Equipe multidisciplinar mensura a pegada de carbono nas exportações de carne bovina do MS

Mensurar a pegada de carbono da cadeia de suprimentos para exportações de carne bovina do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da metodologia de avaliação do ciclo de vida, será o desafio de uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da UFMS e outras instituições.

Os dados serão analisados desde a fase de produção agrícola e processamento no Estado de Mato Grosso do Sul, até o transporte e a entrega nos três principais portos destinos de exportação: Rotterdam na Holanda, Shangai na China e São Petersburgo na Rússia.

“Apesar de o Brasil ser o maior exportador mundial de carne bovina em volume, enfrenta longas distâncias para entrega nos principais destinos de exportação, quando comparado a outros exportadores como Estados Unidos na venda ao mercado europeu e Índia e Austrália para o mercado asiático. Na maioria dos produtos alimentares, longas distâncias até o mercado de consumo são responsáveis pela maioria das emissões de carbono e isto pode ser considerado como um fator negativo para exportações brasileiras de carne bovina”, explica o professor do Câmpus de Paranaíba e coordenador da pesquisa Thiago José Florindo.

Apesar disso, completa o professor, o fato de a produção animal ser realizada exclusivamente a pasto no sistema avaliado, leva ao cômputo do potencial de sequestro de carbono orgânico das pastagens, o que pode reduzir significativamente as emissões por animal produzido ou mesmo neutralizar. “Dessa forma, quantificar a pegada de carbono de toda a cadeia de produção irá possibilitar determinar todo o impacto resultante, qual a representatividade do impacto da distância a ser percorrida e possíveis pontos de melhorias no sistema”, diz.

Alguns países com maior consciência ambiental, principalmente no norte da Europa como Suécia, Noruega e Dinamarca já possuem determinadas restrições quanto ao uso do solo e pegada de carbono para carne bovina, explica o pesquisador.

“Produtos com baixa pegada de carbono ou mesmo, pegada negativa, quando o processo de produção absorve mais emissões de gás de efeito estufa (GEE) do que emite, possuem mercados e preços diferenciados”, expõe.

A pecuária é uma das principais fontes de GEE no mundo, contribuindo para aproximadamente 15% do total das emissões globais. No Brasil, estudos realizados na fase de produção animal apontaram que as emissões de gás de efeito estufa podem variar entre 10 kg a 40 kg de CO2 equivalente por quilo de peso vivo animal, algo entre  5 a 20 toneladas equivalentes em COpara produção animal.

Em 2016, o Brasil exportou 1,85 milhões de toneladas equivalente em carcaça. Mato Grosso do Sul é o 6º estado no ranking das exportações brasileiras, tendo sido responsável, no primeiro trimestre de 2017, por 9,2% do total das exportações brasileiras no período, com 32,9 mil toneladas.

Mensuração

A mensuração da pegada de carbono será realizada utilizando a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ISO 14040). Segundo o coordenador, essa é uma metodologia amplamente utilizada para avaliar externalidades resultantes de processos produtivos ou produtos, considerando todo o ciclo de vida de produção.

A metodologia pode ser dividida em três fases: elaboração do inventário, atribuição de impacto e interpretação dos resultados.

“Elaboração do inventário consiste em determinar todas as entradas do sistema de produção para uma unidade física, que neste caso será um quilo de peso vivo animal. Atribuição de impacto é a conversão das emissões de gás de efeito estufa (GEE) em potencial de mudanças climáticas, utilizando padrões do International Panel of Climate Change (IPCC). Já na fase de interpretação, são analisados possíveis pontos de melhorias no sistema”, expõe o professor.

Para esse projeto serão consideradas as atividades resultantes desde o fornecimento de insumos para produção animal até a entrega da carne bovina nos principais portos de destino.

Na fase de produção animal (fazenda) consideram-se os insumos necessários para produção de um animal até atingir o peso de abate (rações, medicamentos, diesel, fertilizantes, energia, etc.) e emissões resultantes de processos biológicos dos animais, como fermentação entérica, urina e dejetos.

Nessa pesquisa, os dados da fase de produção animal são oriundos de uma propriedade rural localizada no município de Iguatemi, com média de produção de 400 animais durante oito anos. Os animais são cruzamento das raças Nelore e Abberden Angus, com abate aos 36 meses de idade e 570 kg de peso vivo. A alimentação é exclusivamente de pastagens (brachiaria brizantha marandú e brachiaria brizanta xaraés) e suplementação mineral.

Com o animal pronto para abate, são contabilizadas as emissões de GEE resultantes do transporte de animais vivos até o frigorífico para abate, abate e processamento dos animais e transporte refrigerado até o Porto de Santos para exportação. A partir daí,  consideram-se os principais portos de destino, localizados na Holanda, Rússia e China.

“Ao fim, todas as emissões são convertidas em equivalência em CO2 por quilo de carne desossada entregue nos três portos considerados”, afirma o professor.

A pesquisa abrange dados primários e secundários, sendo os primeiros da fase de produção animal, coletados diretamente na propriedade rural.

Os secundários são utilizados para compor o inventário, referentes aos processos de transporte, processamento animal e atribuição de impacto, sendo as principais bases utilizadas o Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV Brasil), Ecoinvent e IPCC.

Também irão participar da pesquisa Giovanna I. Bom de Medeiros, Administradora, Doutoranda em Agronegócios – UFRGS, Clandio Favarini Ruviaro, Zootecnista, Doutor em Agronegócios, UFGD, Cristiane Maria de Léis, Bióloga, Doutora em Engenharia Sanitária, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade Internacional da Flórida – EUA (FIU), Luiz Kulay, Engenheiro Químico, Doutor em Engenharia Química, POLI – USP, Andrea Troller Pinto, Médica Veterinária, Doutora em Tecnologia de Alimentos, UFRGS e Glauco Schultz, Engenheiro Agrícola, Doutor em Agronegócios, UFRGS.