos para um protótipo de 5 a 6 metros terminados e estamos trabalhando com um reservatório de água de plástico que ficará localizado dentro dessa estrutura”, relatou a professora Andrea Yuba.

Para Antonio da Silva, do IBAP, o projeto vem num momento certo. “Onde o projeto vai ser implementado é uma região complicada, onde se manifesta a pobreza e a camada mais vulnerável é formada pelas mulheres que estão fazendo de tudo, mas faltam recursos, meios. Elas tentam buscar soluções para melhoria de vida de suas famílias, mas vivem no interior do Parque e há limitações, com acesso a alguns recursos limitados. Por isso, estamos sempre buscando alternativas para ajudá-las, com projetos que gerem receita e garantam a segurança alimentar dessa comunidade”, diz.

Ele destaca que essa comunidade – de cerca de cem mulheres, há anos está a trabalhar com a horta e passa por dificuldade enorme, no que concerne o abastecimento da água. “O esforço despendido é enorme, assim como o tempo que elas levam nessa atividade. Esse tempo poderia ser utilizado em outra atividade, para gerar mais renda”, coloca Antônio.

Leonildo Alves Cardoso afirma que a parceria com a Universidade é de grande importância. “Há dois componentes fundamentais: o científico e o de extensão, que é a transferência de tecnologia. Reunimos o útil e o agradável. Porque os professores/pesquisadores estão ensinando, levando a tecnologia e fazendo a transferência dessa tecnologia, são vocacionados para isso”, afirma.

O grupo guineense destaca o envolvimento de diferentes estruturas da Universidade, com o envolvimento de profissionais de diversos cursos, entre eles Engenharia Elétrica, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Ecologia.

“Gostaríamos muito que essa possibilidade de intercâmbio de capacitação não terminasse somente nesse projeto da horta, mas que avançasse mais, principalmente nessa parte de conhecimento. Basicamente temos o mesmo clima, então não teríamos dificuldade de adaptar à nossa realidade”, expôs Leonildo.