Fotos: Francisco Valente Neto

Artigo publicado na Hydrobiologia mostra importância de riachos intermitentes na conservação da biodiversidade aquática

Baixa pluviosidade, interrupção do fornecimento de água subterrânea e tipo de solo são fatores que provocam a seca, durante uma parte do ano, dos riachos chamados de intermitentes.

Num primeiro momento, o sistema pode até parecer desimportante em período de seca, pois a água não flui e a biodiversidade aquática ali parece bem pequena e reduzida a pequenas poças desconectadas.

Mas muitos estudos têm mostrado que rios e riachos intermitentes constituem quase 50% dos sistemas lóticos globais e fornecem serviços ecossistêmicos como provisão e purificação de água, estoque de carbono e ciclagem de nutrientes.

Nessa linha, estudo conduzido pelo pós-doutorando no Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC) Francisco Valente Neto em colaboração com o docente da UFMS Fábio de Oliveira Roque, o professor da University of Georgia Alan P Covich e o aluno de doutorado Fábio Henrique da Silva analisou uma rede hidrográfica localizada em Bodoquena, em Mato Grosso do Sul.

O grupo publicou artigo na Hydrobiologia, International Journal of Aquatic Sciences, mostrando a importância de riachos intermitentes para a conservação da biodiversidade aquática.

O trabalho está inserido também no Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no projeto de pesquisa “Mudanças climáticas e no uso do solo: em direção ao entendimento dos efeitos antrópicos e do aumento de temperatura na biodiversidade do Pantanal”, coordenado pelo PPGEC da UFMS.

Bodoquena

A rede hidrográfica do rio Betione, município de Bodoquena, apresenta riachos perenes (que nunca secam) e intermitentes. Em campo, os autores coletaram insetos aquáticos em 12 riachos intermitentes e 34 riachos perenes no mês de setembro de 2013, final do período de seca.

“Nessa época, os riachos intermitentes não possuem fluxo de água, mas mantém poças isoladas com água, onde foram amostrados os insetos aquáticos”, explica Francisco.

Os autores mapearam nesse sistema a quantidade de espécies e a singularidade da composição de espécies. “Quanto mais singular um riacho, mais diferente é a composição de espécies em relação a todos os outros riachos amostrados na rede hidrográfica. Ao contrário, riachos menos singulares são muito parecidos com os outros riachos amostrados na rede hidrográfica”, expõe Francisco.

Os estudos permitiram encontrar achados interessantes: riachos intermitentes são mais singulares e possuem menor riqueza que riachos perenes.

“Isso quer dizer que, apesar de ter um menor número de espécies em riachos intermitentes, o conjunto de espécies que está presente nesses riachos é mais único. Esse resultado foi explicado pela variação na condutividade elétrica da água e pela intermitência dos riachos”, diz Francisco.

Entre os grupos que conferiram essa singularidade aos riachos intermitentes, os autores destacaram espécies de besouros aquáticos, mosquitos e libélulas que possuem adaptações para abrigar ambientes de água parada (lênticos) ou possuem boa capacidade de dispersão.

Resultados

Dessa forma, o estudo mostrou que a manutenção desses riachos intermitentes é fundamental para manter a diversidade de espécies na região. “Esses riachos intermitentes são ótimos alvos para ações de conservação e manutenção da integridade desses sistemas, incluindo a dinâmica temporal”, completa Fabio.

Em artigo, os autores recomendaram ações de conservação em riachos intermitentes, incluindo a detecção e mapeamento de córregos com alta singularidade e baixa riqueza de espécies; a definição de alvos para conservas córregos intermitentes usando ferramentas de otimização; incentivos e pagamentos por serviços ambientais a produtores que mantiverem a integridade desses sistemas; educação dos proprietários e população sobre os serviços ecossistêmicos que córregos intermitentes fornecem a sociedade, incluindo sua alta singularidade de composição comparada a riachos perenes.

“Apesar da ausência de fluxo no período de seca, que pode passar uma ideia de baixa diversidade, riachos intermitentes possuem um conjunto de espécies singulares e são fundamentais para a manutenção da diversidade regional”, finaliza o pós-doutorando Francisco.

Link para o artigo: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10750-019-04125-9

Texto: Paula Pimenta