Pesquisadoras cobriram diversas vertentes relacionadas às plantas alimentícias nativas na SBPC

A importância da diversidade cultural e diversificação alimentar, a valorização do conhecimento tradicional das populações associado ao conhecimento científico para a retomada e desenvolvimento das plantas nativas e o estímulo a relações sociais livres de desigualdades entre homens e mulheres, classes sociais, povos e gerações, foram alguns dos temas abordados ontem (24) na 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A mesa-redonda “Como conservar as plantas alimentícias nativas e fortalecer o desenvolvimento local” contou com as palestrantes Ieda Maria Bortolotto da UFMS, Fernanda Savicki de Almeida da Fiocruz e Nathália Eberhardt Ziolkowski da Ecologia e Ação ECOA.

Segundo dados das Nações Unidas apresentados pela professora Ieda, a fome e a insegurança alimentar estão em ascensão no mundo. Em 2015 o número de pessoas que sofriam com a fome era 777 milhões, em 2016 subiu para 804 milhões e em 2018 para 820 milhões. Na América Latina esse número chega a 9,8 milhões. “As plantas alimentícias nativas representam uma fonte muito importante para se combater a fome, valorizar as culturas e ainda promover o desenvolvimento por meio do incentivo à produção”, disse.

Fernanda destacou que “muitas vezes as plantas nativas são colocadas de lado pela população, mas são espécies que têm melhor valor nutricional e que certamente não têm contaminação ou intoxicação. Isso porque são locais e geralmente não precisam de agrotóxicos”. Ela impressionou os participantes com uma informação dos pesquisadores Bruno Machado Teles Walter, José Francisco Montenegro Valls, Luciano de Bem Bianchetti e Taciana Cavalcanti: trinta espécies seriam responsáveis por 95% de toda alimentação humana, sendo 75% advindas do cultivo de apenas sete: milho, batata, batata-doce, mandioca, cevada, arroz e trigo. “A padronização alimentar limita nossa cultura, comemos o mesmo que pessoas na Inglaterra ou Japão. Além de perdermos um rico conhecimento tradicional perdemos no que tange ao valor nutricional”, reafirmou.

Nathália lembrou que “as espécies nativas de maneira geral são muito importantes também para a manutenção dos ecossistemas e que justamente o uso desses frutos contribui para a preservação porque à medida que as comunidades utilizam promovem o replantio”, disse.

Experiências realizadas por pesquisadores da UFMS no programa de extensão “Valorização de plantas alimentícias do Pantanal e do Cerrado” e da ECOA foram apresentadas. “Dentro do programa da Universidade já foram e ainda são realizadas diversas pesquisas e ações de extensão junto a comunidades tradicionais e locais de MS. Realizamos cursos, participamos de palestras e treinamentos, sempre promovendo o conhecimento e a capacitação em prol do uso e valorização dos frutos nativos. Além disso, com a participação de alunos de graduação e pós-graduação, temos promovido a formação de profissionais capacitados nessa temática”, explicou Ieda.

“A ECOA também realiza um trabalho com grupos de mulheres de comunidades tradicionais, locais e assentamentos rurais que produzem e utilizam diversos frutos nativos como o baru, a bocaiuva e a laranjinha-de-pacu. Inclusive foi constituída a Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal (CERRAPAN). É interessante que nesse processo de produção e articulação de cadeias produtivas elas estão também se fortalecendo nos territórios, porque há muitos conflitos territoriais aqui no nosso estado e é uma forma de elas se manterem e dizerem da importância de estarem ali nesses espaços para a conservação e para a manutenção também das suas histórias”, finalizou Nathália.

 

Texto e fotos: Ariane Comineti