Pesquisa estuda a história rural e povos originários entre o sul e o norte de MT entre os séculos XVIII e XIX

“Pobres livres, escravos e povos originários: trabalho, cultura, violência e resistência do sul ao norte de Mato Grosso” é o título da pesquisa realizada no curso de História do Câmpus de Três LLagoas. A proposta é estudar esses grupos com relação às suas ações de trabalho, cultura e formas de resistência pelos caminhos, fronteiras, fortificações, aldeamentos, sítios e fazendas, entre o  norte e o sul de Mato Grosso, especialmente pelos caminhos monçoeiros (entre os séculos XVIII e começo do XIX), e pelas roças encontradas nas vias que ligavam Sant’Anna do Paranahyba a Cuiabá.

“A pesquisa tem o olhar para a história rural na região de Sant’Anna do Paranahyba, no sul de Mato Grosso, e os percursos que a ligavam até Cuiabá. Formas de resistência desses homens e mulheres e o uso da violência pelos aparatos públicos e privados também são foco da pesquisa, especialmente no mundo rural”, explica a coordenadora da pesquisa, a professora de História do CPTL Maria Celma Borges.

No último mês de junho, a professora esteve no Congresso Internacional: “Transrural History – XVI Congreso de Historia Agraria-SEHA # VII Encontro Rural – Transiciones en la agricultura y la sociedad rural. Los desafios globales de la historia rural.  XVI SEHA  e VII RuralReport” em Santiago de Compostela (Espanha), onde apresentou o tema “Por entre caminhos e quilombos: escravizados, pobres e livres e povos originários na história rural de Mato Grosso (séculos XVIII e XIX)”.

Iniciado em 2009, o projeto de pesquisa foi aprovado pela Fundect. Os pesquisadores tiveram acesso às fontes no Arquivo Público de Mato Grosso, a partir de Correspondências Oficiais, e no Arquivo do Tribunal de Justiça, em Campo Grande, para análise de processos criminais e inventários. O projeto de pesquisa terá continuidade até 2023, tendo participação de acadêmicos por meio das iniciações científicas e também, em outros momentos, por meio da bolsa permanência. A professora integra ainda o grupo Rede Proprietas, de INCT, coordenado pela professora Márcia Maria Menendes Motta, da Universidade Federal Fluminense.

Observa a professora que: “A pesquisa é importante porque trabalha com temporalidades remotas (séculos XVIII e XIX), com enfoque para a história rural da América portuguesa e o Brasil Império. Por meio da iniciação científica temos possibilitado que os acadêmicos aprofundem suas pesquisas e tenham acesso a fontes que só teriam contato, costumeiramente, na pós-graduação. Muitos alunos têm dado continuidade à pesquisa, por meio da pós-graduação, e contribuído para que, ao menos, parte da história rural do sul de Mato Grosso seja conhecida, especialmente no que diz respeito aos pobres da terra: escravos, pobres e livres e povos originários”.

Quanto aos povos originários, os pesquisadores estão centrados no estudo dos Cayapó por serem esses povos, em sua maioria, encontrados pelos caminhos, destacamentos, aldeamentos e roças no contexto do XIX e ainda no XVIII, no percurso que ligava Sant’Anna do Paranahyba ao norte de Mato Grosso, explica a pesquisadora, que também encontrou os coroados, especialmente na estrada de Goiás, apesar de não serem o foco de pesquisa.

“Em relação aos escravos temos trabalhado processos criminais e inventários que possibilitam a compreensão desses agentes sociais na constituição da história do sul de Mato Grosso. A parte das testemunhas nos processos crime é bastante reveladora de como viviam esses agentes sociais naquele contexto. Em relação aos pobres e livres, por meio de obras de sertanistas, a exemplo das “Derrotas”, de Joaquim Francisco Lopes, temos encontrado seus vestígios, seu trabalho e seu modo de vida’, relata Maria Celma Borges.

Outra questão que se associa ao trabalho, cultura e resistência desses diferentes grupos está  no encontro das roças, sendo na busca dessa história rural do sul de Mato Grosso que os pesquisadores encontram indícios da presença desses homens e mulheres. “Nesta perspectiva, falar dos roceiros e de suas roças no norte e sul de Mato Grosso, desde o percurso das monções nos séculos XVIII e nas primeiras duas décadas do XIX, e as dificuldades para a sua existência, ajuda a entender o porquê ainda em nosso tempo é preciso proclamar em alto e bom tom que o campesinato existe e é ele quem produz os alimentos que chegam cotidianamente às nossas mesas”, completa.

Texto: Paula Silveira