Artistas são homenageados com título Honoris Causa

Na noite desta segunda-feira (22), o reitor Marcelo Turine e a vice-reitora Camila Ítavo entregaram o título de Honoris Causa a três artistas de Mato Grosso do Sul: Almir Sater, Isaac de Oliveira e Humberto Espíndola. “Em uma iniciativa inédita, homenageamos esses três expoentes do nosso Estado, por sua imensa contribuição à música nacional e regional e dedicação à produção artística relevante não somente para a formação como para a constituição da cultura regional e que se destacaram  internacionalmente”, disse o reitor.

A cerimônia foi realizada no Teatro Glauce Rocha e contou com a participação de autoridades, entre elas o secretário de educação superior Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, representando o ministro da Educação, o vereador Eduardo Romero, Zito Ferrari, representando a Fundação de Cultura, artistas regionais como Paulo Simões, Guilherme Cruz, Rodrigo Teixeira, Jerry Espíndola, Rodrigo Sater, além de professores, acadêmicos e familiares dos homenageados.

“Almir é um artesão que combina sons e palavras, cada qual com seus léxicos e gramáticas próprias e, agora, é um doutor em sua arte, mesmo não pertencendo à academia. Suas canções são legítimos e belíssimos pedacinhos da realidade. Almir é um poeta da canção, um violeiro que bebeu da boca do seu instrumento, temperado com cheiros e sabores dos corixos e frutos do Pantanal. Um artista de Campo Grande, que conhece bem as cidades do litoral brasileiro e os grandes shows, mas nem por isso deixou seu sotaque sul-mato-grossense. Tenho o orgulho de afirmar que a UFMS acertou ao resolver conceder o título de Honoris Causa a um dos maiores artistas de nossa terra”, disse o pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte, Marcelo Fernandes, proponente do título a Sater.

Para Almir Sater, a homenagem foi algo inesperado. “Agradeço à universidade, ao reitor, professor Marcelo, funcionários, acadêmicos. É muito emocionante. Comecei fazendo Direito, na década de 70, no Rio de Janeiro. Depois voltei para Campo Grande, fiz um ano de Educação Física, aqui nessa Universidade. Mas, meu negócio era tocar. Sempre quis tocar. Tive a oportunidade de conhecer grandes violeiros, mas também conheci aqueles que são anônimos e aprendi muito com eles. Todo violeiro tem alguma coisa a acrescentar. Acho que o que pude acrescentar à viola caipira foi esse nosso toque ligado a essa latinidade da nossa região de fronteira, trouxe um pouco desse som e acho que contribui um pouco também para a nossa escola de viola. Tudo que tenho, tudo que consegui devo à viola caipira, inclusive essa linda homenagem”, falou Almir.

“Esse é um dia para não ser esquecido. Humberto Espíndola, seja pela força de suas pinceladas, temáticas, instalações artísticas, inteligência poética, estética, em suas ações como gestor cultural, apresentou para o mundo uma região então desconhecida, fazendo com que a crítica de arte olhasse para o nosso centro-oeste. Sua arte ativa nossos sentidos humanos e sensoriais, como tato, olfato, e nos desafia a ver o mundo sob novos horizontes, colocam-nos em diálogo direto com questões contemporâneas. Com esse título reconhecemos e enaltecemos a vida e a obra do artista plástico Humberto Espíndola, campo-grandense e cidadão do mundo”, destacou a diretora da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação, Vera Lúcia Penzo, proponente do título a Espíndola.

Em um depoimento emocionado, Espíndola disse considerar o título de Honoris Causa a maior premiação que recebeu em toda carreira. “Em 1962, quando fui estudar Jornalismo em Curitiba, já me sentia artista. Mas a paixão pela pintura foi o professor Carlo Barontini, de História da Arte. Em 1966, com a primeira coletânea de pinturas de artistas sul-mato-grossenses, vivemos o início daquele que seria, talvez, o último grande movimento plástico nos moldes dos velhos meios de comunicação e conseguimos introduzir nossa região no cenário nacional de artes. Logo que recebi a notícia que seria doutorado por essa Universidade, cuja implantação vivi e pude sentir a força cultural que aqui se abrigaria, pensei, teria sentido o coroamento de uma vida? Pensei, sim! Esse título confirma a vocação natural de nossa terra pela arte em suas diversas manifestações. O sentimento do saber e da sensibilidade para o belo e a reflexão cultural na nossa sociedade, livra-nos dos riscos de retrocesso”, relatou.

“Ao conceder o título a esse brilhante artista, demonstra importante reconhecimento e a relevante contribuição que tem dado para a caracterização e consolidação da nossa cultura. Trata-se de uma justa homenagem, pois Isaac é um ícone da cultura em nosso estado, em um momento muito especial para todos nós, quando celebramos os 40 anos de federalização da nossa universidade. Para mim foi uma grande honra ter feito a indicação desse expressivo artista. Sua trajetória é inspiradora, não somente pela sua atuação, mas pela sua figura mágica, retratando em suas telas as maravilhas da nossa flora, da nossa fauna do Pantanal. Ele retrata com extrema leveza as cores do nosso céu, de nossas plantas, replicando suas expressões pessoais. Destacamos em sua arte a floração dos ipês que se manifesta por uma explosão de cores e beleza radiante, encantando a todos. Parabéns Isaac, por agora fazer parte da história da UFMS “, disse o diretor do campus de Aquidauana, Auri Frubel, proponente do título a Isaac.

Isaac disse que recebeu com muita alegria a indicação do seu nome e agradeceu a todos os componentes do Conselho Universitário. “Um título de doutor Honoris Causa é muito especial. Sou extremamente grato por receber, é, sinceramente uma honra para mim. O mundo acadêmico, a produção do conhecimento, das pesquisas, encontram-se em muitos pontos com minha motivação na escolha dos registros das flores, das árvores, dos animais e na convivência com o regional. Todos buscamos criar sentidos no exercício de enxergar de forma abstrata a realidade. Quando crio uma nova tela, crio uma relação entre figuras, motivos e cores, pássaros, peixes, flores, ipês, frutas, que são captados pela luminosidade que irradia no Mato Grosso do Sul e que vem ao encontro com a minha identificação com as cores. Gosto das cores e uso-as com propriedade particular, não tenho medo delas”, falou Oliveira.

Em seu discurso, o reitor Marcelo Turine se disse honrado e feliz por presidir a sessão e poder reconhecer três grandes personalidades e cidadãos que dedicaram sua vida à arte, à cultura, tão  importantes. “Cumprimento todos os nossos conselheiros do COUN por aceitarem o desafio de, nesses 40 anos de Universidade, reconhecer não apenas teóricos, cientistas, mas reconhecer cientistas da arte e cultura de nosso estado. Agradeço também aos professores, servidores e estudantes, que são a nossa razão de ser da nossa instituição. Agradeço a todo nosso time, pois sozinhos não somos nada. E, claro, agradeço aos homenageados dessa noite, que, com sua presença, transferem um pouco do seu brilho para nossa casa”, destacou.

Durante a sessão solene, foram realizadas apresentações culturais dos coros Pciu, feminino e da Unapi, da Camerata Madeiras Dedilhadas e do pró-reitor da Proece e violonista Marcelo Fernandes.

 

Texto e fotos: Vanessa Amin