Fonte: Nature

Artigo publicado na Nature alerta para impacto nos vertebrados com criação de bordas florestais

Responder como o efeito de borda afeta os vertebrados que são dependentes de floresta foi a proposta do artigo “Creation of forest edges has a global impact on forest vertebrates”, recentemente publicado na Revista Nature, uma das mais importantes publicações na área científica.

Tendo entre os autores o professor do Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS Danilo Bandini Ribeiro, o artigo revela que a criação de bordas florestais tem impacto global nos vertebrados que vivem em florestas, sendo que as abundâncias de 85% das espécies analisadas – 1.673 no total – são afetadas, positivamente ou negativamente, pelas bordas da floresta.

“A maioria das espécies são afetadas e como existe uma grande tendência no mundo de se perder floresta, então é preocupante”, analisa o professor que atua no Laboratório de Ecologia do Inbio e é ligado aos Programas de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação e também de Biologia Animal, ambos da UFMS, e é professor da graduação nos curso de Biologia e Zootecnia.

Danilo Ribeiro tem como principal linha de pesquisa a conservação da biodiversidade em diversos aspectos e trabalha com este tema em muitas abordagens, com diferentes escalas espaciais e utilizando diferentes organismos como modelo biológico. “O Laboratório de Ecologia está aberto para os alunos que se interessam pelo tema de conservação e tiverem interesse em aprofundar seus estudos na área”, afirma o professor.

Efeito de borda

Quando por algum motivo a floresta é transformada em outro tipo de cobertura vegetal, como pasto ou campo, apresentam-se dois efeitos: diminuição da quantidade de floresta naquele local e a floresta, que era um bloco único, se torna mais pedaços, ou seja, fragmentos.

Com a fragmentação, há o aumento do efeito de borda. Enquanto no interior de uma floresta é sempre mais úmido, frio ou fresco, escuro/sombreado, porque as árvores filtram a luz, e mais protegido do vento, na borda da floresta o clima é mais quente, seco, além de ser mais claro.

“Isso é o efeito de borda: quando as características de outro ambiente penetram na floresta até uma certa distância. Se eu pegar de um limite de uma floresta e contar 50 metros para dentro e depois pegar outro ponto que está a mil metros do limite, as características serão diferentes”, explica o professor Danilo.

Por isso o artigo se propôs a responder como esse efeito de borda afeta os vertebrados que são dependentes dessas florestas. “No teste verificamos se a abundância desses organismos mudava em relação ao efeito de borda, se em um ponto havia efeito mais forte e em outro mais fraco”.

Para que os pesquisadores chegassem a essas conclusões, foram analisados 22 pontos distribuídos ao redor do globo – locais onde os dados eram adequados para o teste; desses dois estão localizados na Mata Atlântica e três na Amazônia.

Os dados são provenientes de pesquisas prévias, até então não sistematizados e que foram compilados em um grande banco de dados de fragmentação, o BIOFRAG, que congrega centenas de pesquisadores do mundo inteiro.

Ao demostrar que para 85% das espécies há o efeito positivo ou negativo, os números tratam do ponto de vista matemático, com aumento ou diminuição do número de indivíduos perto da borda.

“Quando comparamos, por exemplo, dois quadrados de mil hectares, onde há efeito de borda mais fraco, haverá mais indivíduos de certas espécies do que naquele onde há o efeito de borda mais forte. Isso acontece por uma série de fatores como natalidade diminuída, mortalidade aumentada, suscetibilidade maior de doenças na região ou até por efeito de migração – por não ser uma ambiente tão bom, muitos vão embora procurar ambientes melhores. São muitos os possíveis efeitos que levam o aumento ou a diminuição desses organismos”, completa o professor.

As análises mostram que o que sobrou de floresta de verdade é menos do que se consegue ver no mapa, porque o ambiente mais ideal da floresta para a maior parte dos animais está mais próximo ao seu núcleo e longe da borda.

“Vimos que em média esses animais sofrem com um efeito de borda a uma distância aproximada de 100 a 400 metros – local que não é ótimo para eles habitarem. Para outros organismos temos uma distância maior ainda, podendo chegar a um quilômetro, no limite conhecido”, diz Danilo.

Os dados são preocupantes porque 20% dos remanescentes florestais do mundo estão a apenas cem metros da borda. Quando do centro do fragmento até a borda se tem 500 metros, abrange-se 50% das florestas do globo. Já com um quilômetro estão 70% de todas as florestas.

Ou seja, com isso chega-se ao pequeno percentual de apenas 30% das florestas tendo seu núcleo há mais de mil metros da borda.

Fragilização dos animais

As análises também apontaram o tamanho das espécies mais fragilizadas pela fragmentação, o que está relacionado às suas biologias.

No caso dos anfíbios, quanto maior for, menos será afetado pelo efeito de borda. Como perdem muita umidade pela pele, o pequeno na borda vai ressecar muito rápido e vai acabar morrendo.

Com volume maior para uma menor área por superfície, o anfíbio maior perde umidade mais devagar, então aguenta mais a borda. Com os répteis é exatamente o contrário e tem a ver com a termo regulação.

“Se olharmos nos mapas, a maioria das florestas está em região tropical. Quanto maior para um réptil, mais difícil vai ser para ele perder calor, então irá sofrer com o aumento da temperatura na borda”, afirma o pesquisador.

Entre os mamíferos, os de tamanho médio são os mais afetados. Se é bem pequeno, consegue mais fácil alimentos em um ambiente que não é o ideal e precisa de menos energia para se reproduzir. Quando grande tem uma capacidade de locomoção muito boa, então consegue ir longe procurar alimentos e um local ideal para se acasalar.

“Os de tamanho médio são um pouco maiores, mas não têm tanta mobilidade, precisam de muita energia, porque são relativamente grandes, mas não conseguem andar tão facilmente como os maiores. Os mamíferos voadores – morcegos – têm uma sensibilidade menor em relação a borda do que os outros de tamanho similar. Para as aves não há relação com o tamanho”, completa.